segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Salvaterra de Magos. Em torno do Foral: A Génese dum Concelho. «Apenas em 1294, o concelho de Santarém concedeu a posse e propriedade do Paul de Magos a D. Dinis, doação à qual se seguiu a renúncia de algumas lezírias, até aí na posse do concelho»

Cortesia de tomaracidade

Com a devida vénia a Hermínia V. Vilar e o concelho de Salvaterra de Magos da Pré-História ao século XVIII.

A ocupação e rentabilização do espaço
«A região onde Salvaterra de Magos se veio a implantar e a desenvolver, principalmente, a partir de finais do século XIII, constituía já, nas décadas anteriores, um espaço privilegiado de ocupação humana e de produção cerealífera. Ao longo das margens irrigadas do Tejo, nas vários campos e parcelas que se estendiam em paralelo ao leito, ciclicamente transbordável, deste curso fluvìal, cultivavam-se os cereais, tão profusamente consumidos no período medieval.
Nessa zona polarizada em torno do Tejo, enquanto eixo vivificador do rentabilidade das suas margens e eixo de comunicação, por excelência, intra e inter-regional, cedo se estruturou um pólo, que procurou, em paralelo, catalizar a actividade económica e assumir-se como o centro político duma região.

D. Dinis
Cortesia de flickr
Na verdade, Santarém apresentou-se no decurso destes séculos, como o principal centro urbano desta zona, aonde afluíam muitos dos produtos produzidos na região que lhe ficava a montante e a jusante, muitas vezes sob o aspecto de foros cobrados pelas instìtuições religiosas e pelos membros da nobreza ou da oligarquia locol que aí residiam, e que detinham terras nos campos em redor.
Como seria de esperar, a rentabilidade desta região provocou um retalhar da sua superfície em propriedades detidas pelas mais diversos entidades. Aí coexistia o rei proprietário, através dos seus numerosos reguengos, com o nobre de corte como Estevão Eanes ou João Peres de Aboim, e com o mercador ou cavaleiro sediado em Santarém, sem esquecer as numerosas instituições religiosas que aí detinham bens, num
eixo que compreendia e que se estendia ao longo do curso do Teio, regra geral, até aos campos da Golegã. Com efeito, de entre as igrejas e conventos que aí possuíam uma ou mais parcelas, dois grupos se parecem poder destacar, de ocordo com um critério de localização:
  • as instituições sediadas em Lisboa, como o mosteiro de Chelas e o de S. Vicente de Fora, entre outras,
  • as instaladas em Santarém, com realce para os conventos de Sta. Clara e de S. Domingos, além das diversas colegiadas da vila.
No fundo, rivalizavam por uma zona que os dois núcleos urbanos também disputavam, numa luta de contornos administrativos e económicos, concretizada nas pequenas disputas territoriais que, invariavelmente, se colocavam.

Paul de Magos
Cortesia de flickr
Contudo, a luta não compreendia apenas o enfrentamento entre proprietários e interesses. A outra frente de conflito colocava-se ao nível da luta contra o elemento natural, representado pela entrada da água do Tejo nos terrenos e consequente alagamento, que impedia o seu cultivo. O aumento da área cultivada nesta região implicou grandes obras de drenagem das zonas mais alagadiças e que, entre os finais do século XIII e o decurso do XIV, foram enxutas e exploradas.
Especificamente, ao Paul de Magos, base onomástica do povoação de Salvaterra, este pertencia, no início de Duzentos, ao concelho de Santarém. A par de outros paúis, charnecas e lezírias, como as de Alcoelha, Atalaia e e Freceira, o concelho de Santarém explorava também o Paul de Magos, localizado na margem oposta do Tejo, acima de Benavente.
Apenas em 1294, este concelho concedeu a posse e propriedade deste Paul a D. Dinis, doação à qual se seguiu a renúncia de algumas lezírias, até aí na posse do concelho». In Hermínia V. Vilar, o concelho de Salvaterra de Magos da Pré-História ao século XVIII, edição da CM de Salvaterra de Magos.

Continua.
Cortesia e Hermínia Vilar/CMSalvaterra de Magos/JDACT