sexta-feira, 22 de abril de 2011

Antigas Caldas de Lafões.Termas de S. Pedro do Sul: A Presença de D. Afonso Henriques. Parte III. «Pinho Leal refere a vinda em 1175, ano em que, diz ele, quebrou a perna em Badajoz. É um claro erro, pois o desastre de Badajoz foi em 1169. O mais curioso é que Pinho Leal diz que, segundo Viterbo, o rei veio em 1169. É evidente que Viterbo é que está certo»

Cortesia de palimage

Com a devida vénia a Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002, Palimage Editores, ISBN 972.8575-38-6.
«Fosse ou não ali concebido tal plano, certo é que a Cúria Régia reuniu várias vezes em Lafões.Como se vê pelas datas dos documentos, a permanência do Rei no Banho foi demorada, pois, sendo certo que lá se encontrava em Setembro, em Outubro e continuava, pelo menos, a 13 de Novembro, se não houve interrupções, é legítimo concluir por uma presença contínua, num mínimo de dois meses. Problema que pode pôr-se é o de saber se terá voltado aos banhos. Já vimos que Pires da Sylva fala nos banhos da Primavera seguinte, mas nenhuma outra fonte ou documento o refere.
Pinho Leal refere a vinda em 1175, ano em que, diz ele, quebrou a perna em Badajoz. É um claro erro, pois o desastre de Badajoz foi em 1169. O mais curioso é que Pinho Leal diz que, segundo Viterbo, o rei veio em 1169. É evidente que Viterbo é que está certo. O erro de Pinho Leal ficou e alguns autores o têm repetido. Fá-lo, por exemplo, Correia de Azevedo, numa pretensa monografia sobre Lafões, que mais tem por objectivo louvar os vivos do que fazer história, amontoado de informações colhidas a esmo, não raro carente de rigor e sem um mínimo de estrutura e metodologia científica. Com a agravante de o autor afirmar que Pires da Sylva diz que D. Afonso Henriques frequentou o Banho em 1175, depois, de uma queda em Badajoz, quando a verdade é que o antigo médico das caldas (fins do séc. XVII) nunca disse tal coisa. In Ana Nazaré Oliveira, Termas de S. Pedro do Sul (Antigas Caldas de Lafões), 2002.

Cortesia de palimage
Antes, cita documentos ali lavrados e correctamente datados pela Era de César, ainda que reportando-os a 1189 da Era de Cristo, o que, cremos, se deve a gralha tipográfica, pois deveria ser 1169. Mas nunca escreveu 1175. Na realidade, quem escreve o erro é, mais tarde, Pinho Leal.
Eduardo dos Santos, num primeiro trabalho diz, correctamente, que o Rei veio em 1169,mas acrescenta, com alguma confusão na citação dos documentos, que voltou em 1175. Verdade que, em publicação posterior do mesmo trabalho refundido, deu-se conta do lapso, suprime o ano de 1175 e aponta o facto com inteira correcção.
Em Suplemento do Diário de Notícias, Francisco Hipólito Raposo, num interessante artigo sobre o património histórico e artístico de S. Pedro do Sul, depois de afirmar que D. Afonso Henriques veio às Caldas por mais que uma vez, refere o ano de 1175. É o erro de Pinho Leal a repetir-se! Se assim tivesse acontecido, é natural que disso houvesse notícia. Dificilmente Pires da Sylva deixaria de o assinalar na sua «Chronographia Medicinal das Caldas de Alafoens», 1696, a mais antiga e completa publicação. A verdade é que não se conhece qualquer documento que o prove ou, sequer, o sugira.

Cortesia de palimage
Parece-nos, pois, errado dizer que o Rei voltou em 1175. Mas claramente errado é dizer que veio pela primeira vez naquela data e que, nesse ano, foi o desastre de Badajoz.
E, antes do desastre, terá D. Afonso Henriques utilizado as águas do Banho?
Partindo da afirmação de Duarte Galvão, na crónica de D. Afonso Henriques, de que o príncipe teria nascido aleijado das pernas, já se tem admitido que, naquelas águas, menino ainda, teria encontrado cura. Para além de tudo o que de fantasioso existe sobre a pretendida enfermidade do príncipe, não se conhece qualquer documento que deixe, sequer, supor a vinda de D. Afonso Henriques às Caldas de Lafões, antes do desastre de Badajoz. A única certeza que fica é, pois, a da sua presença em 1169.

Perante tantos testemunhos documentais, causa alguma estranheza que ainda se escreva, em artigo publicado na revista do Inatel «Tempo Livre», (n.º 115, Março 2001, p. 16): «As águas da Vila do Banho teriam curado, a acreditar nas estórias (sic) as mazelas da perna de D. Afonso Henriques».
Com a amizade de MR.
Cortesia de Palimage/JDACT