sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Dos Templários à nova Demanda do Graal. Paulo A. Loução. «Constatamos a relação profunda entre o esoterismo e a história. Da mesma maneira que o sagrado está relacionado com o futuro e o profano com o passado, ou seja, já pertenceu ao domínio do sagrado, o esotérico está relacionado com o futuro e o exotérico com o passado. Muitos dos conhecimentos participam no processo de manifestação das ideias de “Maat”»


jdact e cortesia de wikipedia

(continuação)

O Mistério Templário
«Mais tarde, no processo de concretização (a construção do Templo na Terra simboliza a manifestação do Arquétipo), os humanos que conseguem aceder aos níveis de consciência mais próximos dos arquétipos tornam-se pontífices, construtores de pontes, permitindo a essa ideia, que saiu do seio da mente universal, entrar na esfera da história humana. Os iniciados são pontes entre o visível e o invisível. Mas é claro que não são só os vitoriosos dos mistérios que acedem a estados de inspiração arquetípica, tal também acontece, por exemplo, com os génios da arte e da ciência. A diferença é que os verdadeiros iniciados realizam esse trabalho (é uma das suas funções naturais) de forma racionalmente consciente. De certo modo, a consciência racional trabalha com o adquirido (passado), enquanto que o pensamento mítico penetra inconscientemente em estádios de consciência a adquirir futuramente. Os grandes iniciados conhecem perfeitamente a realidade que está por detrás da linguagem mítica, tendo esta a dupla função de véu e transmissora.
  • Véu, porque o nosso estado de consciência adquirido não suportaria a intensa luz da verdade, desnuda e crua. Por essa razão, Platão aconselha ao filósofo da caverna que se habitue progressivamente à luz solar. 
  • Transmissora porque, como dádiva dos deuses, entra em contacto com a sabedoria primordial que habita o inconsciente de todo o ser humano.
Assim, o círculo interno de uma organização esotérica, como a Templária, teve como uma das suas principais funções transmitir ao círculo intermédio os arquétipos históricos da época e formar uma elite que estivesse à altura de os concretizar. Dito de outra forma, os iniciados do Templo distribuíram missões apropriadas para o tempo histórico da época. Muitas delas foram cumpridas, outras fracassaram, regressando à latência imaginal onde aguardam o ciclo histórico propício.
Constatamos, desta forma, a relação profunda entre o esoterismo e a história. Da mesma maneira que o sagrado está relacionado com o futuro e o profano com o passado, ou seja, já pertenceu ao domínio do sagrado, o esotérico está relacionado com o futuro e o exotérico com o passado. Muitos dos conhecimentos que hoje são do domínio do exotérico foram, anteriormente, exclusivos de escolas esotéricas, estas participam activamente no tal processo de manifestação das ideias de Maat. É um processo vivo que está integrado nos ritmos da Natureza. Os avatares como Cristo ou Buda, que ciclicamente encarnam num mensageiro humano (num grande iniciado), participam neste ritmo natural, desvelando em cada missão uma parte da Grande Religião da Natureza. Por isso, são normalmente maltratados e vilipendiados no seu tempo histórico, pois esse sempre foi o preço a pagar por quem se atreveu a exoterizar uma parte da sabedoria secreta.
Segundo alguns, essa terá sido a verdadeira causa das mortes de Sócrates e Ésquilo.

Os verdadeiros esoteristas e as escolas de esoterismo autênticas acedem a estados de consciência e ao contacto com ideias que a grande maioria da população só alcançará no futuro. Daí o grande impacto histórico de organizações como a Templária, que participam activamente no processo de concretização dos arquétipos históricos. Parece-nos oportuna a seguinte afirmação de António Telmo:
  • A existência de organizações secretas no mundo medieval é reconhecida unanimemente pelos historiadores, embora divirjam quanto à importância a atribuir-lhes no plano histórico. Uns consideram a sua influência decisiva, enquanto que outros nem sequer se lhes referem quando procuram determinar as causas dos acontecimentos. Trabalhando sobre documentos de natureza especificamente historicista, como crónicas, registos notariais, etc., que representam, quase sempre, uma descrição exterior e já muito afastada do centro dos acontecimentos, não podem, evidentemente, por esse caminho, ter qualquer notícia daquilo que, por ser de natureza secreta, nem sequer era pressentido pelos próprios contemporâneos. Se tivessem um real amor à verdade, teriam de reconhecer noutro tipo de documentos a fonte verídica do conhecimento histórico. Estamos a pensar (...) nos vários documentos cifrados existentes na época que constitua objecto de estudo, porque não há outra forma de expressão reveladora daquilo cuja natureza é, por definição, secreta. (...) A cifra, primeira na ordem do Reino, que cala o mistério da história de Portugal, é o manuelino.
In Paulo Alexandre Loução, Dos Templários à nova Demanda do Graal, O Espírito dos Descobrimentos Portugueses, Ésquilo, Lisboa, 2005, ISBN 972-8605-26-9.

continua
Cortesia de Ésquilo/JDACT