sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Crise 1383-1385: Foi um período de «guerra civil e anarquia» da História de Portugal, conhecido como «Interregno», uma vez que não existia rei no poder. A crise começou com a morte do rei D. Fernando sem herdeiros masculinos

Cortesia de prof2000
A Crise de 1383-1385 foi um período de guerra civil e anarquia da História de Portugal, também conhecido como Interregno, uma vez que não existia rei no poder. A crise começou com a morte do rei Fernando de Portugal sem herdeiros masculinos.
Apesar de as Cortes de Coimbra terem escolhido, em 1385, um novo rei, João I de Portugal, o rei João I de Castela não desistiu de tentar conquistar um novo reino para si e invadiu Portugal. O exército castelhano era muito mais numeroso mas, mesmo assim, foi derrotado na batalha de Aljubarrota. Os exércitos portugueses foram comandados, mais uma vez, por Nuno Álvares Pereira, nomeado por João I de Portugal Condestável do Reino.

Cortesia de culturaestrangeira
Em 1383, o Rei Fernando de Portugal estava a morrer. Do seu casamento com Leonor Teles de Menezes apenas uma rapariga, a Infanta Beatriz, havia sobrevivido à infância. O seu casamento era por isso uma questão muito importante para o futuro do reino. Ao sabor das vicissitudes do pai nas suas guerras com Castela, a Infanta foi sucessivamente prometida em casamento a dois príncipes castelhanos, a um inglês e, de novo, a um castelhano, Fernando, filho segundo de João I de Castela. O casamento de Beatriz acabou por ser decidido, a proposta de seu pai, pelo tratado antenupcial de Salvaterra de Magos, negociado em Março de 1383 e posterior, portanto, ao tratado de paz de Elvas que terminou a terceira guerra do rei Fernando contra Castela em Agosto de 1382. Pelas disposições daquele tratado de Salvaterra, o rei João I de Castela (Juan I, daqui em diante) casar-se-ia com Beatriz e o filho varão que nascesse desse casamento herdaria o reino de Portugal, se entretanto Fernando I morresse sem herdeiros. O casamento foi celebrado em Maio de 1383, mas era uma solução mal vista pela maioria dos portugueses, uma vez que poderia implicar, caso Beatriz falecesse antes de seu marido e sem filhos, a união dinástica de Portugal e Castela e a consequente perda da independência.
Cortesia de warwick
Muitas personalidades quer da nobreza, quer da classe de mercadores e comerciantes estavam contra esta opção, mas não se encontravam unidos quanto à escolha alternativa.  Dois candidatos emergiram, ambos meios-irmãos bastardos do rei moribundo:
  • João, filho do Rei Pedro I de Portugal e Inês de Castro, a viver então exilado em Castela e que logo após a morte de Fernando I ali foi preso;
  • João, Grão-Mestre de Avis, outro bastardo de Pedro I (filho de Teresa Lourenço, provavelmente aia de Inês de Castro), menos popular no reino, ao início da Crise, que o seu meio-irmão João.
A 22 de Outubro de 1383, Fernando de Portugal morre. De acordo com o contrato de casamento de Beatriz e Juan I de Castela, a regência do reino é entregue a Leonor Teles de Menezes, agora rainha viúva. A partir de então, as hipóteses de resolver o conflito de forma diplomática esgotaram-se rapidamente e a facção independentista tomou medidas mais drásticas, iniciando-se a Crise de 1383-1385.

Cortesia de carvalhaisdelavos
Entre o fim de 1384, princípio de 1385, Nuno Álvares Pereira subjugou a maioria das cidades portuguesas que haviam declarado apoio à princesa Beatriz e ao marido Juan I de Castela. Durante a Páscoa, chegaram a Portugal as tropas inglesas enviadas em resposta ao pedido de ajuda feito por João de Aviz. Apesar de não serem um grande contingente, contavam-se à volta de 600 homens, eram tropas na sua maioria veteranas da Guerra dos Cem Anos, bem treinados nas tácticas de sucesso da infantaria inglesa. Entre o contingente inglês, encontrava-se uma divisão de archeiros, que haviam provado o seu valor contra cargas de cavalaria.

Com tudo a jogar a seu favor, João de Aviz organizou uma reunião das Cortes em Coimbra, juntando todas as figuras importantes do reino. É aí que, a 6 de Abril, foi aclamado João I, Rei de Portugal, primeiro da Dinastia de Aviz, num claro acto de guerra contra as pretensões castelhanas. Num dos seus primeiros éditos reais, João I nomeia Nuno Álvares Pereira Condestável de Portugal e protector do reino. Pouco depois, rei e general partem para o Norte, para acabar com os últimos focos de apoio a Castela.

Cortesia de forum.trasosmontes
Em Castela, Juan I não hesita em responder ao desafio, enviando, pouco depois da aclamação de Coimbra, uma expedição punitiva a Portugal. O resultado é a batalha de Trancoso em Maio, onde as tropas de João I obtêm uma importante vitória. Com esta derrota, o rei de Castela percebe por fim que necessita de um enorme exército para pôr fim àquilo que considera uma rebelião. Na segunda semana de Junho, a maioria do exército de Castela, comandado pelo rei em pessoa, acompanhado por um contingente de cavalaria francesa, entra em Portugal pelo Norte. Desta vez, o poder dos números estava do lado de Castela: Juan I de Castela contava com cerca de 30000 homens, para os apenas 6000 à disposição de João I de Portugal. A coluna dirige-se imediatamente para Sul, na direção de Lisboa e Santarém, as principais cidades do reino.

Cortesia de trekearth
Entretanto, João I e o Condestável encontravam-se perto de Tomar. Depois de alguma discussão, conclui-se que os castelhanos não podem levantar novo cerco a Lisboa, incapaz de resistir a nova provação. João I decide interceptar o inimigo nas imediações de Leiria, perto da vila de Aljubarrota. A 14 de Agosto, o exército castelhano, bastante lento dado o seu enorme contingente, encontra finalmente as tropas portuguesas, reforçadas com o destacamento inglês. O resultado deste encontro será a Batalha de Aljubarrota, travada ao estilo das batalhas de Crecy e Azincourt, onde a táctica usada permitia a pequenos exércitos resistir a grandes contingentes e cargas de cavalaria. O uso de archeiros nos flancos e de armadilhas para impedir a progressão dos cavalos, localizadas em frente à infantaria, constituem os principais elementos. O exército castelhano não foi só derrotado, foi totalmente aniquilado. As perdas da batalha de Aljubarrota foram de tal forma graves que impediram Juan I de Castela de tentar nova invasão nos anos seguintes.

Com esta vitória, João I foi reconhecido como rei de Portugal, pondo um fim ao Interinregno e à anarquia da Crise de 1383-1385. O reconhecimento de Castela chegaria apenas em 1411 com a assinatura do tratado de Ayllón-Segovia. A aliança Luso-Inglesa seria renovada em 1386 no Tratado de Windsor e fortalecida com o casamento de João I com Filipa de Lencastre (filha de João de Gaunt). O Tratado, que, ainda em vigor, vem a ser a mais antiga aliança do mundo, estabeleceu um pacto de mútua ajuda entre Inglaterra e Portugal.

Cronologia
1383
  • Abril, a princesa Beatriz de Portugal (filha única do rei Fernando) casa com o rei Juan I de Castela;
  • 22 de Outubro, O rei Fernando morre: a rainha viúva Leonor torna-se regente em nome de Beatriz e João de Castela;
  • Começa a resistência, liderada por João, Grão-Mestre de Aviz: vários castelos são ocupados.
1384 
  • Janeiro, João I de Castela invade Portugal;
  • Abril, os portugueses ganham a batalha dos Atoleiros;
  • Maio, começa o cerco de Lisboa; é enviada uma embaixada a Inglaterra;
  • Julho, uma frota portuguesa rompe o cerco de Lisboa, embora com pesadas derrotas;
  • 3 de Setembro, João I de Castela, retira-se para o seu reino;
  • Inverno, Nuno Álvares Pereira e João de Aviz subjugam cidades a favor de Castela.
1385
  • Páscoa, chegada dos aliados ingleses;
  • 6 de Abril, João de Aviz é aclamado rei nas cortes de Coimbra;
  • Junho, João I de Castela invade Portugal com toda a força, depois da derrota de uma expedição punitiva na batalha de Trancoso;
  • 14 de Agosto – Batalha de Aljubarrota, vitória definitiva de Portugal.
Complemento:
«D. Fernando estava envolvido em várias guerras com Castela, por se julgar com direito ao trono. No entanto, após algumas tentativas (1369 e 1381), assina em 1383 em Salvaterra de Magos um tratado de paz, que implicava o casamento de D. João I de Castela, com a sua única filha D. Beatriz. Neste tratado constavam ainda determinadas disposições respeitantes ao sucessor do trono de Portugal, para que a independência não fosse posta em causa. A crise deflagrou nesse mesmo ano com a morte de D. Fernando. O tratado de casamento previa que, enquanto D. Beatriz não tivesse um filho varão maior de 14 anos, a regência seria exercida pela rainha viúva, D. Leonor Teles. Aliados a esta situação surgiram outros problemas como a grave crise agrícola causada pelas más condições atmosféricas que deixava senhores e camponeses descontentes, a guerra e a peste.

Cortesia de juniorte
A rainha viúva tinha como conselheiro e amante o Conde Andeiro, situação que causou grande agitação entre os populares. Para impedir a perda de Independência que se adivinhava, Álvaro Pais planeia uma conspiração para matar o Conde Andeiro e para tal pede a participação do Mestre de Aviz. Após a morte do conde, D. Leonor Teles foi obrigada a sair da cidade e pede ajuda aos reis de Castela.
Temendo a invasão, o povo de Lisboa reconhece o Mestre como Regedor e Defensor do Reino e a burguesia apoia-o financeiramente de modo a suportar as despesas de guerra.
Esta situação divide o país:
  • de um lado o povo, a burguesia, uma parte da nobreza e do clero apoiam o Mestre de Avis pois temiam a perda de independência;
  • do outro, grande parte da nobreza e do clero que receando perder os privilégios não aceitavam o Mestre de Avis por ser filho ilegítimo de D. Pedro I.
Perante esta situação, a reacção do rei de Castela, que queria fazer valer os seus direitos não se fez esperar, ao decidir invadir Portugal e ocupando a cidade de Santarém. No Alentejo, a 6 de Abril de 1384, D. Nuno Álvares Pereira, venceu os castelhanos, utilizando a famosa táctica do quadrado, naquela que ficou conhecida como a Batalha dos Atoleiros.
O rei castelhano avançou e cercou a cidade de Lisboa, em 29 de Maio de 1384. No entanto, o povo não se rendeu e o cerco foi levantado, em 3 de Setembro do mesmo ano, quando D. Beatriz contraiu a peste que já atingia também os soldados. Após o regresso, D. João de Castela preparou um poderosíssimo exército para uma nova investida.
Cortesia de forum-numismatica
Perante esta situação, as cortes reuniram-se em Coimbra, onde se distinguiu o Doutor João das Regras, conhecido legista que provou, através dos seus discursos, que de todos os candidatos ao trono, eram por igual filhos ilegítimos. Assim sendo, competia aos representantes nacionais a escolha do rei, o qual devia ser o Mestre de Avis, pelas notáveis qualidades que tinha revelado. Este foi aclamado D. João I, Rei de Portugal. Ao tomar conhecimento desta decisão, o rei de Castela invadiu de novo Portugal. A 14 de Agosto de 1385, as tropas portuguesas novamente lideradas por D. Nuno Álvares Pereira, derrotam os castelhanos na batalha de Aljubarrota.
Finalmente, para garantir a independência e reforçar o poder de D. João I, os apoiantes do Mestre foram recompensados, ganhando a burguesia grande influência na vida política. A nobreza que apoiou D. Beatriz foi obrigada a fugir para Castela. Finalmente, assina-se um tratado de amizade com a Inglaterra onde os dois países prometiam ajudar-se mutuamente. Este acordo foi reforçado com o casamento de D. João I com D. Filipa de Lencastre. Para concluir, será importante assinalar a paz com Castela que foi conseguida em 1411». In História de Portugal.


Cortesia de História de Portugal/wikipédia/JDACT