sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Breve Notícia sobre o Descobrimento da América. Teixeira de Aragão. «A João Afonso Estreito foram concedidas as rendas e direitos das ilhas ou terra firme que descobrisse. Houve outro João Afonso, piloto inteligente e ousado, que por despeito de faltas de recompensa aos seus muitos serviços, foi para França, onde andou em navio de corso…»

jdact e cortesia de wikipedia

NOTA: Conforme o original

A América Antecolombiana
«O infante Henrique falleceu em Sagres a 13 de novembro de 1460, havendo nascido na cidade do Porto a 4 de março de 1394. Adoptou como empreza uns pequenos ramos de carvalho com fructos e a legenda, Talent de bien faire. A sua morte não diminuiu o enthusiasmo para novos descobrimentos, e commetteram-se feitos tão arrojados e coroados de tão bons resultados, que constituem hoje a nossa brilhante epopéa marítima. Affonso V em 3 de dezembro de 1460 fez doação ao infante Fernando, duque de Vizeu, seu sobrinho [nasceu a 17 de Novembro de 1433 e morreu em Setúbal a 18 de Setembro de 1470, foi casado com D. Beatriz e pai do rei Manuel I (JDACT)], das ilhas - da Madeira, Porto Santo, Dezerta, S. Luiz, S. Diniz, S. Jorge, S. Thomaz, Santa Iria, Graciosa, S. Miguel, Santa Maria, S. Jacob, Filippe, de las Maias, S. Christovam e Lana, e de Jesus Christo, com todas as rendas, direitos e jurisdicções - que a nós ora em ellas pertence e de direito devemos de haver, assim como as de nos havia o infante D. Henrique meu tio que Deus haja… O infante Fernando fez concessão do senhorio das ilhas do Fayal e Pico a Jooz Dutra ou Job Huerter, que as povoou. A carta regia de 31 de maio de 1509 diz: ter já a concessão das capitanias das ditas ilhas o mesmo Job Huerter, sendo n’esta data confirmado o cargo com a jurisdicção, rendas e privilégios, que havia requerido, e gosavam os capitães da ilha da Madeira. Além deste documento existe no Archivo da Torre do Tombo uma sentença passada no juizo da coroa em 6 de setembro de 1571, onde se diz que Job Huerter, a instancias do infante Fernando, duque de Vizeu, mestre da ordem de Christo, viera povoar as duas ilhas Fayal e Pico, pertencentes á mesma ordem, ficando as capitanias para elle e seus descendentes.
A mania de tentar descobrimentos para usofruir as capitanias com as suas rendas e privilégios de juro e herdade, levou vários aventureiros a requererem concessões de suppostas ilhas ou terras firmes, antes mesmo de empreenderem as viagens, e alcançaram do monarcha despacho provável. Assim: A Ruy Gonçalves da Camara, pela carta regia passada em Almyde (Almeirim?) a 21 de junho de 1473, se fez doação de juro e herdade de qualquer ilha, que elle por si ou navio seu achasse, com todas as suas rendas, direitos e jurisdicções.
A Fernão Telles, mordomo mór da princeza D. Joanna, n’outra carta passada em Extremoz a 22 de janeiro de 1474, foram concedidas as ilhas que descobrisse, por si ou por seu mandado, no mar Occeano com suas rendas, direitos, etc..
Os pedidos de senhorio de ilhas ou continentes que lograssem descobrir em arriscadíssimas viagens, feitas á custa da fazenda real, deram logar a bastantes desastres e perdas, e levaram Affonso V a consultar, por intermédio do seu capellão, o conego Fernando Martins, o celebre medico-cosmographo florentino Paulo de Pozzo Toscanelli, sobre as probabilidades de bom resultado em tão arriscadas tentativas marítimas. A resposta escripta em latim, com a data de 25 de junho de 1474, affirma a possibilidade de ir ao Oriente pelo Occidente, attenta a esphericidade do globo (existe uma copia da própria letra de Colombo em um volume da Biblioteca Colombina de Sevilha. Esta carta foi ultimamente reproduzida em facsimile por Henry Harirsse na sua obra - D. Fernando Cólon historiador de su padre. Sevilha 1871).


D. João II, pela carta regia passada em Santarém a 30 de junho de 1484, fez doação, a Fernando Domingues Arco, do senhorio, com todas as mais regalias, de qualquer ilha que descobrisse. A Fernando de Ulmo ou Dulmos, capitão na Ilha Terceira, foi confirmado pelo mesmo monarcha, em carta regia datada de Lisboa a 24 de julho de 1486, o contracto sobre a Ilha das Sele cidades (Antilia), feito com João Affonso Estreito, morador no logar do Funchal da Ilha da Madeira.
A este mesmo João Affonso Estreito foram concedidas as rendas e direitos das ilhas ou terra firme que descobrisse. Houve outro João Affonso, piloto intelligente e ousado, que por despeito de faltas de recompensa aos seus muitos serviços, foi para França, onde andou em navio de corso, e por ter a sua residência em Saintongeois, logar nas humediações de Cognac, assim o appelidaram de Saintongeois. Por esta circumstancia alguns escriptores francezes o deram como seu conterrâneo. Deixou uma Hydrographia manuscripta da qual se publicou um extracto em 1559, sendo o auctor já fallecido, com o titulo - Voyages aventureux du capitaine Jean Alphonse Saintongeois. Este piloto, andou na armada do celebre corsário João Ango, que tantos prejuízos causou a Portugal roubando os navios que vinham carregados de mercadorias da Índia e do Brazil (no archivo da Torre do Tombo (Corp. chron. parte 1." maço 57, doe. 94) acha-se um documento em que Francisco I de França por uma carta patente de 27 de agosto de 1536, mandou restituir a Portugal as tomadias que os piratas da sua nação haviam feito em navios portuguezes)». In A. C. Teixeira de Aragão, Breve Notícia sobre o Descobrimento da América, Mckew Parr Collection, Maggellan, BrandeisUniversity (Lo que nos importa), Tipografia da Academia Real das Ciências, Lisboa, 1892.

Cortesia de Academia das Ciências/JDACT