quarta-feira, 25 de abril de 2012

A Bela Poesia. Guerra Junqueiro. «Em nossos corações um pavilhão d'aurora desdobrado no azul, quando é o amor profundo, um amor que nos veste uma rija armadura para se atravessar a batalha do mundo»


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Manhã de Abril

A mesa não será farta
como a dos grandes Mecenas:
o almoço virá de Esparta
e os convidados de Atenas.

Hão-de vir em carros d'oiro
as deusas do azul pagão,
e Baco em cima dum toiro
trazendo um odre na mão.

Já lá vem saindo Vénus
dentre as espumas radiantes...
Hão-de tocar os Silenos
nas banzas dos estudantes.

E, apesar da saia curta
e os olhos de Friné,
podes vir, ninguém te furta
o teu paletó, José.

A filha do taberneiro
é loira como as madonas,
convivas, o olimpo inteiro;
Menu da orgia, azeitonas. 

Entre as sebes orvalhadas
vai passando a turba aldeã:
brilha o aço das enxadas
na rósea luz da manhã.

Poema de Guerra Junqueiro, in 'A Musa em Férias, Manhã de Abril'

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