sábado, 18 de fevereiro de 2012

Poesia. Rui da Silva. «Em toda a obra de criação há um fio condutor, nem sempre facilmente discernível, que lhe dá unidade - um fio discreto ou evidente, da maior importância, pois é um dos sinais da sua autenticidade»

Cortesia de regaloperfetto 

Faísca Caiu
Faísca caiu
lá longe, cá perto,
não sei, não a vi!
Mas faísca caiu
na terra do negro
queimada do Sol
lambida pelo vento
varrida pela chuva,
 faísca caiu.
Caiu com a chuva
que fertiliza a terra,
que a beija com fúria
de braços possessos
de noite e de dia...
Faíca caiu,
a chuva também.
[...]
Faísca caiu,
lá longe... cá perto...
faísca caiu
a chuva chegou.
Em casa do branco
bendita faísca!
Na casa do negro
faísca caiu,
ficou sem albergue,
sem lar, sem pão...
Maldita faísca!

Aquela faísca
prenúncio de chuva
que a uns dá fortuna
e aoutros miséria,
é obra de Deus
do negro e do branco;
mas Deus é branco,
o preto não tem!

Poema de Rui da Silva, in «Cantiga de Mama Zefa»

JDACT