sábado, 4 de agosto de 2012

A Literacia é um Profundo Envolvimento com a Tradição Escrita. Jacinta do Céu Laranjo Conceição. David Olson. «Estudar também é repartir também é saber dar o que a gente souber dividir para multiplicar. Estudar é escrever um ditado sem ninguém nos ditar; e se um erro nos for apontado é sabê-lo emendar»


Cortesia de wikipedia e jdact

Estudar não é só ler nos livros
que há nas escolas.
É também aprender a ser livre,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
sem ideias tolas.
Ler um livro é muito importante,
às vezes urgente,
mas livros não são o bastante
para a gente ser gente.
É preciso aprender a escrever,
mas também a viver,
mas também a sonhar.
É preciso aprender a crescer,
aprender a estudar.
[…]
Estudar também é repartir
também é saber dar
o que a gente souber dividir
para multiplicar.
Estudar é escrever um ditado
sem ninguém nos ditar;
e se um erro nos for apontado
é sabê-lo emendar.
É preciso, em vez de um tinteiro,
ter uma cabeça que saiba pensar,
pois, na Escola da vida,
primeiro está saber estudar.
[…]
Estudar é muito
mas pensar é tudo!
In Ary dos Santos

«Este trabalho incide sobre o tema “literacia”, um dos temas propostos no âmbito do curso de Sociologia. ‘Literacia’ é, hoje, mais do que nunca, um tema mundialmente discutido; embora a sua existência remonte aos primórdios da sociedade ocidental, o termo, em si, foi convencionado não há muito tempo.
O que é? Que importância tem a literacia no nosso percurso académico? Quem se importa com a ‘literacia?’ Quem a discute? Porque a discute? Os governantes preocupam-se com os níveis da mesma?... Estas e outras perguntas são hoje constantes devido à importância e visibilidade acentuada que esta adquiriu. Provavelmente ganhou relevância, suscitando mais curiosidade através dos mass media e dos programas estatais desenvolvidos pelos governos. Exemplo destes últimos, os exames realizados em 2001 pelos alunos que frequentavam o 9.ª ano de escolaridade, com o principal propósito de avaliar o nível de literacia dos educados. Os resultados ficaram muito aquém do que era desejado, mesmo tendo em conta o facto de Portugal possuir uma comunidade escolar de ausência de permanência além do ensino obrigatório. Estes programas incidentes na literacia são, maioritariamente, impulsionados pela União Europeia dentro das suas políticas educacionais e culturais.
O termo “literacia”, ainda recentemente, era confundido com “alfabetização”, talvez devido, essencialmente, ao facto de em Portugal, por exemplo, não existir uma expressão que incorporasse o conteúdo e as características desta. O conceito foi adoptado do termo inglês literacy utilizado pelos países anglo-saxónicos, para ilustrar “um continuum que envolve desde capacidades mínimas de ler e escrever até uma leitura e escrita que requerem altas capacidades cognitivas”.
Esta pesquisa ajudar-nos-á a termos uma percepção e compreensão do complexo fenómeno “literacia”, que abrange uma maior atenção por parte de estudiosos, académicos e políticos, os quais dedicam muitas das suas obras, teses, discursos e trabalhos a este tema.


Esta pesquisa tem como principal intuito analisar a literacia de um modo global, mas de um modo mais particular e minucioso em Portugal e esclarecer algumas dúvidas que, tal como a mim mesma, assaltam muitas pessoas na nossa sociedade. Para tal, utilizei algumas fontes de informação a que tive acesso, desde bibliotecas a sites da Internet, que irei enunciar, a fim de permitir um mais fácil acesso a quem tencionar saber mais pormenorizadamente sobre o assunto.
As fontes de informação que me ajudaram a desvendar o tema em questão são maioritariamente em português, não pelo facto de não existirem mundialmente livros e sites que retratem excelentemente o tema, mas porque achei pertinente demonstrar neste trabalho o número e a qualidade de alguns estudos realizados por portugueses.
Começarei por definir e esclarecer o que é literacia.
O termo surge, não há muito tempo, dada a necessidade de classificar e apelidar a “capacidade básica de utilizar a leitura a escrita e o cálculo para resolver questões da vida quotidiana”. Assim começa o desenvolvimento da literacia, confundida muitas vezes com a alfabetização; sendo, portanto, de salientar que esta não é se não “um conhecimento obtido e estável” ou então um “acto de ensinar e de aprender a leitura, a escrita e o cálculo”, como é descrito no Estudo Nacional de Literacia, daí a confusão de ambos os termos.
  • Literacia “traduz a capacidade de usar as competências, ensinadas e aprendidas, de leitura, de escrita e de cálculo” ou ainda, designa um conhecimento processual, em aberto”, em constante desenvolvimento.
Muitas outras definições são lançadas para definir o nosso tema, mas quase todas elas primam pelas expressões “competência para” e “capacidade de” para a classificarem. Começam então a generalizar-se definições como:
  • “literacia é a capacidade de processamento de informação escrita na vida quotidiana” demonstrando-nos a necessidade de utilizar a “escrita” e a “leitura” no dia a dia, independentemente do contexto situacional; ou, ainda: “A complexidade das sociedades modernas e o progresso tecnológico vieram, apesar da generalização do acesso a uma educação cada vez mais prolongada dos jovens, colocar novos problemas e novos desafios”.
O facto de se “acreditar” que a escolarização massificada, orientada por políticas que tendiam a garantir a escolaridade básica obrigatória e que propunham planos de alfabetização e educação recorrente, tenderam para uma escolarização, que para muitos seria incansável sem este impulso. Criou-se então a ilusão de que os problemas do analfabetismo tinham sido ultrapassados, à excepção do 3.º Mundo. No entanto, depressa se desfez essa ideia, com o conhecimento de “percentagens significativas” da população dos países desenvolvidos que, demonstravam “dificuldades na utilização de material escrito, apesar de escolaridades obrigatórias relativamente longas”. Irrompeu então um novo tipo de analfabetismo que denunciava que, apesar do aumento da escolarização, existiam incapacidades do domínio da leitura e da escrita, diminuindo assim a capacidade, de alguns indivíduos, obterem a mesma participação na vida social, relacionando este fenómeno com aprendizagens insuficientes, mal sedimentadas e pouco utilizadas na vida social». In David Olson, Jacinta do Céu Laranjo Conceição, A Literacia é um Profundo Envolvimento com a Tradição Escrita, Faculdade de Economia, Universidade de Coimbra, Fontes de Informação Sociológicas, 2005.


Cortesia da U. de Coimbra/JDACT