quinta-feira, 25 de março de 2010

Vera Castro: Homenagem à cenógrafa e pintora

(1947-2010)
Vera Castro com uma das suas criações para a produção Dom Quixote, pela CN de Bailado
António Pedro Ferreira
Vera Castro nasceu em Angola e foi uma artista plástica de enorme sensibilidade e delicadeza no trato. Na dança, no teatro, nas artes plásticas, na ópera e nos figurinos, nos cenários, na pintura. Vera Castro leccionou na Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC). 
De Olga Roriz a Ricardo Pais, passando por João Lourenço, José Wallenstein, Né Barros, Jorge Listopad, Filipe La Féria, Cucha Carvalheiro ou Rui Lopes Graça, Vera Castro trabalhou com os mais conhecidos encenadores, coreógrafos e compositores na cenografia e figurinos. Em 1993, o seu trabalho na peça «Estrelas da Manhã» mereceu-lhe o Prémio da Crítica de Cenografia.
Os desabafos do encenador Ricardo Pais: «Com pena minha só trabalhou comigo como figurinista e não como cenógrafa no Teatro D. Maria II e no Teatro Nacional São Carlos. Sempre me fez inveja o trabalho que fez para a Olga Roriz. Os figurinos de Isolda, 1990, Ballet Gulbenkian, em memória de Madalena de Azeredo Perdigão, são inesquecíveis. A amizade que nos uniu desde o primeiro dia de regresso a Portugal após o 25 de Abril é tão grande quanto a admiração que tenho hoje por ela».
O Ministério da Cultura manifestou a sua «maior consternação pelo falecimento da artista plástica Vera Castro, cuja actividade criativa foi amplamente reconhecida pelos mais prestigiados profissionais na área da dança, do teatro e da ópera em Portugal, destacando a sua actividade na docência, no âmbito da qual muito contribuiu para a qualificação de novos profissionais das artes».
Olga Roriz, amiga de Vera Castro há cerca de três décadas, sente ainda o peso dos figurinos de Isolda. «Foi o nosso momento de união profissional, foram aqueles belíssimos fatos – ainda hoje me falam daquela peça com os fatos vermelhos», recorda a coreógrafa.
Sendo sobretudo figurinista de teatro, Vera Castro vestiu Isolda de forma «mais preciosa», comenta Olga Roriz. A peça regressou na temporada 2008/9, desta feita ao Teatro Camões, pela mão da Companhia Nacional de Bailado, e para isso a coreógrafa andou, com Vera Castro, à procura dos fatos desaparecidos e a recolher outros para os repôr em cena. «Se tivesse trabalhado com outro figurinista, ir retirar o peso dos fatos, a dificuldade que era dançar com eles. Pesavam quilos, eram uma sensação de segunda pele e uma mais-valia à coreografia. Eram quase armaduras, dancei com eles e impunham-se na coreografia e na personagem», enfatiza.
Vera Castro também desenvolveu trabalho na área da pintura e o seu trabalho está na colecção do Ministério da Cultura e em colecções particulares.

A morte de Vera Castro foi anunciada pela ESCT em comunicado, onde se escreve que é «um momento de grande perda para a cultura em Portugal».
JDACT/Jornal Expresso

Sem comentários:

Enviar um comentário