terça-feira, 24 de julho de 2012

Elites Políticas Locais face ao '28 de Maio'. O Caso de Portalegre. Manuel Baiôa. «… formaram-se grupos políticos com alguma heterogeneidade tendo por objectivo retirar a hegemonia do Partido Democrático em Portalegre. Nas eleições legislativas conseguiram parcialmente o seu objectivo, com o auxílio dos lavradores dos meios rurais»


Hildeberto Botelho Medeiros, tenente e membro da 1a Comissão Executiva, após o ‘28 de Maio’
Cortesia de antonioventura e jdact
 
«Santana Marques por seu lado, critica duramente os democráticos por tudo aquilo que fizeram no poder e os nacionalistas, "seus vigários". Defende o voto em "candidato cuja a vida seja modelo de honestidade, de desinteresse, de elevação moral". Perante o momento tão grave na vida nacional "o critério político" teria "de ser subjugado pela
necessidade urgente da salvação comum". Santana Marques está a tentar explicar que a diferença entre um candidato monárquico e um candidato republicano está apenas na "competência, insenção (e) aprume moral". Os bons candidatos "são os representantes das forças conservadoras e económicas, quer sejam de tendência monárquicas quer republicanas". Por esse motivo integrou-se enquanto candidato do U.I.C. numa lista com um elemento monárquico nas eleições legislativas de 1925.
Nas eleições administrativas para a Câmara Municipal de Portalegre que decorreram no dia 22 de Novembro de 1925 concorreram duas listas. A lista denominada "Da Cidade" era formada por conservadores de tendência republicana e monárquica, sendo apoiada pel’O Distrito de Portalegre. Alista de "conjunção republicana" era liderada por elementos do Partido Republicano Português com a inclusão de republicanos independentes, tendo o apoio d’A Plebe.
A lista conservadora era liderada por José Augusto de Sequeira antigo senador. Integrava também esta lista o futuro dirigente concelhio da União Nacional, João do Monte Empina.
A lista de conjugação republicana era liderada pelo presidente da concelhia do P.R.P, João Brito. Nesta lista participa também o professor António Galiano Tavares que posteriormente será presidente da distrital de Portalegre na União Nacional.
A lista conservadora foi derrotada por um resultado expressivo. Foram eleitos todos os cidadãos da lista de conjunção republicana (15 elementos), já que obtiveram a maioria. A lista conservadora obteve a minoria, e elegeu os cinco cidadãos mais votados para o Senado Municipal. No dia 22 de Janeiro de 1926 na 1ª reunião do Senado Municipal após as eleições, os elementos da conjunção republicana conseguiram eleger facilmente a Comissão Executiva da Câmara Municipal formada totalmente pelos seus membros e presidida por Adelino Carmo Brito.
Como podemos verificar, formaram-se grupos políticos com alguma heterogeneidade tendo por objectivo retirar a hegemonia do Partido Democrático em Portalegre. Nas eleições legislativas conseguiram parcialmente o seu objectivo, com o auxílio dos lavradores dos meios rurais. Nas eleições administrativas, a lista liderada pelos democráticos conseguiu vencer claramente numa região mais urbana, e por isso, mais adversa ao sectores conservadores. O aparecimento destas coligações "contra" o P.R.P., parecem ter sido bastante generalizadas durante a "Nova República Velha". As poucas investigações que têm sido realizadas apontam neste sentido.
A frequente formação destes grupos anti-partido democrático criou uma tradição sem dúvida fundamental no aparecimento e consolidação do "Movimento do 28 de Maio" a nível nacional e local.

Severino Santana Marques, deputado em 1925. Director de ‘O Distrito de Portalegre’
Cortesia de antonioventura e jdact

O '28 de Maio' em Portalegre
As primeiras notícias divulgadas na imprensa local sobre o movimento do "28 de Maio" surgiram no dia 30 de Maio de 1926, embora as primeiras notícias tenham chegado a Portalegre ainda no dia 28 de Maio. A ‘Plebe’ referiu que "os regimentos foram postos de prevenção, a guarda republicana também e o governador civil foi para o seu local de trabalho, à espera de notícias mais esclarecedoras». In Manuel Baiôa, Elites Políticas Locais face ao '28 de Maio', O Caso de Portalegre, Ibn Maruán, Revista Cultural do Concelho de Marvão, Coordenação de Jorge Oliveira, nº 7, 1997.

continua
Cortesia da C. M. de Marvão/JDACT