sexta-feira, 16 de março de 2012

Conflito Luso-Espanhol de 1801. O combate de Flor da Rosa. «A cavalaria inimiga foi rechaçada do lugar pelos soldados que ali se achavam; mas o nosso destacamento formando-se fora do dito lugar, e o inimigo reforçando-se com a sua Infantaria que vinha chegando, a nossa cavalaria foi a primeira em fugir…»


jdact

O Combate de Flor da Rosa apreciado por José Maria das Neves Costa

«Neste dia, 5 de Junho, se souberam pelos fugitivos as particularidades do combate de Flor de Rosa; pelo que se deduziu das relações destes, o destacamento foi surpreendido sem desculpa alguma.
Chegando a Flor de Rosa enquanto se faziam disposições para conduzir ou despejar os depósitos de farinha etc. a Tropa que se achava fatigada de ter marchado toda a noite, e parte da manhã se deitou a repousar enquanto outros dispunham e preparavam o que se havia de comer: Em lugar de entretanto se fazerem avançar rondas e patrulhas de cavalaria e Infantaria a uma a uma grande distância daquele lugar, não se faz mais do que colocar uma ou duas guardas a muito curta distância do corpo principal, no que se seguia o exemplo das que havia no Campo principal do Exército e a que eu chamava guardas de ‘cerimónia’ e não de segurança. Em consequência um destacamento de Hussares a cavalo e a pé que tinham saído de Portalegre no dia precedente ou antes naquela mesma manhã para o Crato talvez sabendo já da marcha projectada desde o dia 2 do nosso destacamento, ou não sei se unicamente por acaso, o certo é que pelas onze horas da manhã do dia 4 sabendo que os nossos se achavam em Flor da Rosa ali chegaram, e a sua vanguarda de cavalaria carregou e acutilou alguns dos nossos ainda desapercebidos mesmo à entrada do Lugar.

Então se tocou a rebate e tudo principiou em desordem e confusão.
A cavalaria inimiga foi rechaçada do lugar pelos soldados que ali se achavam; mas o nosso destacamento formando-se fora do dito lugar, e o inimigo reforçando-se com a sua Infantaria que vinha chegando, a nossa cavalaria foi a primeira em fugir, depois do que a Infantaria fez o mesmo, apesar do seu comandante dizer que se retirou em boa ordem por espaço de uma légua até à Aldeia da Mata. Esta retirada desordenada permitiu ao inimigo o fazer prisioneiros e acutilar muitos dos nossos soldados, e o apoderar-se das nossas 4 peças antes que estas pudessem fazer algum ou muito fogo. Finalmente Carcome não podendo mais conter a nossa Infantaria reunida mesmo em desordem, e restando-lhe ainda imensas planícies que atravessar diante da cavalaria inimiga que o acoçava se recolheu a uma tapada junto à Aldeia da Mata e ali depois de ter consumido o resto das munições que levaram os soldados se rendeu à discrição ficando prisioneiro de guerra, donde foi conduzido a Portalegre e Badajoz com todo o seu destacamento menos (além dos mortos) os que puderam fugir para o Gavião aonde chegaram o tenente-coronel Vasconcelos, o major José Profírio, e toda a cavalaria do destacamento. O conde de Lieutaud ficou também prisioneiro». In António Ventura, O Combate de Flor da Rosa, Conflito Luso-Espanhol de 1801, Edições Colibri, C. M. do Crato, 1996, ISBN 972-8288-23-9.


Cortesia de Edições Colibri/JDACT