quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

As Forcas do Distrito de Portalegre. Parte II: A Arquitectura e a implantação das forcas. «... forcas de madeira são as mais comuns. Contudo, encontramos entre elas algumas variantes. As mais simples eram obtidas por dois paus em forma de Y, em forma de forca, onde se encaixava a trave ou madeiro para suspensão dos condenados»

Cortesia de edicoescolibri

Com a devida vénia a Jorge de Oliveira e Ana Cristina Tomás.

A Arquitectura e a implantação das forcas do distrito de Portalegre
«No distrito de Portalegre, encontramos urna larga variedade de forcas. A forca clássica e a mais simples e, provavelmente, a mais generalizada é a constituída por dois mastros de madeira encimados transversalmente por outra peça, igualmente de madeira, onde se atava o «baraço» ou corda para suspensão do condenado. Geralmente, estas forcas eram montadas ou reabilitadas sempre que alguém era condenado à morte.
Quando a pena era estabelecida como «morte perpétua», implicava que o corpo do condenado ficasse suspenso até ao próximo dia de Todos os Santos, dia 1 de Novembro. Nesse dia, os Irmãos da Misericórdia organizavam a denominada Procissão dos Ossos e recolhiam os restos mortais dos condenados à morte, sepultando-os nas imediações da igreja da Misericórdia, ou em espaço do cemitério nas proximidades da forca. Estas forcas de madeira são, de facto, as mais comuns. Contudo, encontramos, também, entre elas algumas variantes. As mais simples eram obtidas por dois paus em forma de Y isto é, em forma de forca, onde se encaixava a trave ou madeiro para suspensão dos condenados. Com esta forma não encontrámos nenhuma no distrito de Portalegre. As mais comuns seriam as semelhantes às que Duarte D'Armas representa em Alpalhão.
Forca simples de Vinhais, segundo Duarte D'Armas
Cortesia de edicoescolibri 
Dois pilares paralelepipédicos, em madeira, sobre os quais outro, igualmente de madeira, era fixo. A forca do Crato, também de madeira, apresentada graficamente em 1620 por Nunes Tinoco, mostra os dois mastros verticais encimados por um elemento decorativo. Também de madeira, mas de três pilares, era a forca improvisada de Portalegre, em 1704. As forcas de três pilares eram raras em todo o País, embora se conheça uma autorização régia para a Câmara do Porto montar uma na Ribeira, em substituição da que anteriormente se erguia no Campo das Malvas, que deu lugar à Igreja dos Clérigos. Aliás, a expressão «ir às malvas» significa, exactamente, mandar alguém para a forca. As forcas de três pilares apenas se justificavam quando se tratava de um lugar com grande incidência de condenações à morte. Mas as forcas de madeira poderiam estar montadas sobre um patíbulo, igualmente de madeira, embora fossem mais raras.

No distrito de Portalegre, encontramos outra variante de forcas e também bastante comuns. Com dois pilares paralelepipédicos em alvenaria, com trave de madeira, encontramo-las em Cabeço de Vide e, pelo menos, em Monforte, sendo estas as que sobreviveram até aos nossos dias. Também de alvenaria, mas apenas de um pilar, com gancho lateral de pedra ou ferro, temos testemunhos no distrito de Portalegre. Referimo-nos à de Monte da Pedra, com gancho em pedra, e à de Figueira e Barros e Alegrete, ambas com gancho de ferro. Mais complexas e elaboradas eram a forca de Elvas e, pelo menos, a de Arronches, apresentadas graficamente por Duarte D'Armas.

Forca de Alpalhão, segundo Duarte D'Armas
Cortesia de edicoescolibri
Estas, muito idênticas, foram construídas em alvenaria, com planta quadrangular, em forma de torre ameada, sobre a qual se desenvolve um arco, igualmente coroado por ameias. Deste arco era suspenso o condenado. Acedia-se à torre-forca por uma porta, no caso da de Arronches, de volta perfeita. Atendendo à proporção possível de estabelecer a partir da de Elvas, poderemos afirmar que a altura total da construção ultrapassaria os cinco metros e que os lados da base deveriam rondar os quatro metros. Estas forcas-fortaleza, para além de inspirarem maior temor, respondiam â uma das normais queixas, que, com frequência, se encontram ao longo da Idade Moderna. Informações encontrámos que se referem a ordens régias para que as forcas, sobretudo onde «padeciam» condenados a «morte perpétua», fossem protegidas no seu entorno, para que os cães e outros animais não despedaçassem os membros inferiores dos condenados. Interessante é o desenho que se guarda no Arquivo Distrital de Évora, publicado por Tulio Espanca, onde se representa o projecto da forca desta cidade, que foi submetido à apreciação dos vereadores e que veio a ser construída na saída para Lisboa, em substituição da anterior. Este desenho, datado de 1616, mostra-nos uma forca, em corte, algo semelhante às de Elvas e Arronches.


Planta da forca municipal levantada no ano de 1616 pelo mestre pedreiro António de Oliveira.
Situada extra-muros entre as portas de Alconchel e da Lagoa.
Cortesia de edicoescolibri
Estas forcas mais elaboradas implicavam um esforço acrescido para a respectiva câmara, quando comparado com os custos com forcas simples de madeira. Contudo, a construção de uma forca mais imponente, para além de significar maior poder tinha, seguramente, também maior efeito intimidatório entre os potenciais criminosos. Este efeito era igualmente assegurado pelo local estratégico onde eram erguidas. Sem excepções, as forcas eram montadas ou construídas sempre fora do espaço urbano, num local bem visível». In Jorge de Oliveira e Ana Cristina Tomás, As Forcas do distrito de Portalegre, edições Colibri, Novembreo de 2007, ISBN 978-972-772-767-4 (obra ofertada por JC e SB em Agosto de 2008).


Forca de Arronches, segundo Duarte D'Armas
Cortesia de edicoescolibri

A amizade de JC, SB e CM.
Cortesia de Edições Colibri/JDACT