terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Abel Salazar: «A visão ampla das diversas disciplinas que cultivou justifica a actualidade dos conceitos que formulou. Atitude que se encontra nos estudos filosóficos da arte e da ciência que nos legou e cuja leitura revela uma universalidade de pensamento»

(1889-1946)
Guimarães
Cortesia de dererummundi

Abel Salazar ingressa em 1909 na Escola Médico-Cirúrgica do Porto e em 1915 concluiu o seu curso de Medicina e apresenta a tese inaugural «Ensaio de Psicologia Filosófica» com 20 valores. Logo no começo da carreira  preocupou-se com a indagação do significado psicológico e filosófico do seu trabalho. Se o trabalho de 1915, se enquadrava nas preocupações da época, já o de «A Orientação Filosófica da Histologia Moderna» de 1917, contrastava com o seco morfologismo e o monismo positivista tradicional dos seus colegas da especialidade.

Apenas 30 anos de idade, Abel Salazar é nomeado Professor Catedrático de Histologia e Embriologia. Nesse ano funda e dirige o Instituto de Histologia e Embriologia da Faculdade de Medicina do Porto, um modesto centro de estudos, onde apesar da falta de recursos financeiros, Abel Salazar consegue realizar uma série de notáveis trabalhos de investigação.

Sede da Fundação
Cortesia de regionaleditora  
A par de uma orientação pedagógica inovadora no contexto da época, entendendo a actividade docente como uma investigação colectiva e a si próprio como um companheiro de trabalho, privilegiando o confronto de ideias, dando liberdade aos alunos de aparecerem nas horas que mais lhes conviessem, lançando a ideia de os alunos designarem representantes para fazerem parte do júri de exames. Como investigador, empreende uma série de pesquisas tendentes a definir, a esclarecer a estrutura e evolução do ovário, criando o célebre método de coloração tano-férrico, de análise microscópica, que lhe abre caminhos no meio científico Método Tano-férrico de Salazar.

Cortesia de homemdoslivros
Em 1935, é afastado da sua cátedra e do seu laboratório, sem mesmo poder frequentar a biblioteca, nem ausentar-se do País (Portaria de 5 de Junho) em que foram expulsos também outros professores universitários, como Aurélio Quintanilha, Manuel Rodrigues Lapa, Sílvio Lima e Norton de Matos.
No seu curriculum escreve:
  • Além dos trabalhos científicos fiz na Universidade cursos sobre a Filosofia da Arte, conferências sobre a Filosofia, onde desenvolvi um sistema de Filosofia que acabo de constatar com satisfação ser bastante próximo da Escola de Viena. Foi o desenvolvimento deste sistema filosófico que, tendo desagradado à Ditadura e ao Catolicismo, foram a causa principal da minha revogação. Mas, como a ditadura não se podia basear nesta questão, ela torneou a questão, fazendo através da sua imprensa uma campanha de difamação, etc., após a qual me demitiu sem processo nem julgamento (…). Esclareço que nunca fui político, toda a minha vida me ocupei unicamente da actividade intelectual.
Publicou 113 trabalhos científicos nas áreas dos aparelhos de Golgi e Para Golgi, método tano-férrico, ovário, tecido conjuntivo, anatomia do cérebro, tecido celular, sangue, técnica de desenho microscópico e temas gerais.
Cortesia de fotolog
O afastamento da vida académica permite-lhe desenvolver uma produção artística variada na temática e na expressão plástica:
  • gravura,
  • pintura mural,
  • pintura a óleo de paisagens,
  • retratos,
  • ilustração da vida da mulher trabalhadora e da mulher parisiense,
  • aguarelas,
  • desenhos,
  • caricaturas,
  • escultura,
  • cobres martelados.
«Homem Exemplar» segundo palavras do Prof. Alberto Saavedra, seu amigo íntimo e que entre outros lançou a iniciativa em 1946 da criação da Fundação Abel Salazar». In Maria Luísa Fernandes, Instituto Camões. 

Cortesia de Instituto Camões/JDACT