segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Vieira de Almeida: «Figura cativante e polémica, capaz de simultaneamente comandar o respeito intelectual. Foi decisivo na evolução da sociedade portuguesa ao longo do século XX

(1888-1962)
Castelo Branco
Cortesia de memoriarecenteeantiga

Com a devida vénia a Carlos Leone e ao Instituto Camões.

«Francisco Lopes Vieira de Almeida foi uma figura filosófica e cultural de grande relevo na sociedade portuguesa durante a primeira metade do século XXVieira de Almeida foi, enquanto professor, autor e personalidade, um caso invulgar de rigor filosófico e atenção cívica que, embora hoje pouco lembrado, não pode ser esquecido quando se trabalha a história e a cultura portuguesas contemporâneas.
Doutorado pela Faculdade de Letras de Lisboa em Filosofia, ingressou como docente na Universidade pelo grupo de História em 1915. Em 1921 voltou à área de Filosofia onde ascende a catedrático em 1930, mantendo-se em actividade permanente até 1958.

Apesar de entre a sua extensa bibliografia encontrarmos poesia, romance a e teatro, bem como traduções, é a sua actividade como professor e ensaísta na área de Filosofia e também de História que o distingue. Ora, Vieira de Almeida foi um percursor dessa especialização disciplinar, sendo um dos raros autores portugueses com trabalhos de relevo em Lógica (e na sua divulgação), mas nunca abdicando de um compromisso político explícito apesar dos dissabores que o regime lhe causou mesmo em idade avançada.

Cortesia de arqnet
Monárquico, e próximo de autores como Pequito Rebelo e Hipólito Raposo nos alvores da I República, não demorou muito a cativar simpatia noutros quadrantes e não espanta, por isso, ver o seu nome entre os fundadores da breve (apenas dois números) Revista dos Homens Livres «livres das Finanças e livres dos Partidos», projecto frentista contra a degeneração da República na década de 1920. Fracassada essa «frente», e implantada a ditadura que estará na base do Estado Novo, Vieira de Almeida encontra-se já próximo do grupo Seara Nova, com o qual mantêm contactos, através de Câmara Reys, mesmo depois de António Sérgio se afastar da revista.

Uma figura intelectual de referência, o seu primeiro trabalho filosoficamente relevante data de 1922, A Impensabilidade da Negativa, sempre se manteve disponível para apoiar a oposição nos períodos de maior repressão, entre as décadas de 1930 e 1950. Mesmo Humberto Delgado, que na sua campanha de 1958 não escondia o seu desgosto com a «guerra dos papéis» daqueles já idosos vultos da I República, os «barbas», não deixou de o apreciar em particular, pela sua independência, vivacidade e, provavelmente, percurso político pouco comum (no qual o próprio Delgado talvez se revisse, com outras matizes). Na ressaca dessa campanha e do seu desfecho, encontramos Vieira de Almeida entre os «quatro grandes», Vieira de Almeida, Jaime Cortesão, António Sérgio e Azevedo Gomes, expressão de Mário Soares no volume de homenagem a Vieira de Almeida no centenário do seu nascimento.
Cortesia de historia7alfandega
Figura cativante e polémica, capaz de simultaneamente comandar o respeito intelectual de especialistas e chegar a públicos mais amplos, os estudos dedicados ao seu pensamento não são muitos. Um esquecimento tanto mais lamentável quanto a sua combinação de actividade cívica, pública, e diversidade intelectual, em particular científica, é rara e particularmente valiosa para apreciar um processo de mudanças institucionais que foi decisivo na evolução da sociedade portuguesa ao longo do século XX». In Carlos Leone, Instituto Camões.

Cortesia do Instituto Camões/JDACT