terça-feira, 23 de novembro de 2010

Princípios da Gestão da Qualidade: Parte I. «Os números deveriam fazer reflectir os chefes de empresa que ainda não crêem na eficácia da gestão da qualidade. Mas é verdade que qualquer acção neste domínio não é eficaz a não ser que tenha sido cuidadosamente preparada, em particular por uma formação intensiva dos funcionários»

Cortesia de FCGulbenkian

A gestão da qualidade interessa à maior parte do pessoal de uma empresa e, todavia, as despesas totais que é necessário para o conseguir são muito modestas. Com efeito, ela dá a cada empregado os meios de definir ele próprio as tarefas mais apropriadas para a obtenção da qualidade, no enquadramento do manual da qualidade. Este documento, no enquadramento do manual da qualidade. Este documento é elaborado num clima de participação e é constantemente revisto. Para manter em vigor os objectivos e os métodos assim definidos, os empregados de todos os níveis hierárquicos são frequentemente reunidos dentro do enquadramento de uma formação permanente. Verifica-se com efeito que os procedimentos se esbatem na práticas e não forem submetidos regularmente a um esforço de reflexão. Trata-se de uma formação interna que se traduz tanto pelo treino em métodos de trabalho como pela aquisição de conhecimentos novos. A formação em estatística toma aí uma parte importante. Com efeito, a estatística, base da gestão da qualidade, aparece cada vez mais como uma nova linguagem para o meio industrial: não se trata só de uma ciência com aplicações múltiplas, mes também de uma verdadeira forma de pensar e de se exprimir na vida profissional. Numa empresa, a gestão da qualidade interessa portanto particularmente ao serviço de pessoal, pois que participa na valorização do potencial de cada empregado.

Cortesia de exkola
Faz portanto participar eficazmente o pessoal nas acções que dizem respeito à marcha da empresa; tem-se assim um excelente meio para demonstrar na prática que o consenso é, realizável e para criar condições favoráveis para uma aplicação mais geral do que no domínio da qualidade.

Reconhece-se hoje em dia que a indústria sofre dos excessos da pulverização do trabalho. Este mal não diz respeito apenas às oficinas, mas também à maior parte dos sectores industriais e até às actividades de serviços. Traduz-se no plano profissional por um certo grau de passividade perante os problemas profissionais e no plano social por uma desmotivação cuja gravidade se avalia agora. A especialização extrema que se conhece, tornada indispensável pela complexidade de numerosos processos industriais, não está em causa. Pelo contrário, a compartimentação das funções, a exclusividade das informações, a rigidez das responsabilidades, aberrações de um sistema de trabalho que não é condenável em si mesmo, desintegram a coerência das acções da empresa e comprometem os seus resultados. Em particular, o executante perde todo o espírito de iniciativa - e dá-se muitas vezes esse caso - como uma roda de um mecanismo complexo, cuja regulação e arranjo só alguns privilegiados podem alterar.

Cortesia de itversawordpress
Nestas situações, a gestão da qualidade renova um estado de espírito que encoraja as iniciativas razoáveis e permite considerar novas estruturas, novas condições de trabalho, favoráveis à competitividade e, ao mesmo tempo, à paz social.

Todas as empresas, sem excepção, têm interesse em dotar-se de um sistema de gestão da qualidade. Este sistema reforça ao mesmo tempo a imagem de marca e a rendibilidade; é por isso que as empresas que o sabem utilizar ganham muita vantagem em relação às restantes. A experiência actual permite afirmar que a gestão da qualidade pode ser implantada com sucesso numa pequena empresa, assim como numa grande sociedade, tanto numa actividade de serviços como numa empresa de produção. Vêem-se por exemplo hoje em dia empresas francesas com algumas dezenas de pessoas lançar-se na gestão da qualidade, sob o impulso do director-geral e superar a crise que põe em risco os seus concorrentes. Vêem-se, por outro lado, grandes empresas que fizeram há poucos anos o esforço de pôr em acção um sistema completo de gestão da qualidade, apresentar hoje em dia êxitos notáveis. São bem conhecidas pela reputação dos seus produtos.

Além disso, com o objectivo de terem a certeza da qualidade dos produtos encomendados, alguns grandes compradores, tanto em França como no estrangeiro, impõem aos seus fornecedores um sistema de garantia da qualidade que eles próprios definiram. Este sistema, se é sempre favorável a qualidade dos produtos, portanto à imagem de marca do fornecedor, não aponta necessariamente no sentido da rendibilidade. Algumas experiências discutíveis lançaram um certo descrédito sobre este sistema. Mas o fornecedor deve defender os seus interesses neste domínio no decurso da negociação do contrato e estará armado da melhor forma para o fazer quando tiver uma experiência prévia de gestão da qualidade. As tarefas suplementares exigidas pela garantia da qualidade devem evidentemente ser pagas pelo cliente, sobretudo se não forem úteis à gestão da empresa.

Cortesia de cespu
Os empresários franceses são geralmente bastante discretos acerca dos seus métodos de gestão e dos resultados a que dão origem. Contudo, um inquérito incidindo sobre cerca de vinte empresas de dimensão média que praticam convenientemente a gestão da qualidade revela que o sistema posto em prática não custou mais do que l% do montante de vendas durante o primeiro ano, que o seu custo de funcionamento se situa entre 0,l% e 0,4%, que o lucro bruto subiu de 30 a 50% a partir do segundo ano e que as vendas aumentaram regularmente em volume.
Estes números deveriam fazer reflectir os chefes de empresa que ainda não crêem na eficácia da gestão da qualidade. Mas é verdade que qualquer acção neste domínio não é eficaz a não ser que tenha sido cuidadosamente preparada, em particular por uma formação intensiva do pessoal.

Cortesia de colegiolourdes
No Japão, por exemplo, 30 000 encarregados frequentam todos os anos um estágio de uma a três semanas, sobre gestão da qualidade. 2000 engenheiros e 300 chefes de empresa seguem também um estágio de uma semana completa, adaptado às suas funções. Este esforço considerável, sustentado a partir de 1960, colocou a indústria japonesa na primeira linha mundial, em numerosos sectores. É preciso notar também que as empresas que não souberam tomar as disposições necessárias no momento oportuno foram geralmente à falência. In La Maitrise de la Qualité Industrielle, 3ª edição, Princípios da Gestão da Qualidade, Robert Fey, Jean-Marie Gogue.

Cortesia de Fundação Calouste Gulbenkian/JDACT