segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Alfredo Keil: Um cosmopolita que dividiu a sua produção artística entre a pintura e a música. A narrativa de Donna Bianca, a primeira das três óperas do compositor, baseada no poema homónimo de Almeida Garrett, ficciona uma história trágica de amor entre a infanta Dona Branca, filha de Afonso III, e o rei mouro dos Algarves

(1850-1907)
Lisboa
Cortesia da bnportugal
Cortesia de cm-sintra 
Alfredo Cristiano Keil foi um compositor de música, pintor, arqueólogo e coleccionador de arte.
Pintor do romantismo numa época em que a arte mundial ia em direcção do realismo. Músico e compositor lírico, escritor e poeta, Keil não era um pintor de tempo integral, embora também não fosse um artista de fins-de-semana, pois pintava regularmente e deixou centenas de quadros com impressão fina e delicada, de excelente qualidade. Era um pintor de paisagens, mas também de interiores requintados, como o quadro Leitura de uma Carta, trazido a público em 1874 e recebido com entusiasmo.

«Leitura de uma carta»
Cortesia de wikipédia
Foi na música, sobretudo, que ele obteve seu maior sucesso, havendo composto o hino pátrio A Portuguesa. A composição mais conhecida foi a Marcha Fúnebre. De entre os livros que publicou, destaca-se Tojos e Rosmaninhos (poesias, 1908), obra tríplice inspirada nas lendas e tradições de Ferreira do Zêzere, concelho ainda hoje designado pela «Barbizon» de Portugal.
No Cais do Tejo
Cortesia de jokerartgallery
Como compositor, ganhou destaque a sua ópera D. Branca (1883), Irene (1893) e a Serrana (1899), então considerada a melhor ópera portuguesa.

Compôs a música de A Portuguesa, o hino nacional, em 1891, com letra do poeta e dramaturgo Henrique Lopes de Mendonça, aprovada em 1911, após a Proclamação da República. Ironicamente, Alfredo Keil morreu três anos antes.

Um Rebanho em Sintra
Cortesia de jokerartgallery


Na sequência do adiamento, a ópera Dona Branca, de Alfredo Keil, em versão de concerto, será apresentada nas seguintes datas:
  • Quarta-feira, 29 de Setembro de 2010 às 20h00;
  • Sexta-feira, 1 de Outubro de 2010 às 20h00;
  • Domingo, 3 de Outubro de 2010 às 16h00;
  • Terça-feira, 5 de Outubro de 2010 às 16h00 (Tarde de Família).
Drama lírico em quatro partes e prólogo. Libreto de César Ferreal sobre poema Dona Branca, de Almeida Garrett. Estreada em 1888 em Lisboa, Real Teatro de São Carlos.
Direcção Musical Johannes Stert.
Projecção de fotografias de Duarte Belo. Orquestra Sinfónica Portuguesa. Coro do Teatro Nacional de São Carlos.

Intérpretes:
  • Dona Branca, Infanta de Portugal Ausrine Stundyte;
  • Aben-Afan, Rei do Algarve John Hudson;
  • Adaour, confidente de Aben-Afan Luís Rodrigues;
  • A Fada Maria Luísa de Freitas;
  • Dom Paio Peres Correia,Grão-Mestre da Ordem de Santiago Nuno Dias;
  • Dom Nuno, Escudeiro Musa Nkuna;
  • Uma Velha Moura Laryssa Savchenko;
  • Alda, Dama de Honor Chelsey Schill;


Ausrine Stundyte (D. Branca)
Cortesia de zagovecartists
«Quando Donna Bianca, de Alfredo Keil, estreou mundialmente no Real Teatro de São Carlos, em 1888, crescia, nos meios intelectuais portugueses, a ambição de uma música de identidade claramente nacional, assente na música popular tradicional. No entanto, se por um lado, ao longo da segunda metade do século XIX, os libretos das produções operáticas, entregues a compositores portugueses, eram frequentemente baseados em obras literárias do romantismo português, de Alexandre Herculano, Almeida Garrett ou Camilo Castelo Branco, por outro lado, no plano musical, a orientação estética assentava recorrentemente numa profunda influência do modelo italiano e, em especial, na obra de Verdi.

Alfredo Keil, um cosmopolita diletante, de ascendência alemã, que dividiu a sua bem sucedida produção artística entre a pintura e a música, manteve-se fiel à influência italiana, embora se sinta já no seu estilo alguma absorção da música francesa, em especial de Jules Massenet. A narrativa de Donna Bianca, a primeira das três óperas do compositor, baseada no poema homónimo de Almeida Garrett, ficciona uma história trágica de amor entre a infanta Dona Branca, filha de Afonso III, e o rei mouro dos Algarves, tendo como pano de fundo a reconquista da região. Se a temática heróica e sentimental demonstra alguma lusitanidade, já o recurso ao italiano como língua operática por excelência, uma constante nas óperas de autores portugueses da época, e a ausência de um autêntico estilo estético nacional frustra a ânsia patriótica do final do século XIX. Ainda assim, devido a uma sólida composição musical dramática, Donna Bianca foi recebida com forte entusiasmo, revelando, se não uma obra intrinsecamente portuguesa, um dos mais importantes compositores nacionais deste período». In Texto, Tiago Cutileiro e Marta Navarro.

Cortesia do Teatro Nacional de S. Carlos/JDACT