sábado, 9 de abril de 2011

Pedro Dufour: História da Prostituição em todos os Povos do Mundo. Parte IV. «Ptolomeu Philadelpho teve a seu serviço um grande número destas cortesãs. Uma delas, Cleiné, exercia as funções de copeira, e o seu real amante mandou erigir-lhe estátuas, em que a cortesã era representada vestida com uma túnica flutuante, e tendo na mão um rithon, ou taça»

Cortesia de libraryuniversityoftoronto

«Depois de Rodopisa, outra cortesã chamada Archidice adquiriu também pelos mesmos meios uma celebridade ruidosa, posto que, na opinião de Heródoto, essa celebridade estivesse longe de igualar a da sua predecessora. No entanto, sabe-se que ela punha um preço tão elevado aos seus favores, que ainda os homens mais ricos tinham de arruinar-se para comprá-los. E, contudo, foram muitos os que se arruinaram. Um moço egípcio, doidamente enamorado dela, quis depôr-lhe aos pés a sua fortuna: como ela não atingisse, porém, o preço estipulado, Archidice repeliu-o, recusando-lhe desdenhosamente as riquezas.

O apaixonado da cortesã nem mesmo assim se deu por vencido, e invocando Vénus, a deusa complacente concedeu-lhe em sonhos gratuitamente o que só poderia possuir em realidade por um preço exorbitante. A cortesã veio a saber o que se tinha passado sem o seu concurso, e chamou à presença dos magistrados aquele devedor insolvente, exigindo-lhe o preço do seu deleite. Os magistrados julgaram esta estranha causa com a maior sabedoria, autorizando solenemente Archidice a sonhar que havia sido paga. 


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A grande época das cortesãs egíãs egíãs egíãs egíãs egípcias parece haver sido a dos Ptolomeus, três séculos antes de Cristo, mas já então entre aquellas muheres célebres umas eram gregas, outras asiáticas, e quase todas elas haviam começado a sua carreira por tocar flauta nos banquetes dos magnates.
Ptolomeu Philadelpho teve a seu serviço um grande número destas cortesãs. Uma delas, Cleiné, exercia as funções de copeira, e o seu real amante mandou erigir-lhe estátuas, em que a cortesã era representada vestida com uma túnica flutuante, e tendo na mão um rithon, ou taça.
Outra cortesã famosa, Mnesyde, deleitava os ócios do monarca com os sons da sua lira; Pothyne entretinha-o com a graça e vivacidade da sua alegre conversação; Myrteon, que ele havia arrancado um dia de um lugar de prostituição frequentada pelos barqueiros do Nilo, embriagava-o com as delícias do seu amor. Este Ptolomeu pagava generosamente todos os serviços que se lhe prestavam, e honrou com um soberbo mausoléu a memoria de Stratonice, que lhe bavia deixado dulcíssimas recordações, apesar de ser grega e não egípcia.


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Aquele rei voluptuoso não manifestava repugnância alguma pelas filhas da Grécia, e por isso mandou vir de Argos a formosa Bibitica, que descendia da raça dos Atrides, apesar de procurar esquecer a sua origem o mais alegremente que podia. Ptolomeu Evergetes, filho do Philadelpho, não prodigalizou tanto os seus amores, como o seu real progenitor, contentando-se com Ireve, que levou para Epheso, capital do seu governo, e onde viveu exclusivamente com ela até ao seu último momento.
Ptolomeu Philopator deixou-se dominar por uma astuta cortesã chamada Agathoclea, que reinou sob o seu nome no Egipto com a mesma autoridade que exercia no interior do seu palácio, e tudo isto muito a contento do débil Philopator. Outro Ptolomeu não podia passar sem uma hetaria subalterna, a quem chamava Hippea, ou Égua, porque esta cortesã dividia as suas carícias entre o rei o o seu palafreneiro-mór. O monarca gostava muito de beber com ela. Um dia em que a cortesã bebeu excessivamente, Ptolomeu disse-lhe rindo-se, e passando-lhe a mão pelas costas:
  • A minha Égua comeu hoje muito feno...
Daqui a alcunha de Hippea, ou Égua, porque daí avante foi sempre designada.


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Os Hebreus, oriundos da Caldea, haviam dali trazido os costumes da vida pastoril. Podemos, portanto, dizer com segurança que a prostituição hospitalar existiu desde as épocas mais remotas tanto na raça judia como entre os pastores chaldeus. Nos livros santos encontram-se vestígios desta asserção. No entanto, a prostituição sagrada era fundamentalmente antipática à religião de Moisés, e este grande legislador, queestava firmemente resolvido a pôr um freio a um povo preverso e corrompido, esforçou-se em reprimir em nome de Deus os espantosos excessos da prostituição legal. Daqui essa dura e terrível penalidade que traçou com caracteres de sangue nas tábuas da lei, e que mal bastava para conter as monstruosas desordens do povo escolhido.
O mais antigo exemplo que talvez exista da prostituição hospitalar temos de procurá-lo no Genesis. No tempo de Noé os filhos de Deus ou os anjos desceram à terra para conhecerem as filhas dos homens, e tiveram delas filhos, que foram os gigantes. Estes anjos vinham pela noite adiante à tenda de um patriarca pedir-lhe hospitalidade, e deixavam-lhe, ao retirarem-se mais ou menos satisfeitos do que tinham encontrado, vivas recordações da sua visita.
O Génesis não nos diz por que sinal autêntico podia distinguir-se um anjo de um homem; o caso apenas se revelava ao cabo de nove mess pelo nascimento de um gigante. Estes gigantes não herdavam as virtudes de seus pais no meio da profunda iniquidade sempre crescente em que jaziam os homens dessa época; de modo que o Senhor, indignado de ver a espécie humana tão degenerada e corrompida, arrependeu-se de a ter criado e resolveu aniquilá-la, com excepção de Noé e de sua familia». Pedro Dufour, Library University of Toronto, May 23 1968, Lisboa, Typ da Empreza Litteraria Luso-Brazileira, Pateo do Aljube 5, 1885.
 
Com a amizade de PC.
Cortesia de Library University of Toronto/JDACT