quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Desenho. Bernardo Marques. Fernando Azevedo. «A Sintra de Bernardo é a velha Vila, são os palácios, o castelo dos Mouros e um certo tom social a que esta privilegiada paisagem da Serra, verde-azul, ocre e doirada serve de fundo; mas, a par, é ainda, e sobretudo, Colares, são outros sítios como a Eugaria…»

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«Há, em Bernardo Marques, uma relação íntima não só sentimental e tão pouco só crítica, como a Vila de Sintra, terra da permanência lírica do romantismo português, e os seus arredores próximos, como terá havido outra, de idêntica intensidade, julgo, com Lisboa. Da capital portuguesa, foi ele entre os os anos trinta e cinquenta o seu maior criador de imagens; o celebrante e apaixonado observador de uma Lisboa que tão bem soube olhar, por dentro da sua paixão visível, como a sua cidade lindíssima, mas sempre indecisa entre a ascensão às frustes glórias urbanas e a sã resistência bairrista, ou ingenuamente provincial, a esses desígnios e políticas.
Com Sintra, porém, a sua relação possui certa ambiguidade quanto a mim: soma-se nela a aproximação queiroziana, sem a qual só haveria uma Sintra que não se entende, à entrega enamorada por outros encantos sem a qual, por sua vez, haveria também uma Sintra desconhecida. A Sintra de Bernardo é a velha Vila, são os palácios, o castelo dos Mouros e um certo tom social a que esta privilegiada paisagem da Serra, verde-azul, ocre e doirada serve de fundo; mas, a par, é ainda, e sobretudo, Colares, são outros sítios como a Eugaria, e aqui, o Casal da Serrana que foi a primeira habitação e atelier de Alfredo Keil, músico e pintor de um lírico prolongamento final do romantismo (Serranaé também o título de uma ópera sua) antes de vir a ser, mais tarde, sua casa de campo e o atelier do fim da vida.




Distinguimos assim, nele, uma Sintra que possui, por um lado, uma tonalidade fin de siècle, literária e gostosamente crítica e, por outro, um comovido deslumbramento, uma entrega do olhar sem malícia cultural, a cativação humilde e experimentada da natureza». In Fernando de Azevedo, Bernardo Marques, Fundação Oriente, Casa Garden, Macau, 1991.


Cortesia de F. Oriente/JDACT