terça-feira, 23 de agosto de 2011

A Universidade de Coimbra e a Europa, 1537-1937. Manuel A. Rodrigues: «Com a transferência definitiva da Universidade para Coimbra, em 1537, assistiu-se ao início de uma fase muito rica da sua existência, em que os contactos com a Europa ocuparam um lugar privilegiado. Para as quatro Faculdades foram chamados Mestres de fora»

Cortesia do arquivodauniversidadedecoimbra 

«Duas reformas assinalaram decisivamente a vida da "Alma Mater" durante esse tempo :
  • a de D. João III no século XVI,
  • a Pombalina de 1772.
A primeira incidiu essencialmente na introdução dos esquemas e conteúdos humanísticos nas suas diversas componentes na docência universitária, a que se seguiu a adopção do ideário católico da Contra-Reforma definido em Trento. A Reforma de 1772 caracterizou-se pela renovação dos estudos de acordo com as novas directrizes emanadas do movimento das Luzes e do experimentalismo.
Às quatro Faculdades existentes (Teologia, Cânones, Leis e Medicina) foram acrescentadas as de Matemática e de Filosofia, sendo criados ainda vários Estabelecimentos Anexos:
  • O Hospital, o Teatro Anatómico e o Dispensatório Farmacêutico - da Faculdade de Medicina;
  • O Observatório Astronómico da Faculdade de Matemática;
  • Os Gabinetes de História Natural e de Física Experimental, o Laboratório Químico e o Jardim Botânico - da Faculdade de Filosofia.
Pela leitura dos diversos Estatutos aprovados ao longo da história da Universidade, vários do séc. XVI, os de 1654 e os de 1772, podemos acompanhar de perto a organização da «Alma Mater» nos sectores pedagógico, religioso e administrativo. Mas para uma melhor compreensão da vida da Escola há que recorrer a outra documentação como, por exemplo, a legislação régia e as Actas das Faculdades.

Primeira Acta do Conselho da Universidade após a transferência definitiva para Coimbra
2 de Maio de 1537
Cortesia do arquivodauniversidadedecoimbra

Com a transferência definitiva da Universidade para Coimbra, em 1537, assistiu-se ao início de uma fase muito rica da sua existência, em que os contactos com a Europa ocuparam um lugar privilegiado. Para as quatro Faculdades foram chamados Mestres de fora. Alguns professores de Coimbra leccionaram em Universidades estrangeiras; muitos escolares portugueses ocorreram a importantes centros de estudo dispersos pelo continente europeu; e imprimiram-se obras de lentes da Universidade um pouco por toda a parte.
Para tal desenvolvimento muito contribuiu a acção de alguns reitores, como Fr. Diogo de Murça, O. S. Jer., que se doutorara em Teologia em Lovaina e foi juntamente com Fr. Brás de Barros, O. S. Jer., reformador do Mosteiro de Santa Cruz e também formado por Lovaina, um dos grandes impulsionadores da renovação dos estudos em Coimbra.
E já que se fala desta instituição dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, oportuno é lembrar a fundação de colégios universitários, quase todos eles dependentes de ordens religiosas, que se tornaram autênticos viveiros de ciência e cultura no meio conimbricense até 1834, data da sua extinção, e onde existiam valiosas bibliotecas. Eles tornaram-se veículos importantes de relacionamento com outros países europeus,

Cortesia do arquivodauniversidadedecoimbra

Vejamos alguns exemplos de intercâmbio com o estrangeiro. Para a Faculdade de Teologia vieram os lentes espanhóis Afonso do Prado, Francisco de Monçon e João Pedraza logo no começo das actividades escolares em 1537. Depois chegaram ainda Fr. Martinho de Ledesma, O. P., Paulo do Palácio e Salazar e o grande Francisco Suárez, S. J., que tanto prestigiaria a universidade pelo seu saber e pelo valor das suas obras. Os estudos teológicos e bíblicos conheceram um período de enorme florescimento. Professores portugueses houve que, antes de leccionarem em Coimbra, estudaram lá fora. Foi o caso de Fr. António da Fonseca O. P., de Paio Rodrigues de Vilarinho e de Marcos Romeiro que estiveram em Paris; de Fr. Luís de Sotomaior, O. P., que frequentou a Universidade de Lovaina e leccionou em Oxford e Cambridge, Londres, na Flandres e Alemanha.
Por seu turno, Fr. Agostinho do Trindade, O. E. S. A., exonerado da sua cátedra por ser partidário de D. António, pretendente à coroa, foi para Bordéus e Toulouse, onde viria a exercer a docência.
A edição de obras de alguns destes professores em tipografias estrangeiras, como em Salamanca, Paris, Antuérpia, Colónia, Veneza, Leiden, etc., testemunha à sociedade a admiração granjeada além fronteiras e o enorme prestígio de que desfrutava a cultura portuguesa». In Manuel Augusto Rodrigues, A Universidade de Coimbra e a Europa, 1537-1937, Exposição Documental organizada pelo Arquivo da Universidade de Coimbra, 1987, Congresso Nacional de Bibliotecários Arquivistas e Documentalistas.

Cortesia do Arquivo da Universidade de Coimbra/JDACT