sábado, 7 de janeiro de 2012

Arte e Artistas em Portugal. Os Anos 80. Parte Id. «Os Cómicos são uma espécie de símbolo cultural da década. A sua actividade ficou ligada a uma boa parte dos nomes que revelaram uma maior capacidade de afirmação ao longo destes anos e aos temas e debates estéticos que mais marcaram este período, designadamente a discussão em torno da noção de pós-modernismo»

Rui Chafes, Ooglid, 1995
Cortesia de cvc

«Em relação às galerias de arte, de toda a animação cultural e artística da década de 60 e do breve período de euforia no mercado de arte vivido no início dos anos 70, a única galeria que sobreviveu, sem interrupções de actividade, foi a Galeria III. Isto explica a natureza quase museológica do acervo da galeria e da colecção pessoal constituída por Manuel de Brito. Das galerias inauguradas na década de 70, tendo vivido toda a primeira fase da sua existência num período de forte agitação política e social e de quase inexistência de mercado de arte, a continuidade e sobrevivência da Módulo - e até recentemente da Quadrum - é a demonstração do peso que as componentes passional ou cultural desempenharam nas motivações dos seus responsáveis e é o fundamento lógico do prestígio cultural e da conotação de vanguarda que então lhes foi reconhecida.

Em meados dos anos 80 assiste-se a um momento de animação com a abertura de várias galerias, entre as quais duas que, por razões diferentes, melhor poderão servir de imagem emblemática dos anos 80: os Cómicos, em Lisboa, e a Nasoni, no Porto. Outros exemplos relevantes são a Valentim de Carvalho, em Lisboa, e a Roma e Pavia, depois Pedro Oliveira, no Porto.
Os Cómicos são uma espécie de símbolo cultural da década. A sua actividade ficou ligada a uma boa parte dos nomes que revelaram uma maior capacidade de afirmação ao longo destes anos e aos temas e debates estéticos que mais marcaram este período, designadamente a discussão em torno da noção de pós-modernismo.
A Nasoni é uma espécie de símbolo económico da época, tendo desenvolvido um dos mais ambiciosos trabalhos jamais realizados ao nível do mercado da arte em Portugal. Nessa medida, a Nasoni assumiu e impulsionou o que poderíamos chamar a versão portuguesa e, portanto, em escala reduzida, da euforia - com a inerente espiral de inflação e especulação - no mercado internacional da arte contemporânea durante este período.
A concentração de inaugurações, ampliações e mudanças de espaços na segunda metade da década de 80, assim como o projecto do Museu Nacional de Arte Moderna, em 1989, na Casa de Serralves, são nítidos indicadores de uma crescente animação cultural e económica na área das artes plásticas e uma óbvia consequência de uma inegável, ainda que modesta, animação do mercado de arte em Portugal.

Graça Morais, Cabo Verde, 1988
Cortesia de cvc

Indícios de um embrionário trabalho de internacionalização são a apresentação em Portugal de exposições individuais de alguns destacados artistas estrangeiros e a presença regular de galerias portuguesas em feiras de arte no estrangeiro, sobretudo na ARCO em Madrid, desde 1984 até hoje - Portugal foi o país convidado em 1998 - que contrasta com o cessar da participação portuguesa na Bienal de Veneza entre 1986 e 1994. In Alexandre Melo, Centro Virtual Camões.

Manuel Rosa, s/t, 1989
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Cortesia de CVirtual Camões/JDACT