sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

História da Prostituição em Todos os Povos do Mundo. Pedro Dufour. «Por mais severo que se mostrasse Moysés, nem por isso o mau exemplo deixou de ser seguido, e uma multidão de superstições obscenas ficaram incarnadas nos costumes hebreus. Mesmo destruindo os altares de Baal e de Moloch, onde se levavam as impúdicas oferendas»

Cortesia de libraryuniversityoftoronto

NOTA: Texto na versão original

«Como se vê, Moysés não se occupava somente de moralisar os israelitas, pretendia também destruir os germens das suas enfermidades secretas, colocando as suas leis de hygiene publica debaixo da salvaguarda e santificação do tabernaculo. Mas os israelitas atravessando os povos estrangeiros, moabitas, ammonitas, chananeus e todas aquellas raças cynicas, mais ou menos corrompidas e idólatras, contagiavam-se dos vicios e gostos de seus hospedes ou alliados. Ora a prostituição mais audaz e escandalosa era a que florescia, digamol-o assim, entre os incestuosos descendentes de Loth e suas filhas. A prostituição religiosa, sobretudo, havia ampliado o seu infernal império com o culto dos falsos deuses que os habitantes do paiz adoravam com um phrenesi deplorável.
Muloch e Baal-Phegor eram os monstruosos ídolos da prostituição de que os hebreus se deixaram corromper. Por mais severo que se mostrasse Moysés nos seus castigos contra os libertinos do povo, nem por isso o mau exemplo deixou de ser seguido, e uma multidão de superstições obscenas ficaram incarnadas nos costumes hebreus, posto que se houvessem destruido os altares de Baal e de Moloch, onde se levavam as impudicas offerendas. No capitulo XX do Levitico, e no XXXIII do Deuterononio, Moysés infligiu um stygma de infamia a esse culto execravel e aos apostatas que o praticavam em offensa do verdadeiro Deus de Israel. Qualquer dos filhos de Israel ou dos estrangeiros que haja em Israel, que der o seu sémen ao idolo de Moloch, será punido de morte: o povo deve apedrejal-o.
Assim falla o Senhor a Moysés, ordenando-lhe que separasse do seu povo os manchados de tão immunda abominação. No Deuteronomio condemna Moysés certas impurezas que dizem mais respeito a Baal do que a Moloch: Não offerecerás, diz elle, no templo do Senhor o lucro da prostituição, nem o preço do cão, qualquer que seja o voto que tenhas feito, porque estás duas cousas são abominações deante do Senhor teu Deus. Os sábios tem-se dado a um improbo trabalho para descobrir o que eram esses idolos moabitas Moloch e Baal-Phegor e tiraram do Thalmud e dos comentadores judeus os mais estranhos dados sobre o assumpto. Moloch, segundo elles, era representado por um homem com cabeça de bezerro, o qual com os braços estendidos esperava que lhe offerecessem em sacrificio a flór da farinha, rôlas, cordeiros, carneiros, bezerros, touros e creanças. Estas differentes offerendas collocavam-se em sete boccas que se abriam no meio do ventre d'aquella ávida divindade de metal, collocada sobre um immenso forno, que se accendia para consumir ao mesmo tempo as sete especies de offerendas.
Durante o holocausto, os sacerdotes de Moloch faziam uma terrível musica com sistros e tambores a fim de não deixarem ouvir os gritos das victimas. Era então que se realisavam as infamias malditas por Jehovah: os molochitas entregavam-se a praticas dignas da patria de Onan, e animados pelo ruido cadenciado dos instrumentos musicos, agitavam-se em redor da estatua incandescente, que apparecia vermelha atravez do fumo, gritavam phreneticamente e, segundo a expressão bíblica, davam posteridade a Moloch…
Esta abominação de tal modo se espalhou em Israel que alguns insensatos ousaram introduzil-a no culto de Jehovah e mancharam com estas impurezas o sanctuario. A colera de Moysés fulminou então raios de justiça, e o grande legislador repetiu estas palavras do Senhor: Indignarei o meu rosto contra os sectários de Moloch, e expulsal-os-hei do meu povo.


Este Moloch, ou Molec, não era outro senão a Milita dos babylonios, a Astarfé (??) dos filhos do Sidónia, a Venus geradora, a mulher divinisada. D’aqui as oferendas que se lhe faziam: flòr de farinha para significar a substancia da vida; ròlas para indicar as ternuras do amor; cordeiros para significar a fecundidade; carneiros para caracterisar os ardores dos sentidos; bezerros para indicar a exhuberancia da natureza; touros symbolisando as forças creadoras, e, finalmente, creanças para indicar o objecto do culto da deusa». In Pedro Dufour, História da Prostituição em todos os Povos do Mundo, Typ da Empreza Litteraria Luso-Brazileira, Pateo do Aljube 5, 1885, Library University of Toronto, May 23 1968, Lisboa.

Cortesia de Library University of Toronto/JDACT