domingo, 7 de outubro de 2012

Serões na Aldeia. Poesia. Política. «Amo o teu túmido candor de astro, a tua pura integridade delicada a tua permanente adolescência de segredo, a tua fragilidade acesa sempre altiva. Por ti eu sou a leve segurança de um peito que pulsa e canta a sua chama que se levanta e inclina ao teu hálito…»


Pintura de Maluda
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Soneto do Cativo
Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias,
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que os outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!
David Mourão-Ferreira, in “Obra Poética

Pintura de Maluda
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Soneto do Maior
Amor Maior amor nem mais estranho existe
que o meu, que não sossega a coisa amada
e quando a sente alegre, fica triste
e se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
o amado coração, e que se agrada
mais da vida eterna aventura em que persiste
que de uma vida mal-aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
e quando fere vibra, mas prefere
ferir a fenecer – e vive a esmo.

Fiel à sua lei de cada instante
desassombrado, doido delirante
numa paixão de tudo e de si mesmo.
Vinicius de Moraes, in 'Antologia Poética'

Pintura de Maluda
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É por Ti que Vivo
Amo o teu túmido candor de astro
a tua pura integridade delicada
a tua permanente adolescência de segredo
a tua fragilidade acesa sempre altiva.

Por ti eu sou a leve segurança
de um peito que pulsa e canta a sua chama
que se levanta e inclina ao teu hálito de pássaro
ou à chuva das tuas pétalas de prata.

Se guardo algum tesouro não o prendo
porque quero oferecer-te a paz de um sonho aberto
que dure e flua nas tuas veias lentas
e seja um perfume ou um beijo um suspiro solar.

Ofereço-te esta frágil flor esta pedra de chuva
para que sintas a verde frescura
de um pomar de brancas cortesias
porque é por ti que vivo é por ti que nasço
porque amo o ouro vivo do teu rosto.
António Ramos Rosa, in 'O Teu Rosto'

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