sábado, 14 de abril de 2012

Guimarães. Barroso da Fonte. As Duas Cabeças: «Dirigindo-se, sozinho, ao alcaide mouro, disse-lhe que era adversário do rei de Portugal. E que estava pronto a aliar-se a ele (alcaide mouro); para atacar o monarca Português. Graças a esse plano, o alcaide mostrou-lhe todo o seu sistema de segurança»



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Primeiro Governador de Ceuta
«Em 2 de Setembro de 1415, João e parte da guarnição que fora dispensada de ficar, regressaram a Portugal. Ceuta passou a ser uma espécie de paraíso para aqueles que não tinham outros meios de subsistência. Isto é: ofereciam-se para as fileiras do governador de Ceuta que lhes pagava o indispensável para a sua sobrevivência.
Pedro de Menezes, ao fim de 15 anos, veio a Portugal, onde foi festivamente recebido. Assistiu, em 14 de Agosto de 1433, à morte de João I e, durante os 3 anos que esteve em Portugal, realizou o seu quarto matrimónio, com D. Genebra Pessanha. Em 1434 voltou a Ceuta, onde viria a falecer, em 22 de Setembro de 1437.

Quem foi Geraldo ‘Sem-Pavor?
Esta figura, quase lendária, contemporânea de Afonso Henriques, viveu uma odisseia complicada, a lembrar o José do Telhado dos nossos tempos.
Mário Domingues, no seu livro “Afonso Henriques", dedica-lhe os capítulos XIV e XV, ao longo de 14 páginas. Nesse longo relato sobre Geraldo Geraldes, o Sem-Pavor, apresenta-o mais “como um herói de ficção do que com uma realidade humana”. O seu nome verdadeiro era Geraldo Geraldes. Mas terá sido o próprio Afonso Henriques que o baptizou de “Sem-Pavor” graças à sua coragem e sangue-frio, em pleno combate contra os mouros.
Seria oriundo de uma aldeia das Beiras, de uma família nobre, de apelido Pestana. Passou à história como um valentíssimo guerreiro, sempre ao lado de Afonso Henriques. Só que a certa altura, segundo narra Mário Domingues, ter-se-á travado de razões com outro fidalgo da corte do nosso primeiro rei. E, contra a vontade de Afonso Henriques que gostava de ter um exército unido e solidário, o “Sem-Pavor” e o seu adversário travaram um duelo. Geraldo Geraldes saiu vencedor. Mas para fugir às represálias do rei, ter-se-á afastado para o norte. Na serra de Montemuro construiu um castelo. Depressa arregimentou cavaleiros para a sua causa, sobretudo de entre descontentes com o monarca. Para a sobrevivência recorriam à pilhagem pelas povoações, atacando cristãos e muçulmanos, indistintamente. De acordo com o relato de Mário Domingues, Geraldo Geraldes chegou a ter 526 homens de cavalo e a ‘turbamulta de peões, pelo que se poderia quantificar a sua falange de apoio entre 2500 a 3000 unidades’. Poderia ‘considerar-se um colosso naquela época’.
Um dia, Geraldo Gerardes, preocupado com o poderio que começava a ter, correndo o risco de não poder suportá-lo, em compensações, tomou uma decisão: ou o seu exército clandestino teimava em aumentar, recorrendo à pilhagem, ou se regeneravam todos, através de um feito heróico, sendo todos perdoados pelo rei de que se afastavam, por isto ou por aquilo.
Convocou, então, todos os seus subalternos para uma reunião e colocou-lhes a alternativa:
  • “ou continuavam a sobreviver do assalto à mão armada, como ladrões, ou prestavam altos serviços ao rei que comovido, lhes perdoaria tudo, integrando-os no seio dos seus mais nobres cidadãos”.
Foram unânimes em colocar, nas mãos de Geraldo Gerardes, a solução que achasse mais vantajosa. Então ele escolheu cinco dos mais fiéis e destemidos e congeminou a tomada de Évora que estava nas mãos dos mouros. Nem Afonso Henriques ousava tomá-la. Mas Geraldo Gerardes concebeu um plano que resultou em cheio. Dirigindo-se, sozinho, ao alcaide mouro, disse-lhe que era adversário do rei de Portugal. E que estava pronto a aliar-se a ele (alcaide mouro); para atacar o monarca Português. Graças a esse plano, o alcaide mostrou-lhe todo o seu sistema de segurança. Geraldes fixou os pontos fracos que iria utilizar para a sua traição ao mouro alcaide. De facto, quando se prontificara a ir buscar as suas tropas, trocou as voltas ao exército do comando mouro, entrando na cidade de Évora, pelo lado oposto àquele que eles defendiam. Em pouco tempo tomou Évora e todas as posições do inimigo.


Logo a seguir procurou Afonso Henriques e entregou-lhe as chaves da cidade de Évora. Era Novembro de 1166. O rei português rejubilou, perdoou-lhe e perdoou a todas as suas tropas, nomeando-o alcaide de Évora. Seguiu-se um período fulgurante para o rei português que chegou até aos Algarves, sem perder de vista Badajoz e as terras africanas.
É evidente que Mário Domingues narra estes factos como se de um romance se tratasse. Poderá não corresponder àquilo que se passou. Mas serve, pelo menos, para esclarecer o papel preponderante que Geraldo Geraldes terá tido na expansão de Portugal. Não só no continente como no norte de África». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT