quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Poesia. João de Deus. Capelo. «Toca a capelo, vou vê-lo e vejo de toda a cor, não doutores de capelo, mas capelos de doutor»

Cortesia de grandesnomeseducacao

Num álbum
O poeta é um ente sempre enfermo,
nas algibeiras nunca tem dinheiro,
sustenta-se do ar como o pinheiro,
e assim como o pinheiro habita o ermo.

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Capelo
Toca a capelo, vou vê-lo
e vejo de toda a cor,
não doutores de capelo,
mas capelos de doutor.

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Cama alta
Vendo-me um amigo um dia
a cama feita no chão,
por um milagre que não
lhe deu uma apoplexia.

E (o que é estar acostumado
aos regalos da riqueza),
disse-me ele: - Com franqueza,
és um grande desleixado!

Um leito faz muita falta,
eu vou-to já arranjar.
«Queres-me a cama mais alta,
morando no quinto andar?»

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Declaração
ele:
- Mais me eleva esse teu graciosíssimo andar,
que uma nuvem no céu, que uma onda no mar!
E em que a estrela do céu me há-de nunca raiar
a benéfica luz desse cândido olhar?
Oh! Se a mortema vez essa luz me apagar,
noite eterna, sem fim há-de a alma enublar!

ela:
Ora o Sr. Anastácio! Tantas vezes lhe tenho
dito que não aprendi francês! Eu, se o senhor
quer casar comigo, porque me não pede à
minha mãe?

Poemas de João de Deus, in «Campo de Flores»

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