sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Património. Igreja portuguesa de Olivença eleita “melhor recanto de Espanha 2012”. «Uma disputa que desta vez se fez nas redes sociais. Pela Internet, vários foram os movimentos portugueses de apoio e incentivo ao voto na Madalena. Nomeadamente o Café Portugal, portal dedicado à cultura e tradições portuguesas…»



Cortesia de wikipedia

«O passatempo “O Melhor Recanto de Espanha 2012”, promovido pela petrolífera Repsol, e que contou na sua fase final com votações online, elegeu na noite de quarta-feira este monumento do século XVI de estilo manuelino para o top de sítios a visitar. A igreja portuguesa que fica na Extremadura espanhola conseguiu, assim, destronar a Lagoa da Cigana (em Castela-La Mancha), que ficou em segundo lugar, e o Forau de Aiguallut (Aragão), o terceiro mais votado.
Mas a votação reacendeu, sobretudo, uma guerra antiga, com a comunidade portuguesa a mobilizar-se para eleger a igreja portuguesa. Tudo isto porque Olivença é palco de uma disputa, velha de mais de dois séculos, sobre ser portuguesa ou espanhola. Espanha anexou o território em 1801 mas ainda hoje Portugal não reconhece tal anexação desta cidade fronteiriça localizada na Extremadura espanhola, repleta de história e traços da cultura lusa, incluindo monumentos como a Igreja de Santa Maria Madalena (conhecida como Igreja da Madalena).
Uma disputa que desta vez se fez nas redes sociais. Pela Internet, vários foram os movimentos portugueses de apoio e incentivo ao voto na Madalena. Nomeadamente o Café Portugal, portal dedicado à cultura e tradições portuguesas e que mereceu até o apoio de Marcelo Rebelo de Sousa à iniciativa no seu espaço televisivo na TVI. E particularmente, tendo em conta a sua dimensão (quase 550 mil aderentes), o Descobrir Portugal, comunidade do Facebook que se redobrou em incentivos ao voto, justificando que "votar na catedral construída pelos portugueses é dar visibilidade a Olivença". Do lado espanhol, a igreja também recolheu fortes apoios, com direito a divulgação pelo turismo e autarquia locais. Já nesta quinta-feira, num comunicado de reacção à eleição, o Grupo dos Amigos de Olivença alerta que “esta escolha, das quais se desconhecem os critérios, não será certamente inocente e deverá levar todos os portugueses a questionar quais os reais motivos dos organizadores do evento colocando um monumento tipicamente português como representativo de Espanha”. Para este grupo, a escolha representa mesmo uma “indecorosa tentativa de legitimação da ocupação do território de Olivença junto da opinião pública portuguesa”.

“Nem mesmo escamoteando a verdade se pode entender como pode uma catedral portuguesa, na nossa Olivença, ser representativa da Espanha. A igreja da Madalena nada tem de espanhol e ali nada há de estremenho”, lê-se na mesma nota, onde o grupo insiste que “Olivença é um território juridicamente português ocupado ilegalmente por Espanha”. A escolha da igreja da Madalena é certamente vista por muitos portugueses, no mínimo como muito infeliz, no máximo como uma provocação a Portugal patrocinada pela Repsol, conclui o comunicado.


Uma "jóia" do património
Segundo o resumo patrimonial do Turismo de Olivença, a Igreja de Santa Maria Madalena é considerada uma "jóia" oliventina e do património manuelino português. Data da primeira metade do séc. XVI e foi mandada construir para servir como templo do local de residência dos bispos de Ceuta. O bispado de Ceuta iniciou aqui residência em 1512, tendo sido estreada por Frei Henrique de Coimbra, confessor do rei Manuel I e o primeiro a celebrar uma missa no Brasil. Falecido em 1532 e foi sepultado no templo (existe um túmulo de mármore no local).
No exterior, destacam-se falsas ameias, pináculos, gárgulas e a porta principal, com uma portada atribuída a Nicolau de Chanterene, artista que em Portugal, além de outras obras, criou a porta do Mosteiro dos Jerónimos ou um retábulo de mármore do Palácio da Pena. O interior divide-se por três naves com oito colunas que parecem evocar as amarras de um navio. Em grande destaque, os trabalhos em talha dourada do séc. XVIII, retábulos neoclássicos em mármore colorido e azulejaria». In Público e Expresso.

Cortesia de Público e Expresso/JDACT