terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Jaime Cortesão. Crónicas Desaparecidas, Mutiladas e Falseadas. «Mas, facto estranho, Barros na sua “Década I”, introduz alterações notáveis no texto de Azurara e até alguns factos muito importantes, que este não relata, como a referência a Jaime de Maiorca, e que todos se encontram no “Esmeraldo”»

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Crónicas sequestradas ou destruídas
«Outras crónicas ou escritos notáveis sobre as navegações foram inteiramente desconhecidas por Damião de Góis, quais sejam a “O Esmeraldo de Situ Orbis”, por Duarte Pacheco:
  • Nem Góis, nem Barros o citam. Mas, facto estranho, Barros na sua “Década I”, introduz alterações notáveis no texto de Azurara e até alguns factos muito importantes, que este não relata, como a referência a Jaime de Maiorca, e que todos se encontram no “Esmeraldo”.
Um escritor estrangeiro, o primeiro que assinalou estes últimos factos, num pequeno mas interessante estudo, observa:
  • «Quando n voit avec quel soin l’auteur dês décardes a cite la chronique de Guinée, l’on cherche en vain la raison qui l’a a determine a passer sous silence l’Esmeraldo de situ orbis de Pacheco Pereira, auquel il fait cepandant de larges emprunts. Aussi ce n’est pás qu’il n’attache aucune importance au témoignage de cet écrivan. Au moyen de cette nouvelle source il complete Azurara et eil est même curieux de constater qu’il préfère, en cãs de contradiction, les données de Pacheco».
Adiante veremos que não é difícil encontrar a razão que obrigou Barros, e porventura Góis, se conheceu a obra, a calar o nome de Duarte Pacheco.
Desde 1474, em que Azurara faleceu, até 1497, data da nomeação oficial de Rui de Pina, sabe-se apenas da existência dum cronista-mor, Vasco Fernandes de Lucena. Não se conhece de todo o tempo em que ele exerceu o cronistado, uma única página sua escrita, sobre história, que justifique a sua longa permanência no lugar. É crível que João II durante todo ou quase todo o seu reinado (Lucena já em 1484 era cronista-mor) o mantivesse nesse cargo sem qualquer proveito ou razão aparente?

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Como vimos, a maior parte das notícias sobre o desaparecimento de crónicas provêm-nos de Damião de Góis. Foi ele o único historiador que apontou esses factos e os relacionou, procurando dar-lhe uma explicação, tendo em cada uma das crónicas de D. Manuel e do príncipe dedicado ao assunto seu capítulo. Das duas foi esta última, como era natural, a primeira que escreveu; mas só a deu à estampa depois de composta e publicada a de D. Manuel. Esta foi impressa em 1566; aquela em 1568. E do próprio texto do capítulo VI da “Crónica do Príncipe”, em que versa o nosso caso, se depreende que ele a retocou, depois de ter escrito a de D. Manuel.
O que escreve, pois, naquela crónica, deve tomar-se, naquilo em que divergem, como a sua última e mais esclarecida opinião.
Como explica então o desaparecimento das crónicas? Tanto num como noutro dos citados capítulos atribui-o a furto. A diferença está em que na “Crónica de D. Manuel” é mais lato e claro na atribuição:

«Dos quais logares recitados se vê na verdade ter Fernão Lopes escritas e acabadas todas as crónicas do reino. Começando do conde D. Henrique até à del rei D. Duarte, que foram em número de (?) doze, mas como se lhe roubou o louvor de tamanho trabalho, julgue-o quem o bem entender (240)». In Jaime Cortesão, A Expansão dos Portugueses no Período Henriquino, Portugália Editora, Lisboa 1965.

Cortesia de Portugália Editora/JDACT