quarta-feira, 31 de março de 2010

Augusto Gil: A Balada da Neve

Augusto César Ferreira Gil, advogado e poeta português, viveu a sua vida (quase na sua totalidade)  na cidade da Guarda onde colaborou e dirigiu alguns jornais locais.

(1873-1929)
Estudou inicialmente na Guarda, a «sagrada Beira» e na «bela cidade dos cinco éfes», de cuja paisagem encontramos reflexos em muitos dos seus poemas e de onde os pais eram oriundos. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra.
Começou a exercer advocacia em Lisboa. Mais tarde, foi Director-Geral das Belas-Artes. Na sua poesia notam-se influências do Parnasianismo e do Simbolismo. Influenciado por Guerra Junqueiro, João de Deus e pelo lirismo de António Nobre, a sua poesia insere-se numa perspectiva neo-romântica nacionalista.

Batem leve, levemente, 
como quem chama por mim.                 
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil
Os restos mortais de Augusto Gil repousam num Jazigo localizado à entrada do Cemitério Municipal da Guarda, onde podemos ler dois dos versos do seu Livro «ALABA PLENA»
«E a pendida fonte, ainda mais pendeu...
E a sonhar com Deus, com Deus adormrceu.»

trabalhinhosdavo/JDACT

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