sexta-feira, 27 de maio de 2011

Paulo A. Loução. Os Templários na formação de Portugal: A Queda do Mundo Clássico. «A ideia de que a nossa civilização é o cume da história, baseada numa visão linear cronológica, está completamente ultrapassada. É evidente que o caminho da humanidade evolui em círculo espiralado, isto é, alternam-se momentos de maior interesse pela espiritualidade com outros de maior interesse pelos bens materiais. Porém, a história «repete-se» na sua essência e não nos factos concretos»

Ponte romana de Alcântara
Cortesia de olhares

A Queda do Mundo Clássico
«A arqueologia e outras ciências auxiliares da história, têm-nos mostrado, neste século XX, o quanto ainda desconhecemos do passado humano. Após a arrogância positiva do século passado, que «não permitia» afirmar «não sei», existem hoje, de facto, inúmeros enigmas referentes às civilizações do passado. É muito o que a ciência já aceitou não saber. Um exemplo muito conhecido é o da Grande Pirâmide, chamada de «Keops», no antigo Egipto. Não se sabe como se construiu, e mais: hoje seria praticamente impossível edificar uma igual com tanta perfeição. Está provado que não foi construída por escravos e com o auxílio de cordas, pois estas nunca poderiam puxar lajes com trezentas toneladas, peso equivalente a trezentos automóveis comprimidos. Este é apenas um exemplo, entre centenas, de enigmas ligados à Grande Pirâmide e a outras construções monumentais do antigo Egipto.
Por outro lado, a ideia de que a nossa civilização é o cume da história, baseada numa visão linear cronológica, está completamente ultrapassada. É evidente que o caminho da humanidade evolui em círculo espiralado, isto é, alternam-se momentos de maior interesse pela espiritualidade com outros de maior interesse pelos bens materiais. Porém, a história «repete-se» na sua essência e não nos factos concretos. A Humanidade vai evoluindo em ciclos e não linearmente, para melhor. O facto de evoluir em ciclos, alguns deles com muitos milhares de anos, é que nos confunde. Por exemplo, hoje estamos a viver um momento muito semelhante no essencial ao período de decadência do Império romano.

Cortesia de documentarios

As civilizações, como tudo o que é manifestado na Natureza, nascem, crescem e morrem. No início, certas elites dão vida aos arquétipos que serão a base dessa civílização. Com os séculos, esse conjunto de «ideias», segundo a concepção platónica, vai dando forma a um novo tipo de sociedade regulado pela acção política. Quando os arquétipos e valores que lhes deram origem são «esquecidos» pelos homens, a sociedade transforma-se paulatinamente num corpo sem alma. Para a maioria, para os não-filósofos, a vida deixa de ter sentido e entra no subconsciente das populações aquilo a que Mircea Eliade designa como «o terror da história».
Os monumentos grandiosos, ruínas de tantas civilizações do passado, lembram-nos esta dinâmica inteligente da Natureza que visa o aperfeiçoamento paulatino do espírito humano, ao longo dos milénios.
Na Roma de Rómulo e Remo (séc. VIII a.C.), houve um tal impulso espiritual que os primeiros romanos já acreditavam ser aquele lugar, no futuro, o centro do Mundo. Segundo a tradição, no reinado do sábio Numa Pompílio, surgiram uma série de teofanias. Mais tarde, os romanos viram-se obrigados a raptar as sabinas para crescer demograficamente. Da monarquia inicial passaram à república e desta ao império. Nove séculos depois da «loba amamentar os fundadores», começam a fazer-se sentir os sintomas da decadência.

Cortesia de dosenxidros

Voltamos a citar o seguinte texto de Juvenal (séc. I a. C.), divulgado por Louis Pauwels no «Figaro Magazine»:
  • «As pessoas moram em gaiolas para coelhos a preços exorbitantes. Já não se pode circular nas ruas. Quando penso em que é que Roma se tornou, fujo para longe. Os milhões que ganham os promotores. Vindos dos quatro cantos do Mediterrâneo, ei-los que adquirem as melhores casas para delas se apoderarem. Desprezam os nossos gostos e valores; o mau gosto torna-se sinónimo de requinte, o idiota passa por genial, cantores medíocres são vistos como estrelas. Já não há em Roma mais lugar para um bravo Romano. Na rua os estrangeiros agridem-nos. E depois, ainda por cima são eles que te acusam e levam-te a tribunal. Onde estão os ritos antigos? A religião é publicamente vilipendiada. Quem teria ousado, outrora, fazer troça do culto dos deuses? Não nos devemos surpreender que a desonestidade seja geral. Já ninguém tem palavra, porque todos perderam a fé. Mesmo os crentes já não crêem na virtude. Outrora, um desonesto era algo incrível. E agora, um tipo verdadeiramente íntegro é visto como um prodígio. Quanto aos jovens, é melhor nem falar. Onde já vai o tempo em que era visto como um sacrilégio um jovem não se levantar diante de um idoso? Em resumo, devoção, correcção, rectidão, palavra de honra, respeito, valor, civismo, património cultural, etc; Tudo isso desapareceu». Juvenal.
É, fácil de ver que estas palavras poderiam ter sido escritas nos nossos dias. A partir daquela data surgiram em Roma, de forma crescente, pseudo-astrólogos, vendedores de poções mágicas, fenómenos de especulação imobiliária, de insegurança nas cidades e de êxodo populacional dos grandes centros...». In Paulo Alexandre Loução, Os Templários na Formação de Portugal, Ésquilo, 9ª edição, 2004, ISBN 972-97760-8-3.

Cortesia de Ésquilo/JDACT