terça-feira, 10 de agosto de 2010

Joaquim Paço d'Arcos: Escrever é vencer a morte. Escrever é projectar-se além da vida, é vencer a morte. Um dia esta virá, de surpresa, ou tardia

(1908-1979)
Lisboa
Cortesia de osveencidosdavida
Joaquim Belford Correia da Silva, conhecido como Joaquim Paço d'Arcos, foi um escritor português.
Joaquim Paço d'Arcos foi director dos serviços de imprensa do Ministério dos Negócios Estrangeiros durante dezenas de anos.

Cortesia de leiloes
Várias vezes galardoado com prémios literários, Joaquim Paço d'Arcos colocou, num momento de emergência do Neo-Realismo e de polémica sobre a finalidade social do romance, a sua escrita sob os modelos de Stendhal e de Eça de Queirós, escudando sob a imparcialidade dos mestres realistas (cf. O Romance e o Romancista, 1943) um certo conservadorismo doutrinário. Considerando a sua obra liberta de qualquer compromisso político, social ou religioso e vocacionada exclusivamente para valores universais e eternos como a pintura das paixões humanas e o desenho de frescos sociais, nega, ao mesmo tempo, que o apuramento técnico e o trabalho do estilo constituam uma ferramenta fundamental na escrita romanesca.

Cortesia de bloguilibri.wordpress
Algumas obras:
  • Patologia da Dignidade, 1928;
  • Herói Derradeiro – Romance, 1933;
  • Amores e Viagens de Pedro Manuel – Novelas, 1935;
  • Diário dum Emigrante - Romance, 1936, Prémio Eça de Queirós;
  • Ana Paula (Perfil duma Lisboeta) – Romance, 1938, Prémio Ricardo Malheiros (recusado pelo autor);
  • O Cúmplice – Peça em três actos, 1940;
  • Ansiedade – Romance, 1940;
  • Neve sobre o Mar – Novelas, 1942, Prémio Fialho de Almeida;
  • O Ausente – Peça em três actos, 1944, Prémio Gil Vicente;
  • O Caminho da Culpa – Romance, 1944;
  • Tons Verdes em Fundo Escuro – Romance, 1946;
  • Paulina Vestida de Azul – Peça em três actos, 1948;
  • Espelho de Três Faces – Romance, 1950;
  • O Navio dos Mortos e Outras Novelas – Novelas, 1952;
  • Poemas Imperfeitos – 1952;
  • A Floresta de Cimento (Claridade e Sombras dos Estados Unidos) – 1953;
  • A Corça Prisioneira – Romance, 1956;
  • Carnaval e Outros Contos – Contos, 1958;
  • Carlos Malheiro Dias, Escritor Luso-Brasileiro – Ensaio, 1961;
  • Algumas Palavras sobre a Missão do Escritor – 1961;
  • Memórias duma Nota de Banco – Romance, 1962;
  • O Braço da Justiça – Peça em nove quadros, 1964, Prémio da Casa da Imprensa: «O melhor dramaturgo»;
  • Cela 27 – Romance, 1965;
  • A Dolorosa Razão duma Atitude – 1965;
  • Novelas pouco Exemplares – Novelas, 1967;
  • Antepassados, Vendem-se – Peça em treze quadros, 1970;
  • Memórias da Minha Vida e do Meu Tempo, (3 vols., 1973, 1976 e 1979)
Joaquim Paço d'Arcos foi um dos escritores portugueses do século XX mais traduzidos no estrangeiro, tendo alcançado em vida grande notoriedade como ficcionista. O conjunto de obras que publicou sob o título genérico Crónica da Vida Lisboeta foi considerado por muitos críticos, quer portugueses, quer brasileiros, fundamental no âmbito da literatura portuguesa.

Cortesia de blogdaruaonze
Após a sua morte, em 1979, foi praticamente esquecido. Romancista, dramaturgo, ensaísta e poeta, premiado diversas vezes, foi muito lido nos anos 40 e 50. Uma das suas obras mais conhecidas é o conjunto de seis romances Crónicas da Vida Lisboeta.
Na poesia, o seu livro mais conhecido é Poemas Imperfeitos, de 1952.

Escrever é vencer a morte
Escrever é projectar-se além da Vida,
É vencer a morte.
Um dia esta virá, de surpresa, ou tardia,
Mas uma coisa não levará, não reduzirá a cinzas,
E sobre ela a sua álgida mão não terá poder.

Ó morte, eu sei que tu me aniquilarás,
Mas não destruirás esta página
em que escrevo o teu nome,
O teu nome odiado e cruel.
Quantos seres derrubaste em volta de mim!
A todos apavoras.
Mas outras vidas há que não estão à tua mercê,
E essas, que nós criamos
Com a música das nossas palavras,
Com a febre do nosso espírito,
Com a ambição do nosso sonho,
Essas - sobreviver-nos-ão
E o teu amplexo não as envolverá.

O que fica do artista, para além dele, não te pertence;
Basta que nós te pertençamos.
Joaquim Paço d’Arcos, in «Poemas imperfeitos»

Cortesia de wikipédia/JDACT