segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Livro da Vertuosa Benfeytoria. Infante D. Pedro e Fr. João Verba. «… foi capelão pontifício por nomeação do papa Martinho V desde l8 de Fevereiro de 1423 e prior do mosteiro de S. Jorge de Coimbra entre 1423 e 1435, não obstante ser dominicano»

jdact

«São pouco posteriores (entre 1947 e 1950) os trabalhos de Luís Afonso Ferreira, que fez do que chamou O Livro de virtuosa bemfeyturia o tema da sua tese de licenciatura (Biblioteca Central da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, cota C-3-3-20), infelizmente não publicada, e se preparava para fazer uma já então necessária edição crítica da obra. Os numerosos problemas codicológicos e textuais são abordados lucidamente não só nessa tese, mas também na recensão crítica à edição de 1946, publicada na ‘Biblou’ e, em 1950, num desenvolvido artigo intitulado Algumas considerações à volta dos manuscritos do “Livro de Virtuosa Bemfeyturia”. Este artigo é a primeira abordagem séria do núcleo de manuscritos existente, e das características textuais de cada um, embora aplicada a uma extensão limitada do texto.
Vinha esse último trabalho a propósito de um acontecimento de invulgar interesse na história do texto. Américo da Costa Ramalho descobrira na ‘Bodleian Library’, de Oxford, mais um manuscrito da obra, que deu a conhecer publicamente num artigo inserto no suplemento literário do jornal ‘Novidade’, em 6 de Novembro de 1949 e, com mais pormenores, no ‘Boletim de Filologia’, saído em 1950. Tratava-se de um manuscrito cartáceo do século XV e a sua importância para a fixação do texto parecia evidente, não obstante faltar-lhe a dedicatória e alguns fólios que conteriam os três últimos capítulos.
Mas há mais trabalhos importantes, os de António José Saraiva, no mesmo ano, na História da cultura em Portugal, e de Robert Ricard, em 1953, L’infant D. Pedro de Portugal et “O Livro da Virtuosa Benfeitoria”. Em 1956 e 1957 cabe ao pe A. Dias Dinis contribuir para um conhecimento documental da personalidade de frei João Verba com dois artigos:
  • Quem era fr. João Verba, colaborador literário de EI-Rei D. Duarte e do Infante D. Pedro,
  • Ainda sobre a identidade de Frei João Verba.
Anteriormente só se sabia dele o que constava da dedicatória ao infante Duarte, que era licenciado, e confessor do infante Pedro. Passou-se então a saber mais, que foi capelão pontifício por nomeação do papa Martinho V desde l8 de Fevereiro de 1423 e prior do mosteiro de S. Jorge de Coimbra entre 1423 e 1435, não obstante ser dominicano. Tudo isto é comprovado pela primeira vez por documentos então trazidos a público.
Aparecem poucos anos depois os trabalhos do pe Mário Martins, produto de um vasto e profundo conhecimento da prosa medieval portuguesa, neles são dilucidados passos importantes como as alegorias e as paráfrases. E em 1981, Maria Helena Rocha Pereira publica o artigo Helenismos no Livro da Virtuosa Benfeitoria, que constituía o primeiro trabalho de carácter linguístico sobre a obra.
Nos últimos anos, a investigação não cessou, antes se enriqueceu com novas perspectivas e novas análises de ideias. Têm de ser mencionados os estudos levados a cabo por Saúl António Gomes, novamente António José Saraiva, Luís Sousa Rebelo e João Gouveia Monteiro. E, em 1992, o Congresso Comemorativo do 6º Centenário do Infante Pedro, realizado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, deu ocasião a que vários trabalhos de elevado nível se ocupassem do “Livro da virtuosa benfeitoria”. Mencionemos, pelo seu interesse específico:
  • A “Virtuosa Benfeitoria” e o pensamento político do Infante D. Pedro, de João Abel Fonseca; 
  • O conceito de ordem natural no “Livro da Virtuosa Benfeitoria”, de Pedro Calafate; 
  • A “Virtuosa Benfeitoria”, primeiro tratado da educação de príncipes em português, de Nair Castro Soares; 
  • A alegoria final do “Livro da Virtuosa Benfeitoria”, de Luís Sousa Rebelo; Hermenêutica e poder no “Livro da Virtuosa Benfeitoria”, de F. Gama Caeiro; 
  • O pensamento político-social na “Virtuosa Benfeitoria”, de Amândio Coxito.
Naturalmente, após este rápido inventário do que de mais relevante se escreveu sobre a obra que aqui nos ocupa, poderíamos ainda mencionar as referências que lhe são feitas em quantos manuais, tratados e dicionários de literatura portuguesa foram produzidos. Está fora de causa uma prospecção de todos eles, mas temos de fazer uma j usta excepção para referir, num plano de síntese didáctica e bibliográfica, o capítulo ‘A prosa doutrinal de corte’ da História da literatura portuguesa de António José Saraiva e Óscar Lopes». In Infante D. Pedro e Fr. João Verba, Livro da Vertuosa Benfeytoria, introdução de Adelino A. Calada, Universidade de Coimbra, 1994, ISBN 972-616-137-1.

Cortesia da U de Coimbra/JDACT