domingo, 31 de julho de 2011

Há dias assim... «Como puro início, como tempo novo, sem mancha nem vício. ...E porque os amei e os acompanhei, não me senti rei na Mãe-Natureza»

Cortesia de promultimedia  

In Memoriam de MLAC e JLT

Revolução
Como casa limpa
Como chão varrido
Como porta aberta

Como puro início
Como tempo novo
Sem mancha nem vício

Como a voz do mar
Interior de um povo

Como página em branco
Onde o poema emerge

Como arquitectura
Do homem que ergue
Sua habitação.
Sophia de Mello Breyner Andresen, in «O Nome das Coisas»

Cortesia de lennon22

Retrato do Herói
Herói é quem num muro branco inscreve
O fogo da palavra que o liberta:
Sangue do homem novo que diz povo
e morre devagar de morte certa.

Homem é quem anónimo por leve
lhe ser o nome próprio traz aberta
a alma à fome fechado o corpo ao breve
instante em que a denúncia fica alerta.

Herói é quem morrendo perfilado
Não é santo nem mártir nem soldado
Mas apenas por último indefeso.

Homem é quem tombando apavorado
dá o sangue ao futuro e fica ileso
pois lutando apagado morre aceso.
Ary dos Santos, in «Fotosgrafias»

Cortesia de janbuenno

Humildade
As águas beijei,
As nuvens olhei,
Às árvores cantei,
Na sua beleza.

Os bichos amei,
Na sua bruteza,
Na sua pureza,
De forças sem lei.

E porque os amei
E os acompanhei,
Não me senti rei
Na Mãe-Natureza.
Francisco Bugalho, in «Paisagem»

Cortesia de O Citador/JDACT