quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Maria Amália Vaz de Carvalho: A primeira mulher a ingressar na Academia das Ciências de Lisboa, eleita em 13 de Junho de 1912. A sua residência foi o primeiro salão literário de Lisboa, por onde passaram grandes nomes da literatura e da cultura portuguesa

(1847-1921)
Lisboa
Cortesia de mulheresdeontem

Maria Amália Vaz de Carvalho foi uma escritora polígrafa e poetisa, autora de contos e poesia, mas também de ensaios e biografias. Colaborou em diversos jornais e revistas, publicando crónicas de crítica literária e opiniões sobre ética e educação, para além de ter analisado, com notável clarividência, a condição e o papel da mulher na sociedade do seu tempo. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia das Ciências de Lisboa, eleita em 13 de Junho de 1912.

Cortesia de emule
Escreveu em várias publicações portuguesas e brasileiras, com o pseudónimo de Maria de Sucena. A obra de Maria Amália Vaz de Carvalho, tem um carácter de versatilidade. Das suas obras, salienta-se Contos para os nossos filhos, uma compilação de contos infantis, publicada em 1886, escrita em parceria com o seu marido, o poeta Gonçalo Crespo, e que foram aprovados pelo Conselho Superior de Instrução Pública para utilização nas escolas primárias.

Cortesia de jfsantacatarina
A sua residência foi o primeiro salão literário de Lisboa, por onde passaram grandes nomes da literatura e da cultura portuguesa, como Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão ou Guerra Junqueiro.

Algumas Obras:
  • Uma Primavera de Mulher (1867, poema em quatro cantos),
  • Vozes do Ermo (1876), 
  • Arabesco, Cartas a uma Noiva (1911),
  • Crónicas de Valentina,
  • Contos para os Nossos Filhos, 
  • A Arte de Viver em Sociedade (1895),
  • Serões no Campo, Figuras de Hoje e de Ontem (1902),
  • Cérebros e Corações (1903),
  • Ao Correr do Tempo (1906),
  • Impressões da História (1909), etc.

A Reabilitação do Amor
À indiferença oponhamos o amor, à dúvida oponhamos a fé. O céu tem ainda o azul radiante dos dias da mocidade; a natureza é ainda a bela insensível, que assiste radiosa e iluminada às nossas lágrimas eternas, que o vento enxuga num momento!
Contemplemos de mais alto a evolução dos ideais e a transformação das coisas. Se na terra somos efémeros de uma hora, nunca se quebra a cadeia que se vai forjando, dos ideais belos que concebemos ao passar.
Soframos, tal é o nosso destino e quase o nosso dever, mas amemos, que é o meio de tornarmos fecunda para os outros a dor que acima de nós mesmo nos levanta, a dor que é inspiração de todo o bom, de todo o belo, que em nós há. O pessimismo leva à abdicação da vontade, à própria negação do sofrimento, pela completa insensibilidade a que aspira, e que de vez em quando já começa a atingir.
Não vale a pena! Eis a divisa da nossa desolada geração!
Pois é necessário que, em contradição e em protesto a este lema egoístico, se levante das nossas entranhas de mães, dos nossos corações de mulheres, um grito de amor intenso, um grito de amor fecundante e poderoso. Porque um dos defeitos da nossa quadra é este: depois de termos da do ao amor um lugar enorme, predominante, decisivo e tirânico, tendemos a cercear-lhe todos os direitos, a destruir-lhe todas as influências boas.
O nosso século, que por meio de radiante romantismo fez do amor o Deus pagão que foi na Renascença, hoje, pela escola científica do temperamento e do meio, vai fazer do amor um poder inconsciente, que, segundo as circunstâncias em que é chamado a actuar, é um órgão de reprodução animal, ou um elemento de corrupção dissolvente.
Reabilitemos o amor.
Façamos dele alguma coisa de mais ou de menos do que o estão fazendo os mestres da literatura contemporânea, fotógrafos, neste ponto, dos costumes decadentes da época.
Ele não é a suprema e última embriaguez embrutecedora em que a humanidade tende a adormecer, como essa literatura de sensualismo agonizante, parece querer demonstrar-nos; pelo contrário, ele, é a fonte da eterna juventude em que, os velhos, da velhice precoce deste século, da velhice que se traduz pelo excesso do pensamento e da sensação, podem ainda retemperar as forças exaustas; é dele que podem ainda partir as grandes iniciativas transformadoras, as poderosas e viris energias, os sonhos iluminados da virtude e do bem. In Cartas a Luísa. Cortesia do Projecto Vercial.

Cortesia de Projecto Vercial/JDACT