sábado, 8 de janeiro de 2011

Malangatana: Nos últimos 50 anos foi muito mais do que pintor. Fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até deputado

(1936-2011)
Matalana, Moçambique
Cortesia de obitpatrol

Malangatana Valente Nguenha foi um dos pintores moçambicanos mais conhecidos em todo o mundo. Em 1997 foi nomeado pela UNESCO «Artista pela Paz».

Trabalhou em vários ofícios humildes, tendo entrado no Núcleo de Arte da então cidade de Lourenço Marques, actualmente Maputo.

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Nos últimos 50 anos foi muito mais do que pintor. Fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até deputado da FRELIMO.
  
Malangatana viveu parte da sua adolescência junto dos colonos portugueses, os mesmos que o iniciaram na pintura, primeiro o artista plástico e biólogo Augusto Cabral e depois o arquitecto Pancho Guedes.

Cortesia de geopedrados
O pintor iria «nascer» quando Malangatana foi a casa de Augusto Cabral e o viu a pintar um painel. Ensine-me a pintar, pediu e ele deu-lhe tintas, pincéis e placas de contraplacado. Agora pinta, disse ao jovem, ao que este perguntou:
  • pinto o quê?”
  • O que está dentro da tua cabeça, respondeu Augusto Cabral.
O jovem viria a ter também o apoio de outro português, o arquitecto Pancho Guedes, que lhe disponibilizou um espaço na garagem de sua casa de Maputo e lhe comprava dois quadros por mês, a preços inflacionados. Em poucos meses Malangatana quis fazer uma exposição e foi, para espanto confesso de Augusto Cabral, um enorme sucesso.

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Fica-lhe no pincel, a opressão colonial, a guerra civil. A paz reflecte-se numa pintura mais optimista e nos últimos anos foi um carácter mais sensual que a caracterizou.
Usava sempre o quotidiano. «Há sempre um manancial de temas a abordar. São os acontecimentos do mundo, às vezes tristes, outras alegres, e eu não fico indiferente. Seja em Moçambique, ou noutra parte do mundo, a dor humana é a mesma», disse numa entrevista à Agência Lusa.

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Já homem, com a pintura como profissão, confessou ao jornalista Machado da Graça que sentia grande aproximação com os artistas portugueses desde os anos 70, quando foi pela primeira a Portugal, como bolseiro da Gulbenkian.

Foi um dos criadores do Museu Nacional de Arte de Moçambique, dinamizador do Núcleo de Arte, colaborador da Unicef e arquitecto de um sonho antigo, que levou para a frente, a criação de um Centro Cultural na «sua Matalana». Fez inúmeras exposições e tem murais em Maputo e na Beira, na África do Sul e na Suazilândia, e também na Suécia e na Colômbia.

Cortesia de perve
Foi nomeado Artista pela Paz (UNESCO), recebeu o prémio Príncipe Claus, e de Portugal levou também a medalha da Ordem do Infante D.Henrique.
Em Portugal morreu o pastor, mainato e pintor. Malangatana. Valente.

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Cortesia de Jornal Público/JDACT