sábado, 19 de março de 2011

Muralhas e Fortificações de Évora: «Tem um perímetro perfeitamente demarcado, de aproximadamente 1200 metros de extensão, abrangendo uma área de cerca de 10 hectares, com o nome que a história conservou de cerca velha. Possuía um fosso defensivo, que ficou testemunhado pela toponímia de algumas das suas ruas, como é o caso das Alcárcovas»

Cortesia de agendacultural

Com a devida vénia a Maria Ludovina Grilo.

Ao longo da sua história, a cidade de Évora ganhou, por três vezes, uma cintura de muralhas, guarnecida com as respectivas fortificações, das quais ainda hoje subsistem inegáveis vestígios. É desses 3 circuitos amuralhados que o Núcleo de Documentação da Câmara Municipal de Évora deixa neste número da Agenda Cultural uma breve e introdutória descrição.

O cinto de muralhas romano-visigótico-árabe foi construído no período romano, sofreu posteriores reconstruções e prolongou-se até ao reinado de D. Afonso IV. Tem um perímetro perfeitamente demarcado, de aproximadamente 1200 metros de extensão, abrangendo uma área de cerca de 10 hectares, com o nome que a história conservou de cerca velha. Possuía um fosso defensivo, que ficou testemunhado pela toponímia de algumas das suas ruas, como é o caso das Alcárcovas (de Cima e de Baixo), palavra de origem árabe cujo significado é fosso.

Cortesia de rhaalemmarwordpress  
Segundo a tradição, existiam nesta muralha 5 portas, das quais apenas subsiste uma: a denominada «Porta de D. Isabel» (antiga Porta do Talho do Mouro). O circuito de muralhas medieval, iniciado cerca de 1350-52 (reinado de Afonso IV) e concluído aproximadamente um século depois, desenhou um polígono irregular, numa extensão de 3500 metros, e numa área de 50 hectares, compreendendo: 
  • um muro;
  • fossos;
  • barbacã;
  • cerca de 40 torres, redondas e quadrangulares;
  • dez portas e dois postigos.
É designado por cerca nova e surge da necessidade de proteger o importante aglomerado populacional que tinha crescido fora do perímetro amuralhado inicial (os arrabaldes).

Esta nova muralha, trabalho grosseiro de alvenaria, de notória fragilidade, apresenta diferenças construtivas ao longo do seu corpo, o qual ostenta cunhais de granito aparelhado. A cerca nova é descrita na legenda da «Planta do Recinto e Fortificação de Évora», de 1900 (cópia de planta de 1856), provavelmente baseada nos elementos apresentados pelo padre Manuel Fialho, na sua obra Évora Ilustrada, 1703- (BPE, Cód. CXXX /1,8, Tomo I, fl.304-304v.):
  • «Comprehendia em tempo o ambito de 3452 passos na forma seguinte: da Porta de Aviz á do Moinho de Vento 416: d’esta á da Traição 154: d’esta á de Machede 262: d’esta à de Mendo Estevens 190:d’esta á da Mesquita 370: d’esta á do Rocio 370: d’esta á do Raymundo 488: désta á de Alcouxel 300: d’esta á da Lagõa 532: e d’esta á de Aviz 370 passos.
Perdeu 4 portas: a do Moinho de Vento e a da Traição com a edificação dos Collegiaes da Purificação e do Espírito Santo; a de Machede, com a construção do forte do mesmo nome, e da Mesquita (por ser contigua á dos Mouros). (LIMA,1996:39)

Cortesia de agendacultural
O último circuito de reforço das muralhas e fortificações de Évora, denominado moderno, teve origem na luta pela independência portuguesa de Castela, após a Revolução de 1640. A evolução da pirobalística tornou obsoletas as fortificações medievais, impondo muitas intervenções tendentes à sua adaptação e modernização. Em 1659, o engenheiro-mor Nicolau de Langres fez uma planta das fortificações de Évora, com memória descritiva do Conde de Atouguia, a qual viria a ser aprovada. Mas, Nicolau de Langres, em 1660, passou a servir Castela e este projecto não foi rigorosamente cumprido pelos engenheiros portugueses que, no entanto, seguiram a sua filosofia.
O projecto definitivo, e o que veio a ser executado, foi o do cosmógrafo-mor Luís Serrão Pimentel, baseado no de Nicolau de Langres. Esta fortificação chegou ao primeiro quartel do século XIX e ainda hoje, apesar de algumas demolições impostas por vários arranjos urbanísticos, é reconstituível. Dela subsistem um forte, o de Santo António e, ligados à cerca nova, vários baluartes, do Aça e do Picadeiro, do Príncipe e do Conde de Lippe, de S. Bartolomeu, dos Apóstolos e de Nossa Senhora de Machede. Mas, desapareceu a obra cornua do Rossio de S. Brás e o fortim dos Penedos, também chamado contra-forte.

Estes três esquemas sucessivos de muralhas e fortificações abainham todo o Centro Histórico de Évora, tendo constituído um dos motivos de valorização patrimonial que levaram à atribuição da classificação de Évora a Património Mundial da Humanidade pela Unesco em 1986.

Bibliografia
CARVALHO, Afonso de – Da toponímia de Évora: dos meados do século XII a finais do século XIV. Lisboa: Colibri, 2004.
ESPANCA, Túlio – Inventário artístico do concelho de Évora. Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1966, 2 Vols.
LIMA, Miguel Pedroso de – O recinto amuralhado de Évora. [Lisboa]: Estar, 1996.

Cortesia de Agenda Cultural de Évora, Março 2011/JDACT