quarta-feira, 30 de junho de 2010

Carlos Queirós: O poeta lúcido, rigoroso e límpido. Toda a sua poesia assinala certas formas criadoras de contradição vital que nela encontraram uma voz muito original e pura

(1907-1949)
Lisboa
Cortesia de wikipédia
José Carlos Queirós Nunes Ribeiro foi um poeta convivente de alguns dos fundadores de «Orfeu», mas seria, no entanto, a estética presencista que marcaria os seus primeiros poemas. Apesar das nítidas influências da revista conimbrense, sobretudo de José Régio, libertar-se-ia delas ao longo de um percurso de autor que, em vida foi exíguo do ponto de vista da publicação em volumes.
«Desaparecido» confirmou o poeta lúcido, rigoroso e límpido, que em revistas literárias se revelara, Revista de Portugal, Atlântico, Litoral, entre outras e que logrou um discreto mas seguro prestígio entre a geração e a que imediatamente se lhe seguiu. Após a sua morte, em Paris, surgiu «Poesia Completa», com inéditos extremamente significativos não só das constantes interiores da sua poesia, mas também da evolução e depuração dos seus processos literários em que se associavam ao classicismo um sentido intelectual de modernidade e ao pendor lírico a exigente temperança de uma vocação analítica. Com isto, uma nostálgica e desencantada visão do amor, do mundo e dos homens que, no entanto, não excluía, neste citadino de raíz e hábitos, uma instintiva intelecção, anímica e sensual, da natureza, da terra e do mar. Toda a sua poesia assinala, assim, na sua geração e para além dela, certas formas criadoras de contradição vital que nela encontraram uma voz muito original e pura. In Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura, 20 vols., secretariado por MAGALHÃES, António Pereira Dias; OLIVEIRA, Manuel Alves, 1ª ed., Lisboa, editorial Verbo, vol.15, 1973, pp.1506-1507.

O poeta Carlos Queirós define o segundo modernismo português e identificado como um dos grandes nomes da Revista Presença.
Desempenhou um importante papel na ligação entre o primeiro modernismo português identificado pela geração da revista Orpheu e o segundo modernismo da Presença. É Carlos Queirós, que por volta de 1927 estabelece a ligação ente Pessoa e a revista Coimbrã – Presença, dirigida por Gaspar Simões, Régio e Branquinho da Fonseca, no qual Pessoa veio a publicar diversos textos. É no número 5 da Presença (1927), que Carlos Queirós, juntamente com Fernando Pessoa e Almada Negreiros, inicia a sua participação neste periódico.
David Morão Ferreira no Prefácio do primeiro volume da Obra Poética de Carlos Queirós, refere que entre 1927 e 1937, ano em que Carlos Queirós, deixa de colaborar com a Presença, terá publicado nas edições que vão do n.º 5 ao n.º 49 cerca de 49 poemas e dois textos em prosa. Constituindo-se como um dos nomes de referência e de continuidade desta publicação.

Carlos Queirós, num número especial da Presença de homenagem a Fernando Pessoa, dá a conhecer os amores de Fernando Pessoa por Ofélia Queirós, sua tia. Publicando nesse número diversas cartas de amor de Pessoa escritas a Ofélia.
A participação literária de Carlos Queirós não se circunscreve somente à celebre revista Presença. Publica em diversas revistas e folhas literárias, tendo uma obra poética espalha por diversos periódicos literários:
  • revista Ocidente;
  • revista Atlântico;
  • revista de Portugal;
  • revista Momento;
  • revista Aventura;
  • revista Vamos Ler;
  • revista Litoral (dirigida pelo próprio).
Carlos Queirós publicou dois livros em vida,  o primeiro intitulado o «Desaparecido» em 1935, tendo o poeta 28 anos de idade. Foi «alvo» dos maiores elogios. Destaca-se a critica publicada por Pessoa na Revista Portugal. Pessoa escreve no primeiro parágrafo do seu texto crítico:

«A beleza do livro começa pelo livro. A edição é lindíssima. A beleza do livro continua pelo livro fora. Os poemas são admiráveis. Mas à frente no seu texto Pessoa prossegue,  não se pode dizer deste livro o que é vulgar dizer-se, elogiosamente, de um primeiro livro, sobretudo de um jovem: - que é uma bela promessa. O livro de Carlos Queirós não é uma promessa, porque é uma realização». In Revista. Portugal, n.º2 Coimbra, Janeiro de 1938.
O segundo livro publicado em vida, foi «Breve Tratado de Não Versificação», editado em 1948.
A obra poética de Carlos Queirós, pouco divulgada, está editada em dois livros pela Editora Ática. O primeiro livro tem como data de publicação 1984, intitula-se Desaparecido – Breve Tratado de Não Versificação, sendo a compilação dos dois livros publicados em vida por Carlos Queirós. O segundo livro tem como data de publicação 1989, intitula-se Épistola aos Vindouros e Outros Poemas, sendo constituído por uma colectânea de poemas dispersos, por diversas publicações da época e alguns inéditos, recolhidos por David Morão Ferreira, com a ajuda de uma das filhas do poeta.

Cortesia de wikipédia/JDACT