quarta-feira, 21 de abril de 2010

Cruz Malpique: Um escritor. Um Nisense com personalidade

Cortesia LAH1954
Ex libris de Cruz Malpique
Manuel da Cruz Malpique foi um um professor de renome e um escritor português que nasceu em Nisa. A sua família era numerosa e com algumas dificuldades, considerando que vivia da agricultura de subsistência. que vivia da lavoura.
Estudou em Portalegre e posteriormente «rumou» a Lisboa onde se matriculou na Faculdade de Direito e na Faculdade de Letras. Obteve as duas licenciaturas no ano de 1928.

Cortesia de concelhodenisa
(1902-1992)
Leccionou em Faro, Angra do Heroísmo e Luanda. No ano de 1948 tomou posse do lugar de professor no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, onde se manteve até se aposentar. De acordo com a dados reconhidos, nunca exerceu a advocacia. Escreveu numerosos livros, muitos dos quais não foram ainda publicados e encontram-se guardados na Casa Forte da Biblioteca Municipal do Porto. Ofereceu a sua biblioteca particular ao Liceu Alexandre Herculano, no qual existe uma sala com o seu nome.
Liceu Alexandre Herculano, Cortesia LAH1954 
A Câmara Municipal de Nisa atribuiu-lhe a Medalha de Ouro. Morre na cidade do Porto, aos 90 anos de idade, a Invicta que considerou como sua terra adoptiva.
Ainda muito novo, quiçá, um dos seus primeiros poemas, Manuel Alegre dedica as Rosas da Mocidade ao seu professor Cruz Malpique.
AS ROSAS DA MOCIDADE
(Coronemus nos rosis ante quam marcessant)
Ó rosas em flor da doce Mocidade,
Hoje vicejais, amanhã murchais!
Ai botões de rosa da santa idade,
Em que se vive ainda ao sabor dos pais!.

Gozemos,amigos, o feliz instante,
Destas rosas belas, a desabrochar!
Num dia futuro, não muito distante,
Vereis as florzinhas, tristes, a murchar...

Cantemos, cantemos, ao nosso esplendor!
Em taças de oiro, o furto da vida
Bebamos. A nossa alma pede amor,
Deixemo-la andar amando... perdida...

Andemos, que ela esvoaça depressa!
Ai rosas bonitas, que breves sois!
Chorarmos agora, ai, livrai-nos dessa,
Ó rosas viçosas que murchais depois!

Amigos, amigos, segui adeante,
Eu paro, que fico... que fico a chorar!
Gozai, que esta hora passa num instante,
É como uma noite de suave luar!

Vereis, depois, vir noites, noites infindas,
Que não passam nunca, que aborrecem sempre!
Olhai para estas rápidas e lindas,
Estas são assim, olhai... não duram sempre!

Ai rosas benditas, breves, talvez...
Ai rosas bonitas, que lindas que sois!
Vós brilhais um dia, mas uma só vez,
Vós brilhais um dia e murchais depois!.
Manuel Alegre Duarte (5.º ano)

A sua obra percorre campos tão diversos como a filosofia, segundo alguns o seu grande amor, a pedagogia, a análise biográfica, ou a psicologia, revelando uma elevada capacidade intelectual e um perfil de um homem humanista. Eis algumas das sua obras:
«Introdução à vida intelectual» 1934, (a sua tese de licenciatura, foi dedicada a Joaquim de Carvalho, «sábio professor da Universidade de Coimbra», a António Sérgio, com quem conviveu , «à sua inteligência clara e carácter íntegro» e a Carlos Moreira da Costa Pinto, o seu benfeitor;  «O Homem, centro do mundo» 1936; «Como se faz um escritor» 1939; «O homem de ciência» 1940; «Arte de conversar»1950»; «Psicopedagogia da Curiosidade» 1952; «Leonardo da Vinci, operário de inteligência» 1952; «O homem, glória e refugo do Universo» 1953; «Filosofia do Plágio» 1955; «Pão para a boca do homem» 1957; «Chávenas de café quase amargo» 1957; «Psicologia literária do homem do Porto» 1958; «Cervantes, cidadão do mundo»1964; «Perspectivas, dificuldades e heresias da Filosofia» 1965; «Sebastião da Gama, poeta de primeira água» 1965; ... «José Régio, alguns aspectos da sua biografia interior» 1971; ... «Perfil humanístico de Abel Salazar» 1977.
Que personalidade brilhante! Que mente prodigiosa! Que escritor notável de uma vila que também é Notável! Porque estará tão esquecido?
Um Nisense com personalidade.
Jornal de Nisa/concelhodenisa/António Viriato/LAH1954/JDACT

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