quinta-feira, 12 de agosto de 2010

João Apolinário: Usou a prática cultural nunca partidária, quer na poesia, no teatro e no jornalismo, dum modo especial na crítica e na reportagem. A acutilância das suas ideias progressistas, levaram-no, em jovem, a acções de real protecção a quem delas necessitava

(1924-1988)
Belas, Sintra
Cortesia de jornalismoempauta
João Apolinário Teixeira Pinto foi um poeta e jornalista português. Combateu o Estado Novo quer na sua terra natal, como nos seus anos de exílio no Brasil. Colaborou em inumeras publicações importantes nos dois paises.
Aos 21 anos, optando por não advogar, poeta já assíduo da Brasileira do Chiado e jornalista, foi para a França como correspondente da Agência Logos. Viver os terríveis últimos tempos da Segunda Guerra Mundial marcou-o definitiva e cruamente. Depois de alguns anos em Paris - frequentou Artes Gráficas na Sorbonne, conheceu Sartre, Simone de Beauvoir, os intelectuais do Café de Flore, Antonin Artaud, Jean Genet, Marcel Marceau, Édith Piaf, viu o teatro de rua de Henri Gheon.
Integrou grupos de intelectuais, poetas e jornalistas. Foi co-fundador do Teatro Experimental do Porto.


A prática cultural, nunca partidária, de João Apolinário, na poesia, no teatro, no jornalismo, especialmente na crítica e na reportagem; a acutilância de suas ideias progressistas e não colonialistas, mais acções de real protecção a quem delas necessitasse, resultaram em prisões e torturas.
Publicou Morse de Sangue, livro memorizado numa cela subterrânea de Peniche, durante cinco dias e cinco noite. Recebeu companhias teatrais brasileiras, como a de Cacilda Becker, actriz maior em língua portuguesa. Como resultado disso, em 1963, começou a viver o exílio imposto pela ditadura. Partiu para São Paulo em Dezembro.
Cortesia de noticiasdecastelodevide
Durante três meses, de Janeiro a Abril, na redacção do jornal Última Hora, de São Paulo, usufruiu, pela primeira vez, do privilégio da liberdade de expressão e de uma vida diária sem pressões político-policiais. Em Abril de 1964 teve início um período longo de ditadura militar no Brasil. O poeta, jornalista a tempo inteiro agora, voltou a escrever nas entrelinhas. Para não ter o pensamento alterado por um qualquer director de jornal, mesmo que amigo, as críticas de teatro, na Última Hora e no jornal O Globo, não foram pagas. Ele assim o decidiu e fez. Assimilou a cultura brasileira. E por ela deixou-se assimilar. Sofreu ameaças de morte do Comando de Caça aos Comunistas. Era um nacionalista num país em que o crime era uma realidade.

Fundou, com outros jornalistas, a APCA,  Associação Paulista de Críticos de Arte, uma referência incontornável na crítica teatral brasileira por ter o espectáculo como sujeito, onde havia poesia, que está contida no Poeta Descalço.
Em Abril de 1975 voltou a Portugal. Por razões várias e inesperadas, não deixou de ser jurista, como pretendia. Dividiu-se novamente. De 1980 a 1988 escreveu Sonetos Populares Incompletos, ainda inédito. A morte surpreendeu-o em 1988, justamente quando havia reencontrado, na vila de Marvão, o silêncio e o tempo para ver mudar as estações do ano.

Marvão
Cortesia de wikipédia
Bibliografia
Poesia
  • Morse de Sangue, Porto 1955;
  • O Guardador de Automóveis , Porto;
  • Primavera de Estrelas, Porto 1961;
  • Apátridas, São Paulo, 1975;
  • AmorfazerAmor , Lisboa 1978;
  • O Poeta Descalço;
  • Poemas Cívicos,Lisboa;
  • Eco Humus Homem Lógico , Lisboa
Teatro:
  • A Arte de Dizer, Porto.
Reportagem:
  • Ensaio para uma nova ideia de Teatro - Jornal Última Hora de São Paulo;
  • Portugal- Revolução Modelo , Rio de Janeiro, 1974.
Canções:
Poemas de João Apolinário.
  • A Primavera nos Dentes - (Morse de Sangue);
  • Urgente…Mais Flores ou A Luta Necessária – (Morse de Sangue);
  • Sei (Eu sei) - (Poeta Descalço);
  • Doce Doçura - (Poeta Descalço);
  • Os metálicos Senhores Satânicos - (Poeta Descalço);
  • Minha namorada - (Poeta Descalço);
  • Angústia - (Poeta Descalço);
  • Vôo - (Primavera de Estrelas);
  • Flores Astrais - (Primavera de Estrelas);
  • Amor - (Poeta Descalço);
  • Os Portugueses lançam o Império ao Mar;
  • Urgente…Mais Flores ou A Luta Necessária – (Morse de Sangue).
Da escrita
Da poesia
faço
uma raiz
que gera
a haste
oculta
da palavra
em flor
__
Abro as portas
desta melancolia
fechada no poema
por nascer
e sinto essa magia
suprema

de o escrever.
João Apolinário, in «Eco Húmus Homem Lógico»

Cortesia de wikipédia/JDACT