quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Marquesa de Alorna: A Alcipe. Apesar dos seus trabalhos artísticos e literários, era de carácter afável, sabia amenizar com a sua meiguice e candura filial as amarguras de sua pobre mãe. Devido ao marquês de Pombal, viveu 19 anos no convento de Chelas


(1750-1839)
Lisboa
Cortesia de arqnet

Leonor de Almeida Lorena e Lencastre, condessa de Oeynhausen, 7.ª condessa de Assumar e 4.ª marquesa de Alorna. Notável poetisa, uma das mais notáveis vozes do pré-romantismo em Portugal.
A sua  infância foi bastante atribulada. Aos 8 anos foi encerrada como prisioneira em companhia de sua mãe e sua irmã no convento de Chelas, enquanto que seu pai estava preso na Torre de Belém, passando depois para o forte da Junqueira, como suspeito de ter tido conhecimento do celebre crime dos Távoras.  Este infortúnio durou 18 anos, findos os quais, por morte de el-rei D. José, D. Maria I, subindo ao trono, mandou pôr em liberdade todos os prisioneiros do Estado.
Cortesia de germinaliteratura
Na sua reclusão do convento de Chelas, passou a primeira quadra da vida, em companhia de sua mãe e de sua irmã, entregando-se a profundos estudos, à composição de melodiosas poesias, que alcançaram grande fama e que figuraram depois nas suas obras completas com o titulo de Poesias de Chelas. Além dos sócios da Arcádia, havia bons poetas, entre os quais se distinguia Francisco Manuel do Nascimento, com o nome Flinto Elísio. Este poeta, com alguns amigos, começou a ir ao convento de Chelas, recitando versos, pedindo motes às freiras, esperando nessas ocasiões encontrar Leonor de Almeida e ouvi-la na grade. Com efeito a jovem poetisa apareceu, brilhou e confundiu os admiradores do seu talento. Data destes encontros o nome de Alcipe, com que eles a celebraram.

Cortesia defeiradeantiguidades
 Apesar dos seus trabalhos artísticos e literários, porque Leonor entregava-se também à pintura, dispunha ainda de tempo para ajudar no serviço da enfermeira, da refeitoreira e de organista do convento. Conhecia a fundo varias línguas, tinha uma vasta instrução científica, desenhava e pintava admiravelmente, sem desdenhar ao mesmo tempo as prendas próprias do seu sexo. Era de carácter afável, sabia amenizar com a sua meiguice e candura filial as amarguras de sua pobre mãe, tornara-se muito querida pela sua amabilidade de todas as religiosas do convento. Quando o marquês saiu da prisão, dirigiu-se ao convento, onde na grade o esperavam sua mulher e filhas, acompanhadas de parentes e mais pessoas para o cumprimentarem. O marquês e sua família foram viver para a quinta de Vale de Nabais, que possuam nas proximidades de Almeirim.  Saiu do convento aos 27 anos «em situação moral demasiadamente penosa para que sua poesia pudesse ser o risonho passatempo da época», diz Hernâni Cidade. 
D. Leonor de Almeida era o encanto e o enlevo da sociedade da época. O seu talento, o prestigio do infortúnio que sofrera, a audácia de ter afrontado as iras do marquês de Pombal, tornaram-na  digna da maior consideração e respeito. Casou com um fidalgo alemão e viajou por vários países da Europa, sendo notada  como poetisa, e pelos seus trabalhos de pintura.

Às Musas
Co'a frauta agreste os beiços compremindo,
Desde que alva a manhã se despertava,
Ante Febo submissa me prostrava,
O sublime furor ao Deus pedindo.

Iam-se os Céus co'a clara luz abrindo,
Morfeu ao mundo alegre costas dava,
E Délio, sem mostrar que m'escutava
A rápida carreira prosseguindo.

Sobre a tripode em vão triste me sento,
Corro os três tetracordes sobre a lira,
Nenhum iguala a voz do meu tormento.

Musas cruéis, se aquele que delira
Mil vezes em vós acha acolhimento,
Porque não confortais a quem suspira?

Após ter enviuvado «entregou-se» à educação dos filhos, tornando-se muito estimada por todos, pelos grandes benefícios que dispensava constantemente aos pobres. Quando estava em Almeirim, pagava a uma mestra para ensinar as raparigas, tanto daquela vila como das povoações vizinhas, a ler, escrever, coser, e outras prendas próprias do seu sexo.


 Cortesia deoslorenas
As obras da marquesa de Alorna foram publicadas depois da sua morte:
  • Obras poéticas de D. Leonor de Almeida, seis volumes.
  • Tomo I: Noticia biográfica da marquesa, seguida de outra notícia histórica de seu esposo o conde de Oeynhausen; Poesias compostas no mosteiro de Chelas; Poesias escritas depois da saída do mosteiro de Chelas; 
  • Tomo II: Continuação das poesias líricas, escritas depois da saída do mosteiro de Chelas;
  • Tomo III: A primavera, tradução livre do poema das Estações de Thompson; os primeiros seis cantos do Oberon, poema de Wieland, traduzidos do alemão; Darthula, poema traduzido de Ossian; tradução de uma parte do livro I da Ilíada em oitava rima;
  • Tomo IV: Recreações botânicas, poema original em seis cantos; O Cemitério da aldeia, elegia, imitada de Gray; O Eremita, balada imitada de Goldsmith; Ode, imitada de Fulvio Testi; Ode de Lamartine a Flinto Elysio, traduzida; Epistola a lord Byron, imitação da 2ª meditação de Lamartine; imitação da 28ª meditação do mesmo poeta, intitulada: Deus;
  • Tomo V: Poética de Horácio, traduzida com o texto; Ensaio sobre a critica, de Pope com o texto; O rapto de Proserpina, poema de Claudiano em quatro livros com o texto;
  • Tomo VI: Paráfrase dos cento e cinquenta salmos que compõem o Saltério, em várias espécies de ritmo seguida da paráfrase do vários cânticos bíblicos e hinos da igreja. Parece que a paráfrase dos salmos não fora feita sobre a vulgata, mas sim sobre a versão italiana de Xavier Matthei. Uma parte do Saltério já fora publicada em vida da autora, num volume de 4.º, impresso em Lisboa, em 1833. A outra parte saíra também anteriormente com o título: Paráfrase e vários salmos, Lisboa, 1817; também haviam sido impressas em Londres em 8.º gr. as traduções da Poética de Horácio, e do Ensaio sobre a crítica, de Pope.
Cortesia de iplb
A cantora Misia de Portugal, interpreta em seu disco CANTO, de 2003, com produção musical de Carlos Paredes a canção de Alcipe.
http://www.4shared.com/file/183466407/8944606e/Cancao_de_Alcipe_Afonso_Correi.html

Canção de Alcipe
Sozinha no bosque fui
com meus tristes pensamentos,
lá calei minhas saudades,
e fiz trégua aos meus tormentos.
Olhei então para a lua
que as sombras já rasgava,
e, no tremular das águas,
seus raios soltava.
Seus raios soltava.
Nessa torrente
da despedida
vejo, assustada,
a minha vida.
Do peito as dores
iam cessar,
voa a tristeza
torna o meu penar.
Do peito as dores
iam cessar,
tornam tristezas
a voar.


Cortesia de wikipédia/Dicionário Histórico, vol. I/Projecto Vercial/JDACT