quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A Literacia é um Profundo Envolvimento com a Tradição Escrita. Jacinta do Céu Laranjo Conceição. David Olson. «O termo literacia surge assim, como complemento da definição “alfabetização funcional” que equaciona precisamente, as “competências necessárias à execução de novas tarefas, de modo a que o indivíduo assegure o seu desenvolvimento e o da comunidade”»


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Estudar não é só ler nos livros
que há nas escolas.
É também aprender a ser livre,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes urgente,
mas livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.
[…]
Estudar também é repartir
também é saber dar
o que a gente souber dividir
para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois, na Escola da vida,
primeiro está saber estudar.
[…]
Estudar é muito
mas pensar é tudo!
In Ary dos Santos

«O facto de se “acreditar” que a escolarização massificada, orientada por políticas que tendiam a garantir a escolaridade básica obrigatória e que propunham planos de alfabetização e educação recorrente, tenderam para uma escolarização, que para muitos seria incansável sem este impulso. Criou-se então a ilusão de que os problemas do analfabetismo tinham sido ultrapassados, à excepção do 3.º Mundo. No entanto, depressa se desfez essa ideia, com o conhecimento de “percentagens significativas” da população dos países desenvolvidos que, demonstravam “dificuldades na utilização de material escrito, apesar de escolaridades obrigatórias relativamente longas”. Irrompeu então um novo tipo de analfabetismo que denunciava que, apesar do aumento da escolarização, existiam incapacidades do domínio da leitura e da escrita, diminuindo assim a capacidade, de alguns indivíduos, obterem a mesma participação na vida social, relacionando este fenómeno com aprendizagens insuficientes, mal sedimentadas e pouco utilizadas na vida social.
O termo literacia surge assim, como complemento da definição “alfabetização funcional” que equaciona precisamente, as “competências necessárias à execução de novas tarefas, de modo a que o indivíduo assegure o seu desenvolvimento e o da comunidade”, 2005. Todavia o conceito de literacia centra-se sobretudo no uso de competências mais do que na sua obtenção, tornando assim, evidente a distinção entre níveis de literacia e níveis de instrução formal, que os indivíduos possuem, podendo estas ser ou não competências reais.
A rápida transformação da sociedade tem feito emergir novas necessidades, mais complexas e multifuncionais, relativas às competências exigidas para a sobrevivência tanto na vida privada, como social e profissional. “As competências que correspondem a uma plena alfabetização ultrapassam largamente o domínio da tradicional capacidade de leitura, escrita e aritmética e desafiam até o conceito mais contemporâneo de literacia funcional”, 2002.
Neste ciclo de mudanças que o mundo percorre, o conceito de literacia tradicional, está também em transformação, adquirindo novas e múltiplas dimensões que implicam aspectos económicos, visuais, científicos, multiculturais, podendo mesmo designar-se como “literacia global”, 2002.
Em Portugal, no que diz respeito à legislação, “na sequência da publicação do D.L. nº 6/2001 de 1 de Janeiro, que estabelece os princípios da organização curricular do ensino básico, bem como a avaliação das aprendizagens e do processo de desenvolvimento do currículo nacional (art. 1º), é afirmada, em documento homologado pelo despacho de 21 de Outubro de 2001, a noção que deverá orientar os três ciclos, incluídos neste nível de escolaridade: trata-se da noção de competência que tem, aliás, estado presente em revisões de outros sistemas de ensino, sobretudo na Europa”, 1993. Assim, de acordo com o descrito, são desenvolvidos em Portugal e por todo o continente Europeu, estudos sobre literacia, bem como dos níveis da mesma na população». 
In David Olson, Jacinta do Céu Laranjo Conceição, A Literacia é um Profundo Envolvimento com a Tradição Escrita, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra, Fontes de Informação Sociológicas, 2005.

Cortesia da U. de Coimbra/JDACT