terça-feira, 19 de outubro de 2010

Os selos 2008 dos CTT: Faróis de Portugal. A mais antiga referência histórica a faróis portugueses aponta para o ano de 1515 e refere-se ao farol instalado no convento do cabo de S. Vicente, antecessor do que hoje ali existe, que aloja, por sinal, a óptica de maior dimensão alguma vez usada entre nós

Cortesia de CTT
Com a devida vénia aos CTT.

«Diferentemente do que sucede com os mareantes, que neles vêem sobretudo uma ajuda à navegação, os faróis são para o observador desinteressado ou ocasional uma fonte de mistério, que facilmente convoca toda a espécie de mitos e lendas.
A verdade é que se trata de construções humanas, cuja vida foi desde o início votada a preservar a de quem anda no mar — ontem por necessidade apenas, hoje também por prazer.
É provável que existissem primitivos faróis correspondendo, em certos locais da costa, aos «fachos» de que há memória antes do primeiro quartel do século XVI, mas deles não subsistem registos fidedignos para lá da toponímia.

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A mais antiga referência histórica a faróis portugueses aponta para as proximidades de 1515 e refere-se ao farol instalado no convento do cabo de S. Vicente, antecessor do que hoje ali existe, que aloja, por sinal, a óptica de maior dimensão alguma vez usada entre nós.
Os traços dominantes destes antepassados dos actuais faróis eram o aproveitamento de edificações pré-existentes ou acidentes naturais, o carácter efémero ou sazonal do seu funcionamento, a falta de abrigo para a luz, produzida por uma qualquer chama, e a sua guarda e manutenção por religiosos ou confrarias de marítimos. Um exemplo é o de Nossa Senhora da Guia, em Cascais, que data provavelmente de 1537. Há que notar, contudo, que já se haviam construído estruturas propositadamente concebidas para o efeito, como a torre de S. Miguel-o-Anjo, junto à foz do rio Douro, erigida em 1528.

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O século XVII não trouxe desenvolvimento da farolagem digno de nota, se exceptuarmos a primeira luz que existiu na ermida de Nossa Senhora da Luz, próxima da foz do rio Douro, em 1680. Data de 1758, em plena gestão pombalina, a primeira iniciativa formal, centralizada, de se criarem novos faróis de funcionamento permanente, em número de seis. É assim que no século XVIII nascem os do cabo Carvoeiro, do cabo da Roca, de S. Julião, do Bugio e do cabo Espichel.
Contudo, foi sobretudo a partir do século XIX que a sinalização marítima conheceu entre nós um desenvolvimento sem precedentes.

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Ainda assim, esse acerto do passo com as restantes nações marítimas não só foi lento, como francamente assimétrico: a instalação dos faróis da Madeira e dos Açores caracterizar-se-ia por um atraso ainda mais marcado. Ao consultarem-se as datas de construção de edifícios especificamente destinados a servir de faróis e já dotados de lanterna abrigando uma óptica, podemos avaliá-lo cotejando a data da colocação do mais antigo do continente português, precisamente o que sucedeu ao primitivo de Nossa Senhora da Luz (1761) com a do primeiro a iluminar a Madeira (ponta de S. Lourenço, de 1870) ou com o decano dos instalados no arquipélago dos Açores (ponta do Arnel, de 1876).
A organização dos faróis passou, muito esquematicamente, por três fases. Confiada inicialmente a corporações marítimas ou confrarias de religiosos, passaria em 1758 a depender de organismos oficiais civis (transferiu-se sucessivamente da Junta do Comércio para o Ministério da Fazenda, em 1833, e posteriormente para o das Obras Públicas), acabando por ser entregue à Marinha, situação que se mantém desde 1892.


Cortesia de CTT
A gestão profissionalizada e a introdução de aperfeiçoamentos técnicos no âmbito das origens luminosas, dos sistemas ópticos, das fontes de energia, da mecânica e dos meios de comando e controlo determinaram as grandes transformações que se deram no período decorrido entre o estabelecimento do primeiro e a inauguração do último grande farol português, que foi o da ponta dos Rosais, na ilha de S. Jorge, em 1954. Como este, uns quantos não resistiram aos caprichos da natureza e hoje são apenas pálida sombra do que foram, ruína ou simples memória.
A maioria dos faróis continua, porém, a existir, adaptando-se progressivamente às necessidades dos seus utilizadores, quer dispondo de faroleiros residentes, quer funcionando autonomamente.
Em qualquer caso, retratá-los é, precisamente, trazê-los à memória; por outras palavras, mantê-los vivos». In Selos 2008 dos CTT.

Com a amizase de RR.
Cortesia dos CTT/JDACT