quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Bela Poesia. Bocage. Sonetos. Período da Vida Militar: «Quantos mimos então, quantos favores, que inocente afeição, que puro agrado não me viram gozar (oh, doce estado!) mordendo-se de inveja os mais pastores!»

Cortesia de quemdisse

Recordação de Fílis
A loura Fílis, na estação das flores,
comigo passeou por este prado
mil vezes, por sinal trazia ao lado
as Graças, os Prazeres e os Amores.

Quantos mimos então, quantos favores,
que inocente afeição, que puro agrado
não me viram gozar (oh, doce estado!)
mordendo-se de inveja os mais pastores!

Porém, segundo o feminil costume,
já Fílis se esqueceu do amor mais terno,
e com Jónio se ri de meu queixume.

Ah!, se nos corações fosses eterno,
tormento abrasador, negro ciúme,
serias tão cruel como os do Inferno!

Louvando as graças de Marília
Marília, nos teus olhos buliçosos
os amores gentis seu facho acendem;
a teus lábios voando os ares fendem
terníssimos desejos sequiosos:

Teus cabelos subtis e luminosos
mil vistas cegam, mil vontades prendem;
e em arte aos de Minerva se não rendem
teus alvos curtos dedos melindrosos:

Reside em teus costumes a candura,
mora a firmeza no teu peito amante,
a razão com teus risos se mistura:

És dos céus o composto mais brilhante;
deram-se as mãos Virtude e Formosura
para criar tua alma e teu semblante.
Bocage, «in Sonetos»

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