sábado, 16 de outubro de 2010

Leituras. Parte I: O Doente Inglês. «Uma obra magnífica, magistral, escrita a sangue e lágrimas, onde ler é uma viagem pela melancolia e pela tristeza. Um livro belissimamente triste. Sim, porque a tristeza pode ser bela»

Cortesia de globerecommends

O Doente Inglês, The English Patient
Autor: Michael Ondaatje
Tradutor: Ana Luisa Faria
 Editora: Público
Género: Romance
Ano de Publicação da 1ª Edição: 1992
Ano de Publicação da Edição Corrente: 2003
Páginas: 318
ISBN: 84-9789-014-0

Com a devida vénia ao CITADOR.

Opinião:
«A solidão que é a soma de quatro almas. Quatro pessoas, quatro vidas disformes, moldadas pelo infortúnio. A solidão e um livro magoado que exala tristeza, uma obra triste como a guerra e como a soma de quatro solidões. Um doente horrivelmente queimado, uma enfermeira dedicada que sacrifica a vida por ele, um soldado indiano que a guerra fez autómato revoltado e Caravaggio, velho soldado espião e ladrão, perigoso, perdido na vida como o pintor italiano.
A segunda guerra mundial e a respectiva desgraça humana como pano de fundo: um mundo destroçado porque o mundo é feito de corpos e almas, agora dilaceradas pelo monstro que o homem inventou e a que chamam ódio. Quatro seres que já não procuram explicações nem futuro; apenas talvez a paz que um refúgio num velho mosteiro pode ainda trazer.
O Inglês esqueceu tudo, queimado por dentro e por fora, tudo para ele são sombras disformes excepto Katharine e o deserto. Nada mais faz sentido senão o deserto mapeado pelo velho Heródoto, ultimo e primeiro a compreender o mundo, e o amor. Katharine, a imagem da vida, da morte e do amor, enfim, talvez seja tudo a mesmo coisa.

Cortesia de starpulse
Kip, uma vida de submissão do colono indiano à velha senhora, a Inglaterra, um passado de humilhação e revolta abafada disfarçado na coragem do sapador heróico, desarmando bombas que por todo o lado desfazem outras vidas.
Hanna, perdida e vítima da vida, desterrada do belo Canadá para os intestinos do mundo, a Europa, a velha Europa onde se morre apenas. E Hanna sobrevive porque ainda existe essa réstia heróica de vida – o amor. Um amor difuso, talvez pelo doente, talvez por Kip ou Caravaggio, talvez por ela própria ou pela humanidade, pouco importa.
Caravaggio, perdido no mundo, à procura de Hanna ou do que possa sobrar da vida. Para lá de uma Itália dilacerada, um deserto africano que preenche memórias de vida. Porque “só no deserto há Deus. (…) fora dali apenas havia comércio e poder, dinheiro e guerra.”

Cortesia de telegraphco
Sentimentos fortes e paixões profundas acabam por unir os quatro personagens da obra, como forças superiores e tirânicas. O amor leva-os a viajar pela vida: Londres, Cairo, o deserto ou a India; não existe amor sem viagens por onde os espíritos vagueiam. E o amor, esse lugar estranho que fica onde as almas solitárias se completam. Uma obra magnífica, magistral, escrita a sangue e lágrimas, onde ler é uma viagem pela melancolia e pela tristeza. Um livro belissimamente triste. Sim, porque a tristeza pode ser bela».
Utilizador: Manuel Cardoso Gomes, Braga


Cortesia de O Citador
Com amizade, JDACT