sábado, 10 de dezembro de 2011

Convento de Cristo. Tomar: «O chamado “Claustro da Micha” evoca a broinha ou simples bocado de pão que era dado aos pobres, junto da portaria do Convento. Uma das dependências do topo poente deste claustro, é ocupada por um gigantesco forno, onde cozia o pão que satisfazia o consumo próprio do Convento e a caridade para com os necessitados»


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Claustro da Micha
«O chamado “Claustro da Micha” evoca, neste nome, a broinha ou simples bocado de pão que era dado aos pobres, junto da portaria do Convento. De facto, uma das dependências do topo poente deste claustro, é ocupada por um gigantesco forno, onde cozia o pão que satisfazia o consumo próprio do Convento e a caridade para com os necessitados que ocorriam à porta norte, que lhe dá acesso exterior.

De forma rectangular num risco que se atribui a João de Castilho e que teria começado a edificar em 1528 para estar concluído quinze anos depois, enuncia dois pisos, de galeria e varanda, respectivamente. Quatro galerias artesoadas de 8 arcos de volta redonda, duas delas, na face oeste, têm mais dois arcos de volta abatida, compõem o piso inferior deste claustro, cujo pavimento central, lajeado e ponteado por 4 clarabóias, tem, no topo poente norte, uma escada de caracol que conduz a uma vasta cisterna, apoiada por seis colunas. Num dos fechos da galeria, do lado poente, está inscrita a data de 1543 e, por cima da entrada norte, em moldura renascença, a seguinte legenda:

 
INOMINE DOMINI
O MUI ALTO E MUI PODEROSO E
CATHOLICO REI D. JOÃO III DESTE
NOME MANDOU REFORMAR EDIFICAR
ESTA OBRA NO ANNO DO SENHOR DE 1534
E SE ACABOU NO DE 1546

Do lado sul e ao nível do piso térreo, fica a cozinha e a adega dos azeites, com 33 potes grandes, de louça de barro sevilhano. A nascente, existem dependências que serviam de habitação ao despenseiro e de armazém de víveres, com um florão na abóbada, onde está registada a data de 1540. A poente fica o enorme forno para a cozedura do pão e o depósito da lenha. No primeiro piso, uma varanda de alto parapeito corre a nascente e a sul, para se interromper a poente e a norte, nas chamadas “Salas das Cortes” e “Casa do D. Prior”, respectivamente. As “Salas das Cortes” estão, exteriormente, marcadas por três amplos frontões, cujos tímpanos são coroados por três medalhões renascença, de recorte idêntico aos que decoram o primitivo projecto do claustro de D. João III, da autoria de João de Castilho. A “Casa do D. Prior” tem, ainda, um piso superior, posteriormente acrescentado, depois transformado em amplo salão.

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Claustro dos Corvos
Fica este claustro a sul do “Claustro da Micha”. Tem planta quadrada, com duas galerias cujos arcos, de volta inteira, se apoiam em grossas e curtas colunas. A galeria voltada a sul é preenchida, no piso inferior, por um antigo celeiro, espaço rectangular abobadado, que foi usado como capela pela Sociedade Missionária Portuguesa. A abóbada artesoada tem, num dos fechos, a data de l539. Por cima deste espaço teria funcionado uma antiga biblioteca conventual.

O lado norte deste claustro, com data de 1543 num fecho de abóbada, é ocupado pela cozinha e dependências anexas (piso térreo) e pelas celas do chamado “Corredor do Noviciado” ou dos “Estudantes” (lº piso), plano que teria ficado concluído no ano de l548 e que, pela presença dos habituais elementos plateresco-renascentistas, é igualmente atribuído a João de Castilho. Nos lados sul e poente, foi acrescentado mais um andar quando, depois da venda dos bens nacionais. António B. Costa Cabral adaptou esta parte do edifício a residência particular. De realçar, a poente, a espaçosa varanda que deita para o “Pátio dos Carrascos” e as ferragens e talha das almofadas das portas que dão acesso às dependências servidas pela referida varanda.

Antiga Casa do Capítulo
Fica a sul do terreiro da entrada na “Igreja” do Convento, estendendo-se o seu eixo na direcção norte-sul. Construção incompleta e, posteriormente, arruinada pelo aluimento da abóbada, revela um projecto em dois pavimentos, onde o interior seria destinado ao capítulo da cleresia e o superior ao da cavalaria (Garcêz Teixeira 1946).

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A entrada no pavimento inferior faz-se pelo lado nascente do piso térreo do “Claustro de D. João III” e corresponde a um dos acessos assinalados no primitivo projecto de João de Castilho. É assim que, ao gosto da primeira fase renascentista, a decoração exterior é constituída por uma pequena janela bipartida, com a inscrição ANI DNI 1545 e sobrepojada por um medalhão de alto relevo, figurando S. Soeiro; sobre a porta de acesso, um outro medalhão do mesmo tipo, figurando S. Jerónimo. Em torno destes medalhões, desenvolvem-se delicados relevos alusivos à vida daqueles Santos.

O espaço correspondente à sala capitular do piso térreo, precedido por um vestíbulo abobadado, com nervuras e fechos da primeira fase renascença e articulado por um arco duplo, datado de 1541, início do recomeço da construção. É que, de facto, em 1540, achava-se ela interrompida há sete anos porque a urgência régia posta a João de Castilho tinha sido estudo de um claustro que estabelecesse comunicação entre a “Igreja” manuelina, as celas dos freires e esta iniciada casa capitular, o que obrigou a escavar parte da ravina que envolvia, a sul, a “Igreja” manuelina.

Desta forma resolvendo a diferença de nível que envolvia o conjunto já edificado e, assim, explicando a implementação do Claustro de D. João III». In Luís P. dos Santos Graça, Convento de Cristo, Instituto Português do Património Cultural, Edição ELO 1991, ISBN 972-9181-08-X.

Cortesia de Instituto Português do Património Cultural/JDACT