domingo, 20 de junho de 2010

Ary dos Santos: Poeta com personalidade entusiasta e irreverente, muitos dos seus textos têm um forte tom satírico, quiçá, panfletário e anticonvencional

Cortesia de mariafranciscabenedita

Soneto de Mal Amar
Invento-te recordo-te distorço
a tua imagem mal e bem amada
sou apenas a forja em que me forço
a fazer das palavras tudo ou nada.

A palavra desejo incendiada
lambendo a trave mestra do teu corpo
a palavra ciúme atormentada
a provar-me que ainda não estou morto.

E as coisas que eu não disse? Que não digo:
Meu terraço de ausência meu castigo
meu pântano de rosas afogadas.

Por ti me reconheço e contradigo
chão das palavras mágoa joio e trigo
apenas por ternura levedadas.
Ary dos Santos, in «O Sangue das Palavras»

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