quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Barroso da Fonte. Guimarães e as Duas Cabeças: «Era a última tarefa patriótica de Nuno Álvares Pereira. Partiram. Chegados a Ceuta foram assaltados por uma violenta tempestade que durou três dias. D. João I refugiou-se com a sua frota no ancoradouro de Gibraltar. chegou a haver desânimo e vontade de regressar a Portugal»


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D. Nuno Álvares Pereira
«Entretanto Nuno Álvares Pereira virou-se, decididamente, para a construção da Igreja do Carmo que, segundo um dos seus biógrafos, começou em 16 de Julho de 1389. Só os alicerces levaram 8 anos porque foi preciso, por três vezes, refazê-los, dada a inclinação e má qualidade do terreno. E 33 anos depois de começada, mais propriamente em 1422, foi inaugurada, muito embora alguns frades carmelitas já aí habitassem desde 1392.
Foi por essa altura que D. João I empreendeu a expedição a Ceuta, constituindo o primeiro passo de uma epopeia que levou Portugal a todos os continentes, por mares nunca de outrem navegados.

O rei quis levar consigo os filhos para lhes ensinar os caminhos arriscados do sucesso, em nome de Portugal. D. Duarte que lhe sucederia no trono, o infante D. Pedro (o desafortunado), D. Henrique (fundador da Escola de Sagres) e D. Afonso (filho bastardo que casara com a filha de Nuno Álvares Pereira, de quem ficara viúvo no ano anterior). Os infantes D. João e D. Fernando ficaram por serem pequenos. Naturalmente D. João I não ia sem levar consigo o grande, nobre e leal amigo, que tantas glórias lhe dera pela vida fora, sempre a bem de Portugal. Era a última tarefa patriótica de Nuno Álvares Pereira. Partiram. Chegados a Ceuta foram assaltados por uma violenta tempestade que durou três dias. D. João I refugiou-se com a sua frota no ancoradouro de Gibraltar. chegou a haver desânimo e vontade de regressar a Portugal.
No entanto prevaleceu a vontade que os levara a partir. E, com mais facilidades do que se esperava, tomaram Ceuta. Três dias depois, o inimigo tentou expulsar os Portugueses. E foi Nuno Álvares Pereira que tomou a decisão final de afugentá-lo pela chamada porta de Fez.


Cortesia de manhente e chaves

Reza ainda o relato do biógrafo que vimos seguindo que com grande pena de D. Nuno, el-rei ordenou o regresso da expedição, deixando como governador da praça o conde D. Pedro. Bem quisera D. Nuno trocar os seus títulos pela glória de governar a fortaleza. Mas el-rei não queria separar-se do seu grande amigo, do seu conselheiro, do exemplo que apontava constantemente aos seus filhos. A carreira militar terminara para D. Nuno, circundada com o mesmo nimbo de prestígio e glória com que a iniciara.
Voltou, pois, a Lisboa, onde continuou a velar pelas obras do Convento do Carmo. Aqui estabeleceu residência desde 1422.

D. Afonso
Nasceu em Veiros, em 1370, de uma ligação amorosa entre o Mestre de Avis e D. Inês Pires. Dessa intimidade houve também uma filha, de nome Beatriz que casou, em 1405, com o conde de Arundel (Inglaterra), chamado Tomaz Fritz Alán.
Foi rodeado de todos os cuidados pelo pai que o entregou em Leiria, aos cuidados de Gomes Martins de Lemos que viria a ser conselheiro do rei João I.
O pai legitimou-o após a sua aclamação, como rei, exactamente depois de haver isenção do voto a que se obrigara como Mestre de Avis.
Por essa altura havia uma senhora que pelos dotes da natureza, qualidade ilustre da sua pessoa e por ser herdeira de uma Casa rica, era sem controvérsia, o maior casamento do reino. D. João I lembrou-se, em primeira instância, de casá-la com seu filho legítimo, D. Duarte, herdeiro da coroa. Tratava-se da filha de Nuno Álvares Pereira, amigo das horas de glória do rei. Só que desta vez, Nuno Álvares Pereira, iria contrariá-lo. De facto D. Nuno rejeitou a proposta apresentando como principal e bem orientada razão, o desejo de querer estabelecer uma grande Casa em que pudesse aproveitar a opulência do seu Estado, isto é, não quis que a filha casasse com o futuro rei de Portugal, porque, se tal acontecesse, toda a sua fortuna iria ter à Coroa. E D. Nuno preferia que essa fortuna constituísse uma espécie de partido político, em alternativa à coroa. Isto é: se a coroa entrasse em crise, poderia, como veio a acontecer em 1640, fornecer uma solução séria e abrangente.

Cortesia de lusophiawordpress

Preferia D. Nuno que o casamento da filha se fizesse com D. Afonso e não com D. Duarte. E D. João I ficou encantado porque, afinal, era essa a melhor solução para si e para o próprio filho, de quem tanto gostava. Logo D. Nuno renunciou ao condado de Barcelos (de que era o 7º conde) a favor do genro que passou a ser o 8º titular. Barcelos tinha sido o 1º condado em Portugal, na pessoa de D. João Afonso de Menezes, mordomo-mor de D. Dinis.
O contrato foi celebrado em 1 de Novembro de 1401, em Frielas, sendo tabelião João Aires. O casamento realizou-se em 8 desse mesmo mês e ano. A fundação da Casa de Bragança, data, pois, deste casamento ou seja, de 8 de Novembro de 1401. E constituiu seu património tudo aquilo que os noivos receberam como dote:
  • «imensos privilégios e terras por parte de D. Afonso e a maior fortuna do reino por parte de D. Beatriz Alvim. Praticamente todas as terras de Entre-Douro-e-Minho passavam para a Casa de Bragança que logo fixou residência em Chaves».
Entretanto o casal pensou em desenvolver essa residência em Trás-os-Montes, sede do vasto domínio geográfico que lhe pertencia, procedendo, de igual modo, com Barcelos, sede de muitos outros haveres. Quer em Chaves, quer em Barcelos, cuidou D. Afonso de construir confortáveis habitações para a família e para a muita criadagem que tinham ao seu serviço. Em Chaves prepararam a residência contígua ao castelo e aí viveram até 1414, ano em que faleceu, de parto, D. Beatriz. Aí nasceram os três filhos do casal. E aí viria a falecer, em 1461, D. Afonso». In Barroso da Fonte, Guimarães e as Duas Caras, Editora Correio do Minho, 1994, ISBN 972-95513-8-3.

Cortesia de Guimarães/JDACT