sábado, 24 de abril de 2010

Maria Lamas: A «construtora» de uma visão nova e alargada do papel da mulher e da democracia

ruinepomuceno
(1893-1983)
Maria da Conceição Vassalo e Silva da Cunha Lamas foi uma escritora ribatejana, tradutora e jornalista portuguesa. Maria Lamas viveu em Luanda e em Paris durante alguns anos. 
Nas suas obras utilizou diversos pseudónimos como Maria Fonseca, Serrana d’Ayre e Rosa Silvestre.
Como jornalista trabalhou em diversos jornais e revistas, «A Joaninha», «A Voz», «Correio da Manhã», no suplemento do jornal o Século «Modas e Bordados”». Foi directora da revista «Mulheres».
A sua vivência de África reflecte-se no livro «Confissões de Sílvia».

Sendo o jornal ‘O Século’ um dos expoentes importantes da cultura portuguesa na época, Maria Lamas encontrou aí uma plataforma de trabalho propícia para a sua personalidade dinâmica e afirmativa e desenvolveu vários projectos, organizando conferências, concertos e exposições.
Tendo a mulher portuguesa como temática geral de fundo, ficaram, então, conhecidas algumas das exposições que promoveu e organizou, como por exemplo, a que apresentou teares do Minho, mesas de trabalho de mulheres como a Marquesa de Alorna e Carolina Michaelis, e onde recriou um conjunto de actividades femininas, ou a que foi a realizada com tapetes de Arraiolos fabricados pelas reclusas do estabelecimento prisional das Mónicas e que permitiu a estas algumas horas de liberdade, nos salões do «Século», para apreciarem os seus trabalhos. Sob o pseudónimo de Rosa Silvestre, escreveu obras infantis, como «Caminho Luminoso» e «Para Além do Amor», entre outras.
Em 1945, Maria Lamas é eleita presidente do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), associação fundada durante a I República e alvo de sistemática repressão pelo regime do Estado Novo. O CNMP permite que Maria Lamas percorra o país e conheça melhor a condição das mulheres. Dessas viagens nasce o livro «As Mulheres do meu País», que ficará como um referente histórico. Após esta obra publicaria ainda «A Mulheres no Mundo» e «O Mundo dos Deuses e dos Heróis».
A sua actividade libertadora de consciências e de identidade e de intervenção cívica era muita. Comunga ideais e actividades com corajosos portugueses oposicionistas. Nos anos 40, adere ao Movimento Democrático Nacional (MDN) e ao Movimento de Unidade Democrática (MUD). Participa activamente na Campanha do General Norton de Matos à Presidência intervindo sempre também em outras campanhas eleitorais. As suas actividades eram consideradas subversivas e o seu trabalho junto das mulheres foi considerado dispensável. Perseguida pela ditadura, presa, por três vezes, parte para o exílio, por duas vezes, em Paris, «uma cidade onde andar na rua é como andar numa universidade». No exílio, o mais longo durou de Junho de 1962 a Dezembro de 1969, muito depois dos 60 anos de idade, conhece um período intenso e solidário de cidadania democrática internacional, em tempos de Guerra Fria. Acolhia, participava e intervinha na generalidade das actividades da Oposição Portuguesa à Ditadura, tendo conhecido os maiores vultos políticos nacionais e internacionais do século XX.
Estátua alusiva a Maria Lamas, Torres Novas
laranjeira
Manteve, durante anos, a famosa coluna «O Correio da Tia Filomena», onde, dentro dos condicionalismos da censura, falava da condição das mulheres em Portugal.
As suas opções pessoais (a proclamação da República, acontecimento que referia como um dos marcos profundos da sua vida) e posicionamentos políticos valeram-lhe várias detenções ao longo da vida. A primeira teve lugar como consequência do seu apoio à candidatura do General Norton de Matos. É presa sob a acusação de propagar notícias falsas e pedir a libertação dos presos políticos. Esta seria apenas a primeira de outras detenções, que viriam a afectar profundamente a sua saúde e a determinar a sua condição de exilada política. Em 1946 participou no congresso que daria origem à Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM).
A partir de 1961, na qualidade de membro do Conselho Mundial da Paz fixa-se, em exílio, durante 8 anos na cidade de Paris.
Cortesia de mdmevora
Maria Lamas foi uma das primeiras pessoas a receber a Ordem da Liberdade.
Apesar dos seus oitenta anos, apoia ainda com todo o vigor a revolução do 25 de Abril, em Portugal.
Maria Lamas morre aos 90 anos de idade, em Évora.
Deixou na memória de todos a marca de uma personalidade rica, invulgar e influente, de forma duradoura, para a construção de uma visão nova e alargada do papel da mulher e da democracia.
Instituto Camões/JDACT

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