quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Navegações Portuguesas: Parte VIII. Latitude

Cortesia de tutorvista

Com a devida vénia a António Costa Canas e ao Instituto-Camões, publico algumas palavras.

As técnicas de navegação usadas pelos primeiros marinheiros que exploraram as costas africanas tinham a sua origem no Mar Mediterrâneo. Aí navegava‑se recorrendo ao chamado método de «rumo e estima». Sabendo qual o rumo e a distância que unia os pontos de partida e de chegada, bastava navegar ao longo dessa direcção, estimando o piloto a distância percorrida.  
O processo acima indicado serve perfeitamente para ser usado em distâncias relativamente curtas, como acontece no Mar Mediterrâneo ou no caso de se navegar próximo de costa. No entanto, os erros associados a este processo vão‑se acumulando. Este problema tornou‑se importante quando, no regresso das terras para sul do Bojador, se tornou necessário fazer a volta pelo largo, navegando bastante tempo sem avistar qualquer terra. Existem fortes indícios que nos levam a supor que esta volta era praticada pelo menos desde finais da primeira metade do século X.

Cortesia de ancruzeiros
A mais antiga referência conhecida ao recurso a observações astronómicas para rectificar a posição é atribuída a Diogo Gomes. Este, cerca de 1460, refere que teria utilizado um quadrante para saber onde se encontrava, pela altura do pólo árctico, pois a posição que obtivera pela carta era afectada de maiores erros.

As primeiras observações de estrelas, ou melhor da Polar, que se encontra praticamente sobre o pólo norte, não serviam para calcular a latitude de um local mas simplesmente para conhecer quando o navio se encontrava sobre o mesmo paralelo de um local conhecido. Para tal bastava registar no quadrante o valor da altura lido em vários locais, para depois usar essa informação como uma conhecença.
Entretanto foi desenvolvido um regimento no qual eram explicadas as regras de utilização da altura da Estrela Polar para obtenção da latitude. Este regimento é necessário porque de facto a Polar não se encontra exactamente sobre o pólo Norte, mas executa uma pequena rotação em torno deste. Por outro lado, conforme se caminha para sul a estrela vai ficando cada vez mais próxima do horizonte até que desaparece quando se cruza o equador. O dito regimento não tem qualquer utilidade para quem navegue no hemisfério sul, sendo necessário encontrar outro processo de determinação da latitude.

Cortesia de geographyworldonline
A solução do problema foi o recurso à observação da altura do Sol no momento da sua passagem meridiana, isto é quando ele atinge a altura máxima no seu percurso diurno. Foram também desenvolvidos regimentos com as regras para cálculo da latitude, assim como almanaques que forneciam o valor da declinação do Sol para os diferentes dias do ano. João de Barros informa‑nos que na primeira viagem de Vasco da Gama teria sido determinada a latitude de um local com recurso a este processo, sendo ele conhecido, portanto, desde finais do século XV.

O cálculo da latitude pelo Sol poderia ser realizado em ambos os hemisférios. No entanto, conforme iam conhecendo melhor o céu do hemisfério sul os marinheiros portugueses, com o apoio dos astrólogos, desenvolveram também um regimento que permitia a determinação da latitude, durante a noite, recorrendo a estrelas que apenas são visíveis naquele hemisfério. Infelizmente nos céus do sul não existe uma estrela tão próxima do pólo como acontece com a Polar no hemisfério norte. O regimento do Cruzeiro do Sul estava elaborado nos primeiros anos do século XVI, embora a estrela desta constelação que era utilizada para o cálculo, a Crucis, se encontre a uma distância de cerca de trinta graus do pólo sul.

Cortesia de nautilus
Resumindo, a latitude é uma coordenada que pode ser obtida, com relativa facilidade, recorrendo a observações astronómicas. A observação do facto de que navegando para Norte ou para Sul, isto é variando a latitude, conduzia a uma alteração da altura da Estrela Polar levou ao aproveitamento desta variação para conhecer melhor a posição do navio no mar. Posteriormente foram desenvolvidos processos para cálculo desta coordenada, recorrendo à Polar, ao Sol ou a outras estrelas, quando aquela não se encontrava visível. In António Costa Canas, Instituto Camões.

Expedição de Diogo Gomes
Cortesia de chersoft
Bibliografia
  • ALBUQUERQUE, Luís de, Introdução à História dos Descobrimentos Portugueses. 4ª ed., Mem Martins, Publicações Europa‑América, 1989;
  • COSTA, Abel Fontoura da, A Marinharia dos Descobrimentos, 4ª ed., Lisboa, Edições Culturais de Marinha, 1983.
Cortesia do Instituto Camões/JDACT