sábado, 23 de outubro de 2010

Raúl Proença: Um dos intelectuais mais activos e influentes durante as primeiras décadas deste século, sempre eivado de inabalável espírito democrático. A linha de fundo que dá coerência a toda a sua obra é o socialismo democrático, a par da crítica da moral burguesa

(1884-1941)
Caldas da Rainha
Cortesia de wikipédia

Com a devida vénia a Pedro Calafate.

Raúl Sangreman Proença, mais conhecido por Raúl Proença, foi um escritor, jornalista e intelectual, membro do grupo que fundou a revista Seara Nova.
Afirmou-se como figura cimeira do pensamento político português no primeiro quartel do século XX, marcando decisivamente a intervenção cívica durante a 1ª República Portuguesa, cujos vícios generalizados e corrupção criticou duramente.
Integrou, para além da Renascença Portuguesa, o grupo fundador da Seara Nova, 1921, e o chamado grupo da Biblioteca Nacional, 1919-1926. Trabalhou como bibliotecário, ascendendo a chefe dos serviços técnicos da Biblioteca Nacional de Lisboa, da qual era funcionário desde 1911, tendo ali colaborado directamente com Jaime Cortesão quando este dirigiu a instituição.

Combateu o Sidonismo, 1918 e a Ditadura Militar 1926 que, em 1927, o condenou ao exílio em Paris.

Cortesia de memoriarecenteeantiga 
«Raúl Proença foi dos intelectuais mais activos e influentes durante as primeiras décadas deste século, sempre eivado de inabalável espírito democrático, mas profundamente crítico dos vícios do regime republicano e da corrupção generalizada a que se não mostrava capaz de pôr cobro.
A temática central de toda a sua obra, dispersa por centenas de artigos de revista e jornal, e em múltiplas cartas e manifestos é primacialmente ético-política, encontrando a sua razão de ser no esforço a que se entregou para arrostar de frente com o que considerava a nossa debilidade moral, na qual radicava a preocupante e dramática consciência de decadência do país. Assim, a linha de fundo que dá coerência a toda a sua obra é o socialismo democrático, a par da crítica da moral burguesa e de todas as soluções ditatoriais. Neste contexto interveniente e reformador, foi colaborador activo, primeiro, da Renascença Portuguesa, e depois, após a cisão que se seguiu à imposição por Pascoaes do saudosismo como essência do espírito do movimento, da Seara Nova, de que foi fundador. Como escreveu nos primeiros anos da sua actividade, atormentava-o uma atmosfera e um sentimento de mal-estar que era a primeira condição do «movimento» e do desejo de «alguma coisa». A causa já tinha sido diagnosticada pelos homens da Geração de 70: três séculos de educação jesuítica tinham matado as energias vivas e as forças íntimas que séculos antes nos colocaram a par da civilização mundial.

Cortesia de arepublicano
Daí a nossa configuração no início do século, traduzindo-se numa quase completa ausência de largueza de alma e de espírito solidário, matando à nascença a nossa capacidade de realização como povo, pois renunciando à liberdade, perderamos a dignidade nação e pátria.
Filosoficamente, definiu-se como idealista e realista, sem ver contradição na confluência dos termos, pois não lhe importava tanto o lado metafísico ou gnosiológico da questão, mas sobretudo a sua vertente prática, expressa nas instâncias ética e política. Realismo era a exigência do conhecimento integral das realidades com que o homem se debate, não admitindo que se definam soluções e planos de acção «fora desse conhecimento realista e objectivo», e distantes «da verdadeira natureza do homem e dos factos sociais». Foi por não os julgar realistas neste sentido que repudiou o comunismo, o anarquismo ou o integralismo, já por não emanarem da análise dos factos sociais, já por atentarem contra a natureza e dignidade do homem.

Cortesia de arepublicano
O seu socialismo democrático fez também dele um crítico da moral burguesa, a moral do prazer e da ausência da dor que eleva e purifica, a moral da mediania onde confluiam a ferocidade egoísta dos poderosos e o desejo de estabilidade dos seus políticos, estiolando a educação e a escola pelos critérios de uma instrução prática, esquecendo que o mais prático de todos os sistemas ou modelos de educação é o que se revelar mais capaz para melhorar as almas dos homens, ensinando-lhes não a «jantar a vida» mas a «vivê-la», porque a moral por que lutou não era uma lição ascética de desprezo pela vida, fazendo-a triste e sem encanto». In Instituto Camões, Centro Virtual, Pedro Calafate.

Cortesia de arepublicano
Alguma  bibliografia da Raúl Proença:
  • «O determinismo e a apatia nacional», Alma Nacional, nº8, 1910;
  • «O orgulho e a utopia», Alma Nacional, nº 18, 1910;
  • «A Arte é Social?», A Águia, 1ª série, nº 2 e 3, 1910-1911;
  • «A educação moral em Portugal», Alma Nacional, nº 6, 1910;
  • «Ao Povo - A «Renascença Portuguesa», A Vida Portuguesa, nº 22, 1914;
  • «A situação política», A Águia, nº 2, 2ª série, Fevereiro de 1912;
  • «Da Ditadura à suspensão dos direitos políticos», A Águia, nº 43, 2ª série, Julho de 1915;
  • ( ... )
  • «O problema religioso», Seara Nova, nº19, 3-11-1926;
  • «Sobre a existência de Deus e a lealdade da consciência», Seara Nova, nº 40, 1925;
  • «O Evangelho contra o Evangelho e o Mundo Cristão contra o Cristianismo», Seara Nova, nº 648, 1940;
  • «O progresso e as doutrinas científicas», Seara Nova, nº 10, 1922;
  • «Da defesa da Democracia (1ª parte)», Seara Nova, nº 182, 1929;
  • «Os Letrados e a Democracia», Seara Nova, nº 126, 1928;
  • «Sobre a teoria do eterno retorno», Seara Nova, nº 555, 1938.
Cortesia de Centro Virtual do Instituto Camões/Triplov/JDACT